domingo, 18 de maio de 2008

meu show da virada

Bem que eu tentei assistir o Mawaca, mas a fila literalmente virava quarteirão e eu que detesto qualquer tipo de fila, resolvi ver o grupo Ilú Obá de Min.
Pelo que eu entendi ILù significa tambores, OBÀ é águas femininas e DE MIN é alguma referência a Xangô. Ou seja, esse nome é alguma coisa como mãos femininas tocando para Xangô.
Imagine um grupo de vinte mulheres tocando percussão. Todas de branco, com panos na cabeça, cordão de cipó nos braços, como se fosse um contra-egun, saias rodadas. Tocavam djambes, xiquerês, agogôs, caixas. Lindas, absurdamente lindas. Cantando, duas negras com túnicas de padronagens africanas, suas cabeças também envoltas em panos formando aqueles turbantes africanos. Vozes graves e fortes, vozes velhas como a África. Um grupo de dança entra junto, cada bailarino vestido com as roupas de um orixá.
Oxaguiã, Oxalufã ( oxalá jovem e velho, respectivamente), Omolu, Obá, Oxum, Oxossi, Ogum, Ossaim e, para a minha surpresa e encanto, uma Iansã dançando em pernas de pau.
Uma imagem impressinante essa. As cantoras sobre o palco cantando os pontos dos orixás, as percussionistas descendo a mão.
Lindo. Uma coisa realmente linda.
As percussionistas e os bailarinos no chão, perto de nós que assistíamos.
Ali havia sim uma força, uma energia forte.
Conforme os orixás dançavam eu ia explicando quem eram. Ogum, deus da guerra, da luta, guerreiro que lida com os metais. Ogunhê, meu Pai!!
Oxossi, rei das matas, livre e orgulhoso. Oxum, deusa da beleza e dos rios e cachoeiras. Linda e maliciosa, perigosa como um sereia. Obá, inimiga de Oxum, foi enganada por ela e cortou a própria orelha para ofertar ao seu marido, Xangô. Ossaim, o curandeiro, aquele que lida com a força das ervas . Omulu, coberto de palha para cobrir as suas chagas, aquele que é chamado o médico dos médicos, aquele que cura mas que também traz a desgraça e o sofrimento. Iansã, deusa dos raios e das tempestades, deusa guerreira. Eparrêi, Oiá!
Eu ali, dançando cada ponto, tentando cantar junto os pontos dos orixás. Às vezes, me dava uma emoção e eu sentia que estava prestes a chorar. Cada orixá que dançava eu pedia. Meu Pai Ogum, esteja ao meu lado nas demandas e que eu saia vencedora. Minha Mãe Oxum, lave com suas águas as minhas tristezas. Oxalá, ô meu Pai Oxalá, me dê sabedoria e discernimento. Oxossi, que minha alma não seja domada, meu pai. Omulu, proteja meu corpo das doenças.
E assim eu ia, dançando e rezando. Cantando e pedindo.
Um hora eu olho para o povo que assistia a apresentaçaõ e vi uma negra, uma senhora. Na hora do ponto de Omulu ela encosta a mão no chão e eu a vi conversar com o orixá. Ali, no meio de uma praça, durante uma virada cultural, eu vi uma senhora negra rezar em frente aos orixás,ajoelhada no chão sujo da praça, eu vi uma mulher negra fazer a mais sincera demonstração de fé. Meus olhos molharam e eu não me senti tão só. Havia uma outra ali que também se emocionava como eu.
Quando a percussão saiu tocando pelas ruas, eu fui atrás, cantando e dançando. Me senti na minha Bahia, quando tudo é meio profano e meio sagrado.
Fiquei feliz. Não consegui ver mais nada, mas o que eu vi, valeu toda a virada cultural.
Talvez esse video dê uma pequena noção do que eu senti.
Se não me engano, é o ponto de Nanã Buruku, deusa velha e sábia, rainha das águas paradas, é a deusa das chuvas, senhora da morte, e responsável pelos portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarne).
Salve todos os orixás!
Gente, isso é Brasil. Um Brasil que eu me orgulho muito de fazer parte.


9 comentários:

Anônimo disse...

Obrigadíssima por seu relato, vc me fez chorar de emoção.
Este é o nosso Ilú Obá.

beijos

Baby Amorim
Produtora do Ilú

Flavinha Pacheco disse...

Que coisa linda o que vc. escreveu!!!!!! me emocionei também! foi ótimo tocar em Campinas e ainda mais saber que havia pessoas como vc na platéia!
beijos
Flavia - alfaia - Ilú

Anônimo disse...

Texto lindo! Também senti emoção ao ler e curiosidade em saber se algum dos rostos que eu mirei enquanto tocava poderia ser o seu! Que feliz a sua presença entre nós! Além de texto lindo é também didático hein? Quanta informação boa e clara. Aprendi contigo!
Para mim, novata no Ilú, foi um evento e tanto esse de Campinas. Emoção antes, durante, depois e agora.
Beijo grande.
Axé.
Lan (alfaia)

Tatiana disse...

Virge,
Que visitas ilustres!!!
Foi lindo, viu?
Eu adorei!

Marcinha disse...

Nossa chorar é pouco estou passada...estava mesmo muito emocionada, e agradeço tb e faço coro as minhas companheiras de Ilú Oba de Min.
Marcinha "veterana do xequerê".KKKKKkk

Tatiana disse...

Meninas,
Fiquei aqui surpresa de ver que chegaram ao meu humildezinho blog e que de alguma forma dou a vocês um tipo de retorno.
Para mim, música é uma das mais lindas formas de se falar com o Divino.Então, quando eu canto eu quero que as pessoas se emocionem de alguma forma, que um pedacinho do divino que habita em mim toque um pedacinho do divino de quem me ouve.
Vocês, o grupo todo, são uma oração forte. Uma oração que mistura a língua da velha África, berço de toda a música, com a nossa língua portuguesa atual. É uma oração que para quem quer abrir os ouvidos da alma, bate lá no fundo, no coração ancestral de cada pessoa.
Cada orixá que é louvado, cantado, visto é uma centelha divina na terra. Eu pegeui a força de Iansã e Ogum, a bravura de Oxossi, a mandinguice de Ossaim. Olheio no fundo do olha de Obá e senti orgulho por ser mulher. Me achei linda nos olhos de Oxum.
Então, cada vez que vocês cantam e tocam, vocês espalham a voz dos antigos e relembram o sagrado.
Vocês são sim uma forma de se falar com os deuses. Vocês são uma ponte.
E mesmo que não saibam por escrito, como eu faço aqui, vocês mexem com a energia do mundo e das pessoas.
Uma benção e uma grande responsabilidade.
Que todos os orixás abençoem o trabalho de vocês!

Unknown disse...

ogandeogunte@hotmsil.com Conheço a luta dessas meninas... elas são maravilhosas..e seu relato sobre elas... vem coroar o trabalhos dessas meninas batalhadoras ..que os nossos orixás sempre abençôe todas... axé!!

Bárbara disse...

Fazer parte deste grupo, celebrar as forças da natureza, na mistura de sentimentos, sensações, encantamento...é uma honra.

A emoção q sinto ao saber que essa arte toca profundamente as pessoas, tanto quanto me toca, é sem dúvida, indescritível.

Beijos,

Bárbara
(dança - Oxaguiã)

Anônimo disse...

Que maravilha,pessoas como você faz com que nosso trabalho fique a cada dia mais forte...

Lindas palavras e muito axé para você!!

Grande bju ( Carolina - corpo de baile - Oxum)