terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MATO GROSSO

As cidades passam e poucas lembranças ficam de cada uma delas. O que marca em mim é o profundo calor, o marasmo das almas e minha profunda indagação sobre como é viver em cidades em que o grande agito é a sorveteria com mais de dez sabores e caldas à vontade.
A rotina é de cigano. Aprendi a nunca desperdiçar a possibilidade de um banho, seja quente ou frio. Aprendi a secar calcinhas e camisetas por detrás de minha canga que serve de toalha e que fica esticada na minha janela.
Aprendi a comer pouco e confiar no meu nariz.
Aprendi a caminhar sozinha pelas ruas, a sorver com cuidado, como se fosse bebida rara e boa, meus momentos de solidão.
Solidão é um dos bens mais caros para mim.
Minha rotina já se firmou.
Quando no ônibus sempre que posso estou ao lado do motorista. Uma, porque é lá que se fuma e os fumantes se revesam no assento do carona e outra, porque ele precisa conversar para que o cansaço não turve seus olhos e retarde seus instintos. Somos chapas por tanta estrada que vimos juntos, tantos mapas decifrados juntos, tantos cigarros divididos e, principalmente, tanta música de gosto duvidoso que cantarolamos juntos. To um tanto receosa porque depois de um tempo você começa a apreciar aquelas letras de cornos, aqueles gemidos em tom menor e acaba achando mesmo que existe poesia e sabedoria nas frases óbvias e rimas fracas. Precisarei de uma over dose de música quando voltar.
Paramos em muitos postos de estrada. Tomei banho em banheiros que nem minha imaginação poderia iventar tanta porquice. Aprendi a ver e ouvir com parcimônia. Descobri que meu corpo geme quando minhas pernas não se esticam e que a glória é uma massagem feita com vontade.
Ouvi galanteios novos nos pstos de gasolina e percebi que o povo que vive nas estradas ( como nós) são portadorers de todos os tipos de saudade. Saudade da casa, da família, saudade da sua terra, saudade do conforto, saudades dos amores.
Eu transito entre pontes que unem a saudade eterna e a curiosidade do que está por vir.
Mais interessante que as pessoas que encontro pelas cidades ( que mal posso degustar das suas diferenças ou semelhanças às minhas próprias mazelas) é observar as pessoas que divido a vida nesses dias todos. Cada um reage as interpéries de uma forma distinta. Cada pessoa pode ser dissecada como uma gafanhoto preso em uma alfinete porque n;ão existe espaço para se esconder quando se passa tanto tempo junto. Cada um aparece na sua forma mais autêntica. Os chatos sempfre serão chatos, os falantes falarão de forma descontrolada e os calados amargam no seu silêncio e o som que não sai deles me atordoa os ouvidos.
Eu tento manter o bom humor e quando sinto que estou no limite, sumo. Sumo dentro de mim quando é somente em mim mesma que posso me esconder e me recuperar. Às vezes chego a sentir os pensamentos alheios batendo em minha mente, tentando invadir meu porto seguro e é necessário todo o meu conhecimento para me manter imune a tanta saudade, irritação, nostalgia e excitação.
O Ônibus é a nossa casa e me sinto cigana. Lá dentro tudo acontece. Amores surgem e acabam. Lascívias escorrem pelos bancos, mudas e mancas. Ataque de bobeiras que me divertem e me fazem dar gargalhadas descontroladas porque não me sinto a única abestalhada neste mundo tão sério e chato.
Conheci outro personagemdo Du, o rodocomissário Joyce que tem língua presa, é absolutamente viado mas me xaveca com volúpia e quandio irritado diz que vai arranhar a cara todinha, só de raiva. Ele me tira o ar de tanto que eu rio.
Nasceu em mim um personagem também, Darcy. Darcy foi criado como menino até os dezessete anos e acredita que é homem , infelizmente não muito dotado de equipamento sexual. É motorista de caminhão, macho pra caralho e parceiro inseparável do Jair ( personagem da Loi), também caminhoneiro, chucro e tosco como um jegue surdo. Em algumas paradas fiquei com Darcy no corpo e é difícil fazer ir embora.
Talvez por causa disso o povo tenha se surpreendido com um ataque viado que eu tive enquanto tomava banho no rio Jauiri, no Mato Grosso, na cidade de Pontes e Lacerda. Era um rio imenso de águas marrom escura que desciam lânguidamente para algum lugar. As crianças da cidade, todas com alguns traços que lembravam os índios ou bolivianos ( já que estávamos quase na divisa) atravessavam o rio e subiam em árvores imensas e imponentes para se jogar lá do alto, matando nós, os forasteiros, de inveja e admiração por tanta coragem e destreza. Nesse dia eu não sai da água, nem fui almoçar com o povo para não perder nenhum precioso segundo daquele óasis. Estava lá eu, toda pderosa, meu óculos escuros, meu chapeú der lona na cabeça, meu biquini tomara que caia, ali, absolutamente largada aos prazeres do rio quando sinto uma mordida bem da doída na bunda. Em milésimos de segundo eu já estava berrando fino, me contorcendo toda e procurando apoio emAdriel que não entendia nada! Minhas porção mulher bicha se revelou de forma histérica e minha fama de corajosa além da conta caiu por terra. Aprendi que para nadar naquele rio eu teria que me manter em movimento para que os peixes não comecem a minha pouca bunda e que e devia manter os olhos sempre abertos porque ali tinha uma sucuri. Caguei pra sucuri. O calor era tanto que eu pfreferi dar de cara a uma sucuri do que derreter na sombra. Essa foi a cidade que eu mais amei ficar e sinto saudade daquele rio do Mato Grosso.
