terça-feira, 22 de janeiro de 2008

o pequeno, as loucas e o herói

Ontem minha cozinha cheirava a café recém passado.
Eu e Cláudia, amiga valente e nordestina, estávamos conversando sobre assuntos vários. Quando eu estava no meio de uma frase particularmente importante percebo que minha amiga não prestava a devida atenção às minhas sábias palavras. Olhava de forma estranha para o meu fogão.
-Tatiana, tem uma coisa ali.
Olho e vejo uma cabecinha minúscula e cinza acompanhada de duas repugnantes orelhas.
-AAIIIIIII, um rato!
Aí começou a porra!
Cláudinha ágil como uma gazela, sobe de salto alto e tudo na cadeira e desata a berrar! Histericamente.
Eu, movida por um impulso, berro também:
-Ugo, vem cá! Ugo vem cá que tem um rato!
Eu, só de meias, deslizava pelo chão da cozinha, corria de lá pra cá, de cá pra lá e não saía do lugar. O danado do ratinho tinha se metido dentro do fogão.
Ugo, cheio de testosterona, só mostrava a cabeça pela porta.
Cláudia berrando ainda.
Eu de um lado pro outro.E Ugo do meu quarto, sem entrar na cozinha.
-Me passe minhas botas, Ugo, me passe as botas que eu to descalça!
E Ugo me dá uma única bota. Como se o rato fosse uma barata e eu pudesse assassinar ele com uma botada certeira. Ingenuidade deste rapaz. Os ratos são rápidos demais para minha mira trêmula.
-As duas botas, Ugo! As duas botas! Vem cá matar o rato, Ugo! Cacete, vem pegar o rato!
Pela porta ainda, Ugo responde:
-Mas por que eu?
Cláudia, de cima de sua segura cadeira, retruca:
-Não acredito que eu vou ter que descer daqui e pegar esse bicho! Logo eu que morro de medo de rato!
Acho que o fato de Claudinha estar em casa fez com que nosso herói se revelasse. Não pegava bem duas baianas verem um campineiro fugir de um mísero ratinho. Campineiro já tem fama de viado. Viado frouxo, pior ainda.
Ugo sai do quarto em postura de guarda. Corpo curvado, olhos atentos e segura nas mãos meu guarda-chuva como arma.
-Ugo, com o guarda-chuva não dá, né?
-Vamos acender o forno! Ele vai ter que sair.
Eu fui designada para a missão. Óbvio não achei fósforo algum e tive que pegar um pedacinho do papel de pão, tascar fogo com o isqueiro para colocar no buraquinho do forno. Quando abro a porta do forno, grito loucamente porque dei de cara com a chapa de ferro. Pensei que fosse o rato. Acendo o forno. Momentos de intensa expectativa. Um silêncio sepulcral pesava sobre minha cozinha.
Cláudia olhava tudo de cima da cadeira, Ugo empunhava uma vassoura de piaçava e me disse " pegue tua arma" e me enfiou nas mãos um rodo.
Ficamos ali, imóveis. Cláudia sobre a cadeira. Ugo com a vassoura e eu com o rodo.
Nada acontecia.
Até que o rato sai por baixo de meu fogão. Rápido pra cacete, o filho da puta!
Cláudia berra mais alto ainda, como se isso fosse possível.
Eu levo um susto dos diabos e fico saltitando, cada hora com um pé e gemendo:
-Ai, meu Deus, ai meu Deus....
O rato parte pra cima do Ugo tentanto passar por entre suas pernas e fugir para o quintal. É impedido por uma vassourada fenomenal que não o acerta mas, certamente, dá um susto dos diabos no roedor que muda de direção e vem no sentido dos meus pés. Eu, ainda saltitando e berrando, não consigo fazer nada além de empurrar o bicho de volta pro Ugo. Pro meu lado não! Pro meu lado não! Uns arrepios correm por minha espinha.
O Ugo fica louco. Destribui vassouradas em todas as direções, berra bestialmente, pula sem tirar as olhos do pequeno-cinzento-filho-d0-demo. O rato tenta fugir pro meu lado e eu, mais uma vez, do uma empurrada com minha arma-rodo para que ele volte pro lado do Ugo. Meu nervoso é tanto que sinto que tô fazendo xixi nas calças.
-Acertei!
-Ai, que nojo!
-Caralhoooooo!!
Ugo deve ter dado umas trinta vassouradas no pobre rato. Tantas e com tanta força que minha vassoura fica com o cabo pela metade.
Claudinha, ainda em cima da cadeira, tem um ataque de riso e vira as costas porque não quero ver aquela cena, mas percebo meio de relance uma manchinha acinzentada de uns cinco centímetros ( sem contar o rabo, é claro) jogada no chão de minha cozinha.
-Veja, ele ainda está mexendo uma perninha - Ugo parece que venceu seu receio inicial por mamíferos roedores nojentos e desagradáveis.
Eu, meio mijada, também não tenho coragem de olhar para nosso inimigo e me escondo no corredor que leva ao banheiro. Percebo nosso herói pegar um saco plástico, segurar o defunto e jogar no lixo.
-Ugo - digo eu, cheia de cuidadosa preocupação - e se ele ressuscitar e vir pegar a gente?
-Não! Matei bem matado mesmo. Não tem como ressuscitar.
Cláudinha, ainda sobre a cadeira, tem uma crise de riso que me obriga a me unir a ela. Isso faz com que o controle de bexiga suma de vez e eu realmente me mijo toda.
Ugo olha a sua vassoura quebrada e sorri com certo orgulho.
Eu também.
Acho ele o homem mais valente do mundo. O mais corajoso, o mais destemido, o mais letal.
Realmente, Ugo é letal.
Durmo pensando se aquele ratinho tinha família, se tinha amigos. Se seria possível que a galera dele viesse tomar satisfações conosco. E se ele fosse um ratinho cozinheiro, como aquele do filme? Bem, não importa. Agora ele estava mortinho da silva e eu tinha meu herói, meu destemido matador de roedores para me proteger. Dormiria tranquila.
Que não me aparecesse mariposas. Porque com mariposas o Ugo perde a valentia.
Vai entender.

