domingo, 3 de dezembro de 2006

Revelação bombástica

Vinha eu pensando na vida, de volta do trabalho que foi massa. Tocar com JP foi uma delícia. Ouvir as meninas, outra delícia. Tantos amigos ali. Amigos que lêem o blog e que eu puder ver os olhos. Amigos de sempre. Amigos novos. Amigos feitos ali. Uma sonzeira massa, um dia de trabalho muito, muito feliz.
Sim, eu to feliz!
Eu pareço feliz porque eu to feliz!
Mas eu me dei conta, assim subitamente, uma sacada que cai na cabeça, pum, saquei tudo, que eu to no tanque reserva do meu coração.
Ouvi que emagreci, que tô muito bem, aquelas coisas que fazem bem ao ego de qualquer mulher e agradeço todo o dia pelo trabalho que eu tenho, que me permite ver gente, ter minha vaidade amaciada, ter sempre um moço que vem e levanta a minha moral. Mesmo naquele dia que to me achando um mostro, que to medonha, que to imensa, que nem eu me comia, que meus peitos podiam ser menores, minha bunda maior, aquele dia que você tem certeza que tua madrinha te rogou uma praga e você tá com cara de despacho e corpo de macumba, sempre aparece um filho de Deus que me enche a bola e eu volto para casa acreditando que nem tudo tá perdido nessa vida de merda. Alguma coisa sempre acontece.
Eu tenho mesmo que agradecer. Obrigado, meu Pai.
Mas aí me dei conta que meu corpo é carcaça. Isso aqui é casca mesmo.
E eu posso destribuir as migalhas do meu paõzinho caseiro para meio mundo, posso dar mais que chuchu na serra, se assim eu quiser, mas eu to dando a carcaça. Tô dando a foligem de mim. E olhe que eu nem saio por ai distribuindo luxúrias e devassidão. Uma escapulida ali, outra acolá que eu não to aqui pra fazer festa de marmanjo só por não ter algo melhor pra fazer. Mas eu também sou filha de Deus e mereço o descanso do guerreiro, mereço um prêmio eventual depois de tanta luta e suor.
Mas a brasa que queima a vida, a chama do que realmente importa, essa eu mantenho muito bem guardada no fundo de mim. Me surpreendi com essa revelação. Eu não sabia que eu estava assim. Caiu como uma bomba na minha cabeça.
Será que eu to virando uma escrota cínica?
Poxa, não queria ser uma escrota cínica, uma escrotinha bem humorada, vá lá, eu até que encaro, mas uma escrota cínica presidente da instituição das Escrotas Cínicas Anônimas eu não queria não. E eu bem que posso usar a faixa no peito fácil, fácil.
Me dei conta que meu coração tá muito bem quardado dentro de um armário velho e embolorado, um olhinho só pela fresta, sacando o movimento. Se aparece um barulho alto demais, corre para dentro, se esconde atrás de pesados casacos e não sai de lá nem fudendo! Meu coração tá covarde, tá todo estrupiado. Quando mais meu corpo fortalece, meus músculos mais firmes, as pernas fortes, mais meu coração lambe as feridas.
Gente, meu coração é um cachorro surrado, cheio de sarna que tem medo da prórpia sombra! Um grito e lá vai ele ganindo, com o rabo entre as pernas.
E eu não sabia disso.
Fiquei chocada com a revelação.
Meu pobre coração tá todo fudido.
E não é só desse último casinho não, magina que foi só esse que me fez sofrer e chorar. Já amei homens com muita mais caráter, com muito mais poder de macho, homem que realmente dá pena perder, não essa coisa xinfrim que eu botei na prateleira de amores fracassados por minha máxima incapacidade de me libertar de lixo. Eu me apego a lixo caseiro, sabe aquela coisa de guardar tranqueira em casa? Pois é, adoro uma tranqueira inútil. Depois me fodo e nem posso dizer que a culpa é da criatura porque eu sempre soube que era um tipo vulgar de merda e eu mesmo assim banquei. A velha mania de guardar tranqueira, tenho que parar com isso.
Eu to é com cicatriz de coisa antiga, cheirando a naftalina, fedendo a guardado a tanto tempo, tem coisa aqui que eu nem lembrava mais que tinha doído. Cacete, passado pesa! Quem vive como eu vivi carrega um peso nas costas que putaquemepariu!
Aí eu ouvi um moço ontem cheio de amor pra dar, que ia fazer e acontecer, que ia me levar à loucura,pagar minhas contas, me tirar daquela vida (veja se posso com isso), ia me mostrar a clava javanesa, a borboleta saltitante, o canguru perneta, que ele seria a salvação da minha vida, a boca fedendo a chop, aquelas mãzinhas minúsculas ( não gosto de homens de mãos pequenas, o que que eu posso fazer?) e eu pensando no meio daquelas palavras tão cheias de promessas e clichês que o cara era um grande de um babaca porque queria comer a carcacinha véia de guerra e eu não tava nem um pouco a fim de dar uma trepadinha com um bêbado de um evento chato pra caralho e meu coração, ouvindo aquilo, chegava a ter ânsias de vômito, aquela conversa fiada, eu fugindo de homem-mala ( ele sim devia ser o Mala Men ) e pensando com meus botões, puta que pariu, que merda é essa? Onde é que eu tô? O que que eu to fazendo aqui? Trabalhando, primeiro, mas pagando karma, com certeza!
