quinta-feira, 30 de abril de 2009

É chegada a hora

De certa forma eu me calei. Calei toda, me fechei, passei cadeado, travas. Fiquei dentro de mim mas continuei olhando a vida como quem fica olhando pela janela. Observando tudo. Aquilo que passava fora e aquilo que passava dentro me causava assombro e deslumbre,raiva e alegria, tristeza e esperança, mas eu só olhava. Não era a hora de sair.
Ontem, revendo o filme Frida Kalo, senti saudade de mim. Aquela eu visceral e transloucada, a exposta, a que não ficava na janela calejando os cotovelos. Senti saudade de estar do lado de fora, berrando cores por todos os lados, escorrendo notas, melodias, sangrando desavergonhadamente. Senti saudade de ser o que sempre fui. Meu coração quer voltar pro varal da minha alma, quer ficar ali, pendurado, balançante, pingando tudo que eu vi e vivi.
Não foi em vão meu tempo de janela.
Aprendi demais sobre mim e sobre a natureza humana. Me irritei com alguns, sofri de tédio, bebi saudade em goles sôfregos, tremi de delícia, chorei baixinho, gargalhei alto, bisbilhotei as casa alheias. Fui enchendo meu baú com tudo que senti. Algumas dores que vi já foram minhas. Sofri junto e me vi igual a todo mundo.
As dores do mundo são sempre as mesmas e eu, artista que sou, tenho a obrigação de cantar para o coração do mundo. Cantar o que se passa dentro de minha casa-alma e também de contar tudo que eu vi durante minha estadia na janela da vida porque a música é empatia e minha canção pode ser a ponte.
É chegada a hora de começar outra vez. Meu tempo mudou.
Devassada, exposta, sangrenta, honesta, morta e renascida.
Essa sou eu.
Essa que eu sempre fui.

5 comentários:

Sandra Maria disse...

Venha! Venha linda, forte, cheia de vida, escrachada ... como sempre.
Bjs!

Unknown disse...

"Quando eu mudo em mim,o mundo muda para mim ".
Seu blog é sempre uma surpresa boa .

Marina F. disse...

muito lindo este texto, estou passando por um processo parecido, tu és sempre uma inspiração!
grande beijo!
(vem pra cá neste findeeeeeeeeeeee).

Anônimo disse...

Ahe baba!

Gui Dante Benevides disse...

Me senti fazendo parte de ti ou ti de mim? Num sei. Como diria o carinha lá do Auto Só sei que foi assim...
Háquilo!