17 comentários:

anderson.head disse...

Então... mariposas+Ugo=Tendão+Aquiles?? percebeu que todo herói tem um ponto fraco?? superhomem+criptonita... essa é a vida Tati. Essa é a vida!! rsrsrsrs.

P.S. bom voltar a ler suas histórias...

até.

Tatiana disse...

Pois é...
Ele negará até a morte, mas eu bem sei...
hahahahah
Muito bom vocês aqui!

Anônimo disse...

Hahahahaha! Ratinho cozinheiro? Pior se ele fosse o Mickey! E se fosse o Dom Ratão???

Sandra Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Maria disse...

Um dia, alimentando os cachorros, vi esse rato.Saí correndo, fingindo que era fruto da minha imaginação.
Cruzes! Providencie um super gato, urgente!

Cristiano Gouveia disse...

E olha que acompanhei a saga ao vivo pelo msn, conversando com o Ugo!

hahahahahahahahahahahahahahah

Tenho filhotes de gata pra doar...aceita?

Anônimo disse...

NOSSA, ADORO AS SUAS HISTÓRIAS.
JÁ PENSOU EM VIRAR UM LIVRO CONTOS.
ESTAVA COM SAUDADES.
VC É ÓTIMA.

Carô disse...

Pobre, pobre ratinho!!! TRÊS adultos pulando em cima dele e berrando, ele que só estava prestando atenção em suas sábias palavras... Pobre, pobre ratinho...

Thábata Larisse disse...

Muito boa essa história, quase morri de ri, minha mãe achou que eu tava maluca. Fiquei as gargalhadas feito uma doida na frente do computador. Gostei, vou voltar sempre para dar uma olhada nas tuas histórias, parabéns. Você devia levar a sério a idéia do livro de contos.
Thábata Larisse de Boa Vista/Roraima

Tatiana disse...

Morena,
To pensando em um gato, mas tenho receio que alguém mate ele. A rua anda perigosa para meus gatos!

Tatiana disse...

Cris,
Eu até queria, mas acho que a vida do gato seria curta demias...

Tatiana disse...

Maria,
quem sabe, né?
quem sabe???

Tatiana disse...

Carô.
Tá certo.
Queria ver você dormindo com um bicho desse em casa. Roendo seus vinis. Roendo seu delicioso calcanahr. Mijando em seus copos.
Você dava um tiro nele com aquela espingarda velha que vc tem, isso sim!

Tatiana disse...

Thábata...
Põe tua mãe pra ler também! Mas nas partes picantes ( porque existem partes picantes neste blog), você tapa a cara dela!
Venha sempre e seja muito bem vinda.
Puxa, de longe vc, né?

Cristiano Gouveia disse...

os gatos tem sete vidas...e te um aqui que é a sua cara...

Anônimo disse...

TATIANA, PENSE COM CARINHO, VC TEM A MÃO PARA A COISA.
A MINHA IMAGINAÇÃO VOA COM SUAS HISTÓRIAS.SÃO MUITO BOAS.
UM BJ.

Tatiana disse...

ô, Maria
eu até que já pensei nisso..quem sabe...to aqui pensando...