sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A substanciosa simplicidade masculina

Olho um tanto surpresa, confesso, o transitar masculino pela casa.
Martelo em punho, facas cortando os matos velhos, a feliz virilidade suada dos machos em ação, suor correndo, palavrões soltos se unem aos meus próprios, o batente da porta que eu um dia arrebentei aos chutes sendo ameaçado de morte pelo varão que na casa vagueia, aquela inquietação saltitante que antecede a próxima batalha, aquela mão que esmirilha a lâmina e nem sabe que molda também em mim uma nova fase.
O mundo masculino é só testosterona em conta-gotas no meu chão.
Engraçado conviver outra vez com um homem sendo que não é meu homem, nem meu filho, nem meu nada.
Um convidado especial que prega as coisas soltas, que cozinha pra mim em temperos masculinos enquanto eu somente canto e observo, chora em meu colo pelo mínimo tempo da minha paciência para choro vão. Leva as bordoadas que eu mesma distribuo com orgulho de guerreiro. Nem geme. " Tá certa, tá certo" diz e eu me apiedo e coloco no colo mais uma vez pra logo depois mandar deixar de frescura porque agora já deu.
Sorri com minha feminilidade máscula e objetiva. Diz que aprende comigo a ser aquilo que não é.
Mas é também.
Passeia pela casa, semi-nu, dorso ao vento, cantarola canções desafinadas, me agarra pelas costas, me joga pro alto, me vira de cabeça pra baixo no meio da rua, eu agora sou malabarista pendurada em seus braços, meus pés rodando nos céus, provoca intensas gargalhadas em meus passos de acrobata amadora.
Ouve meus poemas nunca lidos em voz alta. Chora com eles e me fala que sou poética na vida e eu confesso que me surpreendo com a minha nova poesia cotidiana. Escorro em poemas que nascem da vida cotidiana que me arrebenta as janelas e invade o corre corre do dia a dia.
Um palhaço que me olha e o que eu vejo é a minha imagem, só que por trás da maquiagem. Eu também choro por detrás da maquiagem mas ela nunca escorre. Ver tantos pingos em minha volta me ajuda a umedecer meu peito tão firme e rijo. Meu peito é um pau duro e rígido. Meu peito é a intenção da porra que explode. Meu peito é um vulcão com lava quente e ele é um vulcão em erupção. Meu peito é um pinto e seu peito é uma caverna do dragão.
No varal uma cueca ri de minha cara. Cínica.
No banheiro uma escova estrangeira se faz íntima e estridente. Me sacode os ombros. Me cutuca as costelas.
Um homem passeia por minha casa.
Parece filho, mas não é.
Parece amante, mas não é.
Parece frágil, mas não é.
Parece meu e assim é. Meu amigo. Meu querido. Meu novo parcerio.
Um novo homem entra nessa casa de uma forma que nenhum outro entrou.
E vê-lo em sua masculinidade básica é um alento para minha complexa alma feminina.
Poder demostrar afeto sincero sem as complexidades das relações modernas é realmente um alento pra esse couro de guerreira.
Te disse que cantaria seu grito de vitória e hoje, debaixo da jabuticabeira, tomaremos as cervejas do sucesso e da reviravolta.
Da sua vida e da minha.
Porque tudo não pára de mudar e surpreender.

3 comentários:

N. Calimeris disse...

Wow! Desejo muitas felicidades e eternidades!

Unknown disse...

hummmmmm......

Sandra Maria disse...

Perfeitamente .....sei!