terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sim. Deu tudo certo como eu sabia que ia dar. O nervoso normal de estreia com direito a todos os contratempos esperados ( mas jamais aceitos por mim) passou.
Dormi pouco ontem. Quatro horinhas e isso é uma coisa que judia de mim. Ficar sem dormir é o que come minha voz. Agora to rouca como um corvo. Mas feliz.
Nunca tinha cantando com microfone red set - aquele que fica apoiado na orelha - e o técnico tinha me avisado antes de começar que ele era uma bosta.
Não. Ele não falou que era uma bosta, ele só fez uma cara de quem tá recebendo uma dedada no fiofó quando eu disse que ia usar o tal.
Realmente, faltou pancht pra cantar e eu senti falta do peso da voz nos monitores e assim, pra compensar, soltei a voz.
Um garotinho chegou pra mim no fim da apresentação e perguntou: " Você canta ou berra?"
Olha só pirralho! Que pergunta auspiciosa!
Respondi, entre indignada e divertida: " Eu canto e berro, quando preciso. Você canta?"
Ele me responde que não balançando a cabeça.
" Viu? Sei mais que você..."
Ele achou minha resposta ótima, riu mostrando um sorriso banguelo e me deu um beijo melado na bochecha.
Me ferrei, mas foi lindooooooo!
É realmente impressionante a minha capacidade de reinventar as letras que eu mesmo fiz. Caso me perca - e vivo me perdendo - invento uma outra letra com a maior cara de pau.
Gente, eu sou um engodo!!! hahahahhahaha E o pior! Ninguém percebe.
A banda estava tão sintonizada comigo que mesmo quando eu fazia uma merda, eles iam comigo na minha merda e a coisa parecia perfeita.
Cada ensaio feito valeu!
Quando eu estava apresentando a banda, os instrumentos e alguns ritmos - uma cena ensaiada com a intenção que as crianças " ouvissem" cada um deles - me empolguei e resolvi improvisar convidando a criançada para vir sambar comigo. Coisa mais linda ver um bando de criancinhas de sete, oito anos se acabando de sambar junto comigo. Imagine um bando de Lula Lelé sambando em velocidade alucinante. Éramos nós!
Adorei, adorei e adorei.
No fim desta apresentação eu estava suada, cansada mas com um sorrizão besta na cara. Todo mundo assim, a banda toda, os bonequeiros, a equipe de som, os produtores. Todo mundo rindo à toa, se abraçando e dizendo " foi do caralho, foi do caralho".
Foi mesmo.
Saimos pra almoçar. Catorze pessoas dentro do furgão do som que não tinha uma única cadeira. Parecíamos um bando de gado sendo transportado e eu confesso que adorei aquilo!
Voltamos para a segunda apresentação que seria só as quatro da tarde. Bateu um bodão daqueles em todo mundo e o chão do camarim que arranjaram pra gente ficou coberto de corpos caídos, exaustos da maratona da noite anterior. Eu, com direitos adquiridos, peguei pra mim o privilégio de dormir sobre duas mesas de crianças e cheguei a sonhar.
Quando acordei eu simplesmente estava rouca. Tim Maia cantaria fino como uma soprano perto de mim. O esforço com o red set exigiu seu preço.
Lá fui eu fazer todos os exercícios que a fono milagrosa me ensinou. Depois de meia hora de trabalho intenso, entre a maquiagem, os alongamentos e as bobagens de camarim, já achava que podia cantar mas abri mão da engenhoca que me deixa com as mãos livres e voltei ao velho e bom microfone shure sem fio.
A segunda apresentação contou com uma equipe cansada mesmo e ainda meio de bode mas, em compensação, a galerinha que estava assistindo era animadérrima. Tanto que quando eu chamei a molecada pra sambar, meia platéia veio! E eu fiquei com o pepino de controlar um monte de sambista mirim animadérrimo!!
Quando eu fui apresentar os instrumentos e o baixo começou a solar a galerinha pirou! Nunca vi isso! Eles enlouqueceram com o suingue que o baixo tem. A guitarra causou gritos histéricos. O teclado fez algumas bocas abrirem e quando a percussão entrou no som, eles piraram de vez! Piraram! Um bando de criança do ensino fundamental enlouqueceram com o som! Muito doido isso, né? Tinha até um moleque miudinho fazendo umas coreografias de rap, cheio de caras e bocas. Precisava ver!
Será que nessa idade eles já usam algum tipo de droga? Ou será que é só mesmo o poder da música? Impressionante.
Fazia muito tempo que eu não atuava e é como andar de bicicleta. No fundo da minha mente estavam todas as informações ocultas. Posicionamento. Aproveitamento de espaço cênico. Interação com os bonequeiros. Ligação com o público. Felicidade de estar ali. Riso quando dá vontade de rir. Olhar no olho do mundo. E confiar na força das músicas, na capacidade dos profissionais que estavam ali.
Muito massa.
No fim deste espetáculo eu já era uma ameba suada, fedorenta, feliz, risonha e com câimbra na boca de tanto dar beijinho em criança. Tive medo de ter um ataque de emoção e choramingar por lá, achando tudo lindo, essas coisas de mulher em TPM. Mas não aconteceu. Fiquei firmona.
Domingo estaremos em um outro lugar e eu ouvi de várias professoras que elas iriam levar seus filhos, seus sobrinhos, todo mundo que pudessem levar.
E eu fiquei aqui pensando que quando o espetáculo estiver realmente " azeitado" vale à pena levar para um teatro.
Aí sim a coisa vai pegar.
Tô mais calma.
Mas sei que ainda tem muita coisa pra acertar até que a gente possa dizer que o show está mesmo do cacete.
Mas para uma estreia, do jeito que foi, foi realmente do cacete!
E eu to de resguardo vocal.

3 comentários:

Menininha bossa-nova disse...

Hehehe, com um solo do Fidélis, até eu fico de boca aberta, boba.

Microfone assim é mesmo uma bosta... Tentamos falar com vc ontem, mas nada, necas de pitibiriba. Tá viva, é?

Beijão!

Tatiana disse...

Semi!
Vamos comemorar hoje?

Ronaldo Faria disse...

Pelo que li, concordo: "Foi do caralho!" E isso é que dá vida...
Do seu ainda fã, sempre.
Ronaldo Faria
Cuide-se. E beijo.