Teve um outro ( me perdoe a indiscrição se você tá lendo o blog, mas tá no contexto) que disse que queria me rodar nos ares! E eu lá quero que me rodem nos ares? E eu lá confio em um homem que queira me rodar nos ares? Vai lá que tem labirintite e eu me estaboco no chão e ainda tenho que sair correndo procurar ajuda porque a criatura resolveu que ia rodar nos ares uma mulher que pesa mais que muito homem, imensa como um hipopótamo e desajeitada como um javali! A imagem de rodar nos ares pode ser muito bonita e tudo mais, mas esse papo de pegar no colo, jogar no solo e fazer mulher é Vando demais para minha pessoa!
Aí hoje essa sacada. Eu to covarde pra caralho. Tô com medo de cair dos ares.
Não to a fim de dar meu coraçãozinho de galinha com xinxin pra qualquer um. Até posso sair por aí dando a famosa bimbadinha terapêutica, muito discreta, muito na moita, mas meu coração, ah, esse eu não posso dar assim pra qualquer um não. Vá lá que magoa? Vá que que risca a pintura? Vá lá que queima o estofado? Vá lá que me rouba as calcinhas e sai usando por aí? Vai saber...vai saber...tem muito homem maluco nessa vida.
É como eu digo atualmente, minha frase de impacto padrão: EU DOU MEU CU NA PRAÇA se eu der meu coração pra algum zé-mané rodopiante, ou para um mãozinha minúscula, ou para um poeta de fim de semana ou para qualquer homem que seja menos sensível que o Dalai Lama.
Será que eu tenho que traçar o Dalai Lama? Será que o homem que merece meu coraçãozinho em frangalhos é algum tipo sensível? Aí fodeu de vez mesmo por que homem sensível ou é viado ou é meu amigo. Ou seja, vou ter que agarrar meu amigo viado! A coisa tá preta pro meu lado. A sorte é que eu tenho muito amigo viado e isso é uma luz no fim do túnel. Em última estância, transformo um gay convicto em um hereto vascilante!
Pode parecer estranho mas meu coração é uma virgem descabaçada sem ternura e isso é muito chocante quando a gente se vê, assim como eu me vejo, forte para caralho, cheia de certezas e fortalezas. Pô, eu acho que eu sou a pessoa mais macho que eu conheço nessa vida! Vergo mais não quebro! Levanto e sacudo a poeira! Mato a cobra e mostro o pau! Eu carrego bujão de gás, eu troco pneu de carro, eu mato barata e caço mariposa! Gente, EU MATO BARATA!! Eu sou a Mary Fodoca, a parceira perfeita do Jones Fodão! Eu sou o cara!
Tudo papo furado.
Meu coração é uma bicha careca depois do show! Um cílio postiço pendurado e um salto quebrado. Uma imagem dantesca. Tô passada com meu coração estrupiado.
Como é que eu deixei ele ficar desse jeito?
Onde é que eu estava com a cabeça quando não olhei melhor para ele, não coloquei em um lugar mais seguro, cheio de almofadas, cheio de mimos?
Agora eu to com um coração abichalhado nas mãos, não sei o que fazer com ele, não sou dada a arroubos de ternura, não sou a rainha das delicadezas, eu não sou sutil, não sei como me dirigir a esse pobre coitado, todo fudido, todo acabado. Bom dia, coração, como está? Tá ainda nessa viadagem ou vai sair pro mundo? Deixa de frescura, meu filho! Tu é um coração ou é um pâncreas? Honre o sangue que jorra, honre as calças que veste. Esse é bem meu estilinho. Truculento. Coitado do meu coração, tadinho.
Meu coração está a um passo de virar ateu. Quem diria? Eu, uma crédula que acredito até em duende, com um coração ateu. O que que eu faço come este coração ateu??
O dilema é: dou ou não dou? Melhor, como dou?
Não to falando de poeira, de raspas, to falando de âmago, do falando de profundezas, de labirintos, de chaves e senhas. To falando de mim, de minha alma, de meu peito aberto, de minhas chagas, de amor verdadeiro transbordando em taças. To falando de entrega, de saltos em precipícios, to falando de entregar aquilo que eu preciso ofertar porque se ficar em mim, como fruta no pé, apodrece eu eu morro comida por vermes. Eu não queros ser comida por vermes!
Se eu continuar assim, para chegar mesmo em mim tem que pegar senha, mapa, tradutor on -line, bússula, navegador GPS e o escambau. Eu vou virar um gincana e não uma mulher!
Meu Deus do céu, eu virei um esfinge e nem percebi. Puta que pariu, decifra-me ou te devoro mesmo! Saio por aí comendo o povo e meu futuro é eu sentada em uma pilha de ossos, palitando os dentes. Cínica. Escrota. Defendida. Calejada. Falsa. Sonsa. Surda.
É...meu corpo tá fortalecido.
Mas é chegada a hora de cuidar do peito porque dentro dele existe um pobre coitado, absolutamente desamparado, estrupiado, um fudido de pai e mãe.
E eu não me dava conta disso.
Agora é que eu vou ver se eu sou foda mesmo. Agora é que eu quero ver se eu sou macho pra caralho.
É, minha filha. Tu tá é fodida.
Tenho muito trabalho para fazer mas agradeço a lucidez.
Antes um escrota cínica lúcida ou uma transplantada cuidadosa do que uma imbecil covarde absolutamente alheia ao seu próprio peito.
É...tenho muita coisa para fazer.
Então, que comecemos logo.
Ai, caralho.
Nem sei por onde começar.