Uma das coisas que me impressionou nesse estado lindo é a quantidade de pássaros que cruzam nosso caminho. Araras azuis pousam em árvores nos vilarejos de beira de estrada e parecem que não percebem que seus dias estão contados porque a modernidade exige seu preço. Revoadas de papagaios, casais que voam juntos em perfeita sintonia, pássaros colorios,pescoçudos e pela primeira vez na vida lamentei nâo saber reconhecer a diferença entre um pato selvagem e um pica-pau. Os pássaros são quadros que voam e eu me alegro com eles.
Muitos animais mortos na beira da estrada. Vi um porco do mato, uma siriema, uma ema, uns quatro tatus, um jumento, várias cobras, uns dez cachorros e milhares de seres voadores que se espatifam no vidro do ônibus e eu cansei de rezar por eles. É um inseticídio generalizado e isso comprova que diante da violência nos acostumamos e banalizamos a morte, mesmo que de insetos e borboletas de asas amarelas.
Penso muito durante as viagens. Penso no meu futuro, no que fiz no meu passado,nas escolhas que equivocadamente abracei, nos homens que amei e que hoje são papel amarelado que eu jogo fora. Não são pensamentos doloridos ou tristes. São somente a comprovação simples e crua que a vida tem uma força imensa e a morte pode ser subjetiva, mas ainda assim inevitável.Mas a morte nunca será mais poderosa que a vida e eu prefiro os poderosos de espírito.
As apresentações estão cada vez melhores, acertadas durante a viagem. Muitas vezes nos maquiamos no meio das ruas, nas praças e isso já é um evento. Acho que tem muita foto minha com metade da cara pintada e a bunda meio de fora.
Aliás, depois de um tempo você caga e anda çpra esse negócio de ter gente te vendo de calcinha, de sutiã, trocando de roupa. A certeza de que ninguém te conhece e muito improvavelmente vai voltar a te ver, te liberta de muitas amarras sociais. Por exemplo, joguei sinuca em um boteco vagabundo, cheio de homem chucro, de shorte, caqmiseta, sandália havaiana e a cara totalmente pintada, de cílio postiço e tudo, fazendo hora até ser chamada para começar a me trocar.
Falando em sinuca, esse é o çpprograma mor. Estou melhorando meu estilo e no final desta temporada serei o cão de calçolão na sinuca. Quando ganhei do Negão ( motorista) no melhor de três e não resisti à tentação de tirar uma da cara dele, mexi no orgulho dos machos nativos e tive que jogar com todos eles e perder porque parece que levar um pau de sinuca de uma mulher é uma coisa muito, muito vexatória. Perdi com a elegância das minorias e com a sabedoria do meu gênero. Saí rebolando e não paguei nenhuma das fichas. Afinal, quem perde que pague. Mas se eles se ofendem tanto assim quando perdem, eu deixo eles ganharem mas eles é que paguem não só as fichas ( 50 centavos) como as cervejas que bebi junto com eles.
To virando uma sinuqueira e bebedora de cerveja vespertina. As tardes que precedem os almoços são dedicados a esse hobby. Já tomei porres homéricos as três da tarde e estava sã e salva as oito da noite para poder me apresentar.
Tenho um pressentimento que cairei no palco. Aquele salto é assassino e alguns colchões que servem de proteção para o povo do circo sempre me fazem tropeçar. Na última apresentação cheguei a balançar e somente meu extremo controle adquirido na yoga me fez manter o eixo e voltar ao meu centro. Algo me diz que meu extremo controle não é tão extremo assim e eu dia me estabocarei no chão. Decidi que cantarei lá mesmo, no chão, sem dar banxdeira que caí.
Esxtamos agora na última cidade do Magto Grosso do Sul. Alteramos o cronograma e iremos para Chavantes, São Paulo, e só depois seguiremos para o Rio Grande do Sul.
Hoje eu vi que lá as coisas estão úmidas e perigosas e a idéia de dividir um ôbibus nessa umidade me dá vontade de chorar.
Quase n;ão tenho acesso a internet e por isso não consigo vir aqui sempre e também não consigo escrever no note porque a disputa para carregar os celulares e lap tops é ferrenha. Mal escrevo mas, por outro lado, estou compondo e isso me deixa feliz.
Filhotes, penso e falo sempre de vocês.
Carô, minha pereba curou no rio do Mato Grosso e eu to ótima. Nunca estiva tão Rainha de Copas e agradeço minha natureza bélica e meu sangue frio.
Silvia, cuide dos meu meninos , tá?
Juju, seus telefonemas são a minha conexão com a realidade. Adoro.
Volto assim que puder.
Dem uma olhada no site do TT.
www.teatrodetábuas.com.br

