quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Amor de musicista

Queria eu que você pudesse soar dentro de mim. Por dentro de mim você retumbaria e me tremeria os cristais mais uma vez.
Queria ter teus olhos dentro de mim. Eu sou uma partitura, uma cifra, uma nota escondida.
Teu ar dentro de mim. Sou sax, flauta ou oboé. Preenche minha ausência.
Teus dedos dentro de mim. Tamborim ripinica, dobrando a levada, piano drogado de fim de noite, baixo de quatro, cinco, seis cordas. Sola as notas do meu violão, lá no alto, nos agudos tons do meu violão, rápido e preciso faz suas escalas, mas me escala também porque eu posso ser cuíca gemendo na sua mão.
Queria você todo dentro de mim. Sinfônica dramática, maestro sacudindo os braços, descabelado, possuído e possuindo. O êxtase da orquestra toda em nós.
Dança em mim, meu amor. Pisa em mim, teus pés em mim, me afagando as costas. Teus pés imensos e pesados marcando o meu ritmo e eu sentindo a tua vibração dentro de mim. Marca no meu chão o compasso do baião, maracatu, coco e ciranda, marca mesmo, com força o teu compasso-macho porque eu sei ser piso-fêmea.
Canta pra mim, canta? Tua boca esquentando a minha. Me tira o fôlego com tua língua. Me lambe com a tua voz grave. Deixa a tua melodia se fundir com minha harmonia, trançando um jazz ou gemendo um blues, mas deixa em mim a tua nota sussurrada dentro de minha garganta. Um cânone. Um mantra. Um repente rápido e de improviso. Improvisa em mim mais uma vez.
Me toca, me toca como se eu fosse harpa, me toca forte como se eu fosse alfaia, me toca em sustenido e bemol, mas não pára de tocar em mim que eu te dou meus tons mais altos ou profundos. Me toca de forma breve ou semi breve. Toca em mim em semi-colcheia. Me toca nos contra-tempos, em todos os tempos. Nos três por três e nos três por quatro. Me toca de quatro que eu te dou em sete natural, orgânico. Eu te dou em ritmo quebrado e você me junta todinha. Mas não pára de me tocar jamais.
Mas você não está e eu sou uma imensidão só. Eu sou uma possibilidade do eco. Nada em mim quando você está fora. Sou teatro vazio cheirando a saudade.
E já cansei de ser silêncio.

12 comentários:

Anônimo disse...

Puta que pariu.
Adorei isso.

Ronaldo Faria disse...

Uma verdadeira sinfonia... Beijos.
Ronaldo Faria

~line.leits disse...

Sem palavras...
Adorei!!!
Beijos!

Clélia Riquino disse...

Eu sou uma possibilidade do eco. (...) E já cansei de ser silêncio.

Me lembrou Tatit:

SILÊNCIO
Fábio Tagliaferri & Luiz Tatit


Quis dizer de coração
Não era hora
Vim de longa espera
Cresci, mas quem me dera
Sei que falta muito
Pra aprender a dizer
Pois o amor nem sempre se declara
Sofre mudo, mas não mostra a cara
E é o silêncio que ampara o amor
Amor que é amor é assim
É uma certeza que nunca diz "sim"
Nem diz "não"
Nem diz
Só acompanha os movimentos
Com olhos atentos
Mas...
Pra dizer de coração
É que demora
Quem que alinhava
Palavra por palavra
Quem que tem paciência
De aprender a dizer
E quem diz de vez só atropela
Pois o amor nem sempre se revela
E se revela vira uma novela
Choro e lenço
Que apela pro consenso
Nem penso, dispenso
Silêncio
Não vou dizer mais não

Conhece? Mônica Salmaso gravou, lindamente...

bjo,
Clé

Vivien Morgato : disse...

Tem alguém se apaixonando por aí....

Vivien Morgato : disse...

Vamos ver vc hoje, já vou pedindo antecipadamente, canda Vai Doer e Beijo de Som? beijos.

Vivien Morgato : disse...

ops...correção..."canta"

Anônimo disse...

Já cansei de ser silêncio
Esperando que você me toque
Que me tome nos seus dedos
E que seu beijo me sufoque

Porque sou um instrumento
Esperando que você dedique
O seu tempo ao meu tempo
E na escuridão me amplifique

Eu te espero pra marcar
No meu corpo seu compasso
Com toda força, nos seus braços
A nossa dança sobre o chão

Eu te espero pra ouvir
A sua voz em meu ouvido
Quente e grave, de improviso
Dentro de mim a imensidão

Me toca breve
Me toma tudo
No contra-tempo
Em três por quatro
Me toma alto
Ou bem profundo

Me toca e marca
Que eu enlouqueço
Anda, me invade
Me olha de frente
Vem de repente
Agudo, intenso:

Eu já cansei de ser silêncio

Clélia Riquino disse...

Tati,

Tentamos vê-la/ouvi-la ontem, no Pantanal, mas 'tá em reforma!!! Você nem nos avisa...
bjãozão,
Clé

Anônimo disse...

Meu Deus!!! Que lindo!!!! Não há mais nada a dizer... lindo!!!

Clélia Riquino disse...

Foi pra Sampa e não voltou mais...??? Sentimos sua falta!!!
bjo,
Clé

Vivien Morgato : disse...

Tati....cade tuu..????