PS: Sim, isto é um desabafo. O excesso de palavrões faz parte do meu linguajar do dia a dia mas confesso que hoje me superei.
Na próxima vez, uso %##& para substituir tanta palavra de baixo calão.
Mas hoje foi foda. Não deu pra segurar, perdoem.
Puta merda.

14 comentários:

Anônimo disse...

Q homem sensato ia querer um envolvimento sabendo que estava virando assunto de blog?

Anônimo disse...

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz".
Cuide-se.
Ronaldo Faria

Tatiana disse...

Um homem de culhão e que não tivesse nada a temer. Um homem com H. Um homem sensível. Um homem que sabe que eu não coloco meu coração na roda e muito menos a intimidade dos outros.
Pelo menos, um homem que assina o nome.

Anônimo disse...

Um homem sensível para vc é viado.
Um homem q curtisse ser participante de seu realy show na net.
Vai procurando.

Anônimo disse...

JAmais te cantaria. Ë tanto homem que te canta e que vc esculhanba no blog que dá até medo :)))
MAS ja que você entrou no campo da física quântica eu completo:
- NAda disso é real. É apenas o que nosso cérebro consegue interpretar, baseado nas experiências passadas dele. Tudo o que vocÊ vê e pensa é passado.
Quando você fala do seu corpo também está comentendo um erro estético. Nós como um entulho de átomos somos um grande vazio, e nos dá forma é uma energia gigantesca que fica armazenada nesse vácuo entre o nucleo e os eletrons.
Então amiga, trate de dar um sentido cada vez mais alegre e amoroso pra sua existência senão fodeu.
beijos....sonekka com encosto de trepareuta rolístico!

Tatiana disse...

Dona Resposta:
Você não entendeu nada.

Anônimo disse...

Tati, meu amor
Coração ferido sempre cura.
É só deixar o tempo agir.
E sempre aparece uma tampa para a nossa panela.
Mas concordo contigo quando agradece a lucidez. É isso mesmo. Temos que ficar atentas ao nosso eu porque podemos, muito facilmente, nos perder dele.
E tem mais. Fale o que quiser aqui. Este espaço é teu consultório terapâutico mesmo! rs
E eu não me lembro de ter visto você falar algum nome, citar alguma pessoa, ser indelicada com alguém. Você até que é muito discreta!
eu meteria a boca muito mais.
Viu só? Olhe eu dando pitacos aqui.
Beijos de sua amiga.
Eu sempre te acompanho por aqui, mas nunca escrevo porque tenho preguiça. Hoje escrevi porque vi nas entrelinhas.
Aninha

Anônimo disse...