BEIJOSSSSSSSSSSSSSSS

9 comentários:

Anônimo disse...

TATIII! Assisti o Auto de natal aqui em porto esperidião... aah! se nem falo daqui neah! mas então vim te fazer um convite: quer ser minha mãe? Zueraaa =P Eu toco um cadim de violão e decidi que depois de me transformar em algo que meus pais esperam que eu me transforme - se tá ligada nesse negocio de carreira e tudo mais (o que eu não acho ruim, mas tbm não vejo emoção)- eu quero ser como vc! =D bem não vou falar "quando eu crescer" por q eu tenho 16 anos e meu pé é nº 34 então... ah! creio que transmeti o meu "propósito" huahua... tah pra finalizá acompanha meu blog aí: http://conlusoes.blogspot.com/ : ]
e no mais te love ^^' inteh bju... ah! me acc lá no orkut inteh.

Julielen Florentino
(a menina da lan house)
Porto Esperidião/MT

Carô disse...

Querida, que saudades de você e que bom ter notícias!!! Fico feliz com a perna boa, mas aflita com as canções. Sabe que pensei nisso quando você foi? Se em uma semana na chapada você e Juju estavam achando o breganejo lírico esse tempo todo me apavora!!! Vamos combinar que você não vai aceitar drogas de estranhos e trazer CDs duvidosos pra casa? Vou deixar o Rafa de prontidão, se for necessário atitudes mais drásticas, hahahaha
Beijos, muito e muito saudentos
(PS: esse peixe não era Piranha?)

Marina F. disse...

Que lindo isso, amiga. E esse comentário aí de cima, que coisa mais fofa. Beijos pra vc!
Má F.

Anônimo disse...

tatii... acho q o nome do rio é JAURU JAUIRI huahua dah uma consuRtada no google ae inteh...

Ju Hilal disse...

Ai Jesus, essa mulher vai voltar gostando de breganejo, já vi tudo.
Carô, faça alguma coisa!!!!
Da próxima vez que eu te ligar a gente vai ter uma conversa muito séria sobre isso, dona Tati.
Adorei o texto, as histórias...
Não vejo a hora de ver esse Auto de Natal aqui em Campcity e de jogar conversa fora na sua cozinha até clarear, cozida no vinho.
Eita, mulher.
Beijos

Luli disse...

Tati, é libertador ler os textos desta jornada. Saudades, amiga!

Alan Paskal disse...

Aventura alimenta a alma.

Vivien Morgato : disse...

Eu sou medrosa demais. Já to com medo só de ouvir a história.
Um grande beijo e sorte por ai.

edna R. disse...

Meu Deus!!! Vc tá no meu estado???
e a Cuiabá, quando passa?
Beijos,
Edna.