quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

montanha russa

É...eu na minha montanha russa particular.
Não sou instável mas me deixo ir quando o momento é de descer também. Desço sentindo o vento na cara e aquela sensação no estômago. De certa forma, é até gostosinho. Mas temporário. Tudo é temporário nessa vida. Até essa sensação de vazio, de casa vazia, de falta de vontade de fazer alguma coisa.
Meus bichos, sentindo minha tristeza, ficam comigo, me seguem por onde eu vou. Agora tenho um gato branco meio maluco passeando por meu colo e esfregando um rabo peludo em meu rosto. É a forma dele de me fazer companhia. Até no banheiro me acompanha e se diverte tentando beber os pinguinhos de água que insistem em pingar da torneira. Me faz rir com este hábito adquirido na sua antiga casa. Gato maluco.
O dia é cinzento e não me ajuda em nada. Cinza por todos os lado, dentro e fora de mim. Cadê o sol? Quem será que esconde o sol só pra si? Egoísta de merda...
Voltei e confesso que não tenho vontade de sair por aí, muito menos de cantar na maioria dos bares que canto. Já sei como é, não tem mais aquela expectativa, aquele tesão. Me sinto uma puta muito velha olhando as meninas novas entrando nessa vida e eu só posso balançar a cabeça e me calar. Conheço cada bêbado de cada bar, mesmo que nunca o tenha visto. Conheço cada dono de bar, cada garçon, cada casal apaixonado, cada solitário. Só mudam os rostos mas a história é aquela que sempre se repete. Eu me repito.
Minhas angústias são tão minhas que não encontro ninguém que possa sentir empatia real porque o que está me corroendo - além da saudade, do ninho vazio mas isso é uma coisa que eu resolvo porque já, já passa - é aquela sensação muito minha de que alguma coisa dentro de mim precisa sair, alguma canção órfã está me chutando as costelas por dentro, me arranha a face, puxa meus cabelos. Eu sei que ela precisa nascer. Não só ela, mas tantas outras que estão unidas, como vagões de um trem. Esse trem tem um destino que é o coração do outro. Mas o caminho que esse trem faz, as paisagens que eu preciso passar, os sons que eu preciso buscar, as palavras...ahh, as palavras que rodam minha cabeça, que me assombram, pedaços de frases, pedaços de versos, pedaços de melodias que esbarram em mim e eu me atordôo e não consigo juntar as peças.
Sim. Esse é o sofrimento do criador. Estou em profundo sofrimento que antecede uma fase nova de criação.
Nenhuma música que fiz diz o que eu quero dizer hoje. Não é isso. É quase isso.
Me pego com uma idéia abstrata me perseguindo, como naqueles desenhos animados que alguém anda e uma nuvem cinzenta acompanha. Eu estou com uma imensa nuvem cinzenta me acompanhando. Uma nuvens de músicas não paridas. Uma nuvem de emoções que não foram transformadas em notas, em pausas, em som.
E eu preciso fazer isso.! Preciso tanto como preciso de ar, de sol, de água. Preciso porque essa é a minha missão: dar som e cor às emoções porque tem muitas pessoas nesse mundo que precisam dessas emoções em forma de som para que possam sentir, para que possam organizar, aliviar, perpetuar. Essas pessoas não sabem fazer isso. Eu sei. Eu sei.
Preciso sentir a vida de verdade. Viver mesmo. Sentir as dores, as alegrias, a força da ira, a delícia da carne, a esperança e o desalento. A saudade do começo e o alívio do fim. Preciso passear por todas as emoções humanas porque se eu naõ fizer isso, como vou poder dar voz a elas? Como? Como conseguir dar voz à voz do mundo, da alma do mundo, da alma das pessoas, todas as pessoas? As pessoas normais, comuns que no fundo não são nem tão normais, nem tão comuns. Pessoas, como eu e você. Como todo mundo que sofre, ama, chora, ri. Pessoas que precisam de todas as músicas do mundo pra conseguir manter o coração morno e a alma fresca.
E eu aqui. Perdida dentro de mim mesma, necessitando botar pra fora tudo que está dentro de mim mas que também está dentro de todo mundo.
Na verdade, não crio nada. Só traduzo.
E agora me sinto sem saber por onde começar, o que dizer,o que realmente importa dizer.
Então, as coisas todas que já fiz são coisas que eu já fiz. Não são coisas que eu preciso fazer. Daí meu tédio e minha falta de vontade de me repetir.
Mas a vida me bate na cara em um dia cinzento, de casa vazia. Me obriga a sair e a enfrentar a rotina porque isso também é vida e se é ela que eu tenho que enfrentar, que comece logo essa batalha.

8 comentários:

N. Calimeris disse...

Minha amiga de blog, sinto essa penúria do ninho vazio, da angústia que quer ser criada, do ser que se revolve na terra para irromper e o cinza corrompe... um raio de sol faz falta, um pequeno, minúsculo raio de sol. Sei o que dizer, é quase como alcançar o céu com as pontas dos dedos e voltar para a terra sem ter conseguido de fato. Mas é assim mesmo. Vamos sendo humanas e vivendo.

Lady tanásia disse...

Eu te acompanho tanto pelo blog,que me sinto como tua amiga.Posso te chamar de amiga?????
O cinza não combina com você,te vejo como uma pessoa iluminada,VOCÊ É O SOL em pessoa...
E tem mais,falas de falta de inspiração...eu não entendo de composição mas,tuas postagens são verdadeiras composições.Dá uma olhada nesta Montanha Russa eu vejo música em cada pedacinho!!!!!
Leia com atenção apartir do parágrafo :O dia é cinzento.....
Um abraço,
Lady

Sandra Maria disse...

É muito chato ter uma vida linhear ... Não se preocupe, voce é mulher de fazer acontecer.
Espere só mais um pocadinho ... vai acontecer.

Tatiana disse...

Georgiana
Vamos vivendo sim! Mas vivendo bem, né?
Assim que essa chuva passar eu fico mais animadinha. Esse cinza é que me ferra!

Tatiana disse...

Lady
Sorri aqui com seu comentário.
Obrigada, amiga.

Tatiana disse...

Morena
Tô "perando". Tô "perando"!

Zé Luiz Soares disse...

Tatiana,

estou no mesmo processo que você, cansado de fazer as mesmas coisas, ainda que nossas vidas pareçam, pra muita gente, super-empolgantes.

Mas já estou cuidando de mudar isso, radicalmente...rs

Vamos falar sobre seu show no Villaggio por e-mail? Me escreva, pra villaggiocafe@terra.com.br, e combinamos.

beijo

Viviane Guerra disse...

Era como se fosse eu falando (escrevendo?).
Pena que ainda não sei falar (escrever?) assim.
Um dia eu consigo. Enquanto não dá, vou "me" lendo nas suas palavras.