sábado, 18 de outubro de 2008

Saber ...

Nos últimos tempos tenho exercitado a elegante atividade do recolhimento.
Aprendi a não atender o telefone quando não quero falar com ninguém. Pode tocar, pode apitar, pode fazer o que quiser porque eu não irei atender. Quem me conhece mesmo manda email, torpedo, liga em casa, em meu celular, no outro e espera eu dar retorno. Se eu demorar mais de três dias, melhor se preocupar porque eu posso ter morrido.
Não atendo a porta se não estou a fim.
Meu direito à solidão, à depilação à pinça na virilha, máscara de argila na cara, touca térmica na cabeça ou, simplesmente, o ócio descarado.
Tem dias que estou feliz assim.Comigo e só comigo.
Tem dias que não estou feliz de jeito algum. Pra que dividir minha amolação?

Aprendi a pedir arrego.
Me ajuda aqui que está ficando pesado.
Dá um trato em mim?
Posso comer em sua casa?
Me ajuda?
Muito bom isso e eu não sabia fazer direito.
Me deixar dengar, cuidar. Fechar os olhos e permitir que outro decida, que outro faça, que o outro pegue.
Deixar.
Estou aprendendo a deixar. Deixar ir e deixar vir. Deixando coisas do lado de fora. Deixar de dar importância a coisas que eram importantes antes. Deixar nascer e deixar morrer. Deixar sair.Deixar entrar. Simplesmente deixar.

Estou aprendendo a calar (!). Posso continuar sendo um metralhadora mas muitas frases são trancadas antes de tomar o mundo. Muitas das coisas que vejo ou vivo são transformadas em mistérios porque assim o poder fica maior e mais concentrado.

Estou aprendendo, outra vez, a sonhar acordada e mudar o final da história.
Magia de mulher que fia de dia para desfazer á noite. Pénelope em vez de Pérsefone.
Fogo em vez de água.

E meu fogo tem dias de brasa morna que eu nem cogito levar próximo do vento.
Porque se o vento acende a brasa, viro labareda. Saio por aí queimando à relevia, faço estragos e queimadas.

Tô brasa recolhida mas não é pra se deixar enganar.
É só uma época passageira porque a minha natureza é vendaval, é labareda alta, é tempestade sobre o mar, é raio cortando os céus.
Mas agora é hora de quietude porque antes de uma grande tempestade a natureza se reserva.
Minha natureza não poderia ser diferente.

Um comentário:

Vanessa Anacleto disse...

E eu não sei? Logo, logo o vulcão acorda.

Beijos, bom fim de domingo.

PS. vê se aparece!