sexta-feira, 2 de junho de 2006

Uma panela com água pde ser somente uma panela com água ou pode ser o útero do mundo. Do meu mundo.
Ali, conforme eu vou jogando as coisas, tudo se transforma e no reflexo da água quem aparece são outras tantas que já vieram antes de mim. Eu as vejo e seus sorrisos são quentes e seus lábios tocam minha testa.

O fogão pode ser somente um fogão velho, mas pode ser também o meu Fogo Sagrado, alquimizando meus desejos, explodindo as possibilidades escondidas em cada erva. O fogo brinca com a água e ela borbulha, feliz.
Toda casa vai sendo invadida por mil cheiros. O ar empreguenado de magia e segredos que meus olhos, acostumados com o cotidiano, não vêem, mas meu coração de mulher, ah, esse sim entende as sutilezas da vida e eu suspiro, feliz também.
Meu gato branco rodeia minhas pernas e as cachorras me observam pelo vão da porta. Um jeito meigo e firme de se dizer eu te amo.Sei que estão aí e não me preocupo com que vem pelas costas.
O sino dos ventos balança mais forte e o som dos bambus são delicados. O tempo muda e eu acho graça.
Nas emergências até a lua crescente aprende a minguar.
Cada pedrinha de sal groso é triturada por mim. Como se cada batida de minha mão quebrasse o quebranto grudado . Bato, bato , bato e canto alto para alegrar a vida. O sal da terra. A sal da vida. Ali, em minha mão, e eu percebo que agora não é somente sal. É magia, é encanto, é meu desejo , quase em pó. Minha voz vibrando dentro de minha cabeça, mas é meu peito que treme. Poderia fazer isso de olhos fechados.
A fumaça do incenso sobe aos céus e nas costs do vento meu espírito voa.

O sabão preto limpa a pele.
O sal grosso limpa um pouco mais fundo.
O caldo cheiroso descendo no corpo, raspando, tirando, nutrindo, escorrendo nas pernas que não saõ minhas.
Por sobre minhas mãos, outras mãos. Por sobre meus olhos, outros olhos. Por sobre meus ombros, o manto. Na cintura sinto pesar o punhal invisível.
Na minha boca palavras ditas mil vezes e daí se fez a verdade.
Pelo poder da água, da terra, do fogo e do ar.
Pelo poder do amor.
Pelo poder do perdão.
Pelo poder que me foi dado no instante que nasci mulher.
E assim é.
E assim será.

4 comentários:

Anônimo disse...

E assim será. Cuide-se, minha alquimista.
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

O texto está repleto de uma feminilidade ancestral e mística,ficou bom demais.;0)

Anônimo disse...

Um beijão guerreira. A vida não é mole não!!

Vanessa Anacleto disse...

Dona Bruxa , seu texto tá ótimo, escreve do pro concurso q a Helena colocou ordem na zona por lá. Beijos, boas cantorias, sabiá.