domingo, 19 de outubro de 2008

Cantoria

Meu sertão é nordestino como é sertanejo um pedaço grande de meu coração.
Não esse sertanejo de hoje, uma imitação do caubói americano, esse monte de canção de corno de pouca profundidade.
Meu sertão é de chão rachado, de terra vermelha e seca. Meu sertão é de vaquejada, de chapéu de couro, de vaqueiro.
Meu sertão é Elomar e Xangai com sua riqueza harmônica, sua vozes sofridas, sua poética rica.
Meu sertão é de embolada, de viola chorando seco.
E quando eu ouço os meus sertanejos meu peito se aperta porque me lembro lá da minha terra, das minhas andanças por tanta chão, das montarias pegando boi no pasto, eu, menina da cidade, encantada com tanta força e fome.
Meu sertão não tem bota com prata na ponta, nem cinturão. Meu sertão é botina e corda. Meu sertão é sem frescura e sem maquiagem.
Meu sertão é de couro de boi, de viado, é de cara marrom de sol inclemente.
Meu sertão está em mim nesse meu coração trincado com jóias de açude doce, olhos d'agua que brotam no meio do desalento. Meu sertão é poesia em noites de céu estrelado. É valentia de nordestino que traz na alma o risco da faca amiga.
Meu sertão não é esse que eu vejo na televisão.
Meu sertão é a voz dos mestres que cantam a sua cantoria e meus olhos enchem de água e eu peço aos céus que ela escorra e molhe, lá longe, os pés de meus irmãos.
Acho que meu sertão está só em mim.

Um comentário:

Eduardo disse...

Quanto texto bonito! Tá toda poetisa!! Que este recolhimento se prolongue. Saem ganhando nossas leituras.