Querida Tati, sei q vc é uma pessoa do bem. Talentosa e batalhadora. E engraçada, senão não pararia aqui. Mas acho é que está equivocada. Quem escreve aqui não tem q assinar nada. Você é que está na vitrine. Este é um espaço público e como tal, visitado por todo tipo de gente. Então, não sei se vc está dando o cú na praça, mas que está com a bunda na janela está.
Resta a você escolher se é com ou sem calcinha.
E quando teus próximos entram na roda, aí sim a coisa é delicada.
Será que o moleque gostou de ver seu primeiro porre com dos devidos papelões, exposto não aos amigos, mas ao público em geral?
Na boa e só desejando o teu bem, levanto essa reflexão sobre o quanto se deve mostrar e a quem.
Eu, que você nem sabe se sou h ou m, penso muito nessa super exposição de tempos de big brother, o qual nunca assisti. Acho o cú da cobra.
Não receba com raiva.
É só mais um lado do pensar, o meu.
Sorte e alegria é o q te desejo.

Tatiana disse...

O exercício de auto análise, para mim, é indispensável.
Não tenho problemas com isso.
E tomo cuidado com quem cito aqui. Meu filho sabia que eu escreveria sobre o que aconteceu com ele porque conversamos sobre isso. Dos riscos que ele correu e de tudo que poderia ter acontecido. E , sem falar, que um porre não é nada assim tão vergonhoso. Isso aconteceria em algum momento da vida. Não precisa ter vergoha e sim cuidado.
Como o que eu tenho com as pessoas que eu cito aqui. Algumas existem na minha realidade direta, outras não.
Mas nunca botei ninguém na roda, além de mim mesma. E faço isso em sã consciência.
Bebado chato tem mais que se foder e quero mais que eles sumam mesmo de perto porque ninguém merece lascívia alcóolica! Mas mesmo assim, não disse quem era, que empresa trabalhava. É mais um bêbado anônimo inconveniente. Que eu detesto! Que todos sumam da minha existência.
Concordo contigo. Ninguém precisa assinar nada. E eu acho que todo mundo pode se expressar, concordando ou não com as coisas que eu digo aqui.
Deixo todos os comentários porque me parece mais justo e mais divertido. Mas isso não muda o fato de que eu admiro quem tem culhão de escrever e assinar.

Anônimo disse...

acho que não deva existir um artista que não se exponha. esse blog conta histórias verídicas com pitadas de ficção para dar um "quê" a mais. nem sempre tudo é ibsis literis. isso não é uma defesa à tati e nem uma crítica ao anônimo, mas sim uma opinião e uma "explicação" de algo que sei além do blog, como amiga. mas se tem uma coisa que quero deixar registrada é que tatiana não escreve sem pedir autorização. ela não coloca uma pessoa na roda antes de pedir. isso é ética.

Vivien Morgato : disse...

("uma reflexão"....monossílabo tônico terminado em i e u não são acentuados. Então, CU, não tem acento, querido(a)))
Quanto ao anonimato, claro que quem lê, pode ou não assinar. ÓBVIO.Só é estranho que a pessoa se esconda em um pseudônimo.
Fica essa impressão engraçada...a impressão de que esse leitor tem medo ..bom, sei lá!
Nos blogs que leio, elogios ou críticas são assinados: caso contrário, é considerado TROLL mesmo...sem dúvida.

Anônimo disse...

Anônimo de CU é ROLA, como dizia minha amiga Paulinha. Hahaha - Tati, seu blog é ótimo, suas histórias são ótimas, você tem o direito de fazer o que bem entender. A "pequenice" humana é que traz algumas discussões cheias de recalque e dor de cotovelo, pelo que me parece. Desencana, isso tudo é mesquinharia.
Tu é foda, continue escrevendo, ninguém é obrigado a ler.
beijos da amiga e admiradora.
Marina Franco

Anônimo disse...

Tati, não se deixe levar pelas marés...procure se fechar um pouco para reflexão e, apesar de concordar que o blog é seu e que é pedida autorização aos outros, as pessoas que se encaixam neste contexto ficam putas da vida...se identificam , sentem raiva de vc, isto é democracia...

Anônimo disse...

"Com minha fome de lobo
amaino
meu corpo de ovelhinha.
Sou como
um mísero barco
em um oceano libidinoso."

Ungaretti.