segunda-feira, 5 de junho de 2006

Hoje meu filho caçula faz onze anos.
Onze anos se passram em um piscar de olhos.
Ainda me lembro da sensação de peso que a barriga me fazia, o cansaço, a espera, parecia que aquele moleque não queria nascer de jeito nenhum, até que uma amiga obstetra resolver deslocar a placenta para a diantar o parto. Mathues parece que não gostou muito daquela futucação toda porque reclamou feio e eu vi estrelas. Me lembro que muito pouco tempo depois eu comecei a sentir as contrações que vinham rápidas e quase sem intervalos. O carro correndo pela estrada, eu me contorcendo de dor, uma vontade louca de matar o pai de Matheus. Uma moça no leito ao lado do meu, gemia ha tres dias e eu pedia para André ( o pai que eu queria matar) que desse alguma coisa para ela porque aqueles gemidos estavam me enlouquecendo. A sala de parto. O aviso de cesárea de emergência. Esmeraldite, diziam. A anestesia tantas vezes negada mas que foi a melhor invensão do século. Claudinha em casa naquele dia e cuidando de mim. Eu em pé e ela precisando de um banquinho para pentear meus cabelos. O quarto cheio de gente assim que ele nasceu. Uma farra! Tanta que a enfermeira pedia o famoso silêncio. E eu era só sorriso. O pai com aquela cara de bobão. Nem sei se teve charutio,mas ele fazia cara de charuto.
As cólicas na primeira noite em casa. O ronco do pai, alheio aos berros do filho. A vontade de chorar e rir da situação.
Os primeiros pontos. A cabeça presa no volante do carro e os bombeiros DIVINOS cortando o volante e eu pensando que eu estava medonha para sair na foto com os bombeiros. Matheus subindo no telhado e assustando todo mundo. Matheus comendo ração frolic e a certeza absoluta que o que não mata engorda. Os cachorros com a maior paciência com Mathues que cismava em subir neles e fazer pocotó pocotó. O irmão mais velho trocando as fraldas de xixi e enjoando com as de coco.
Primeiro dia de aula.
O primeiro caderno.
A primeira noite fora de casa.
Meu filho ali se transformando em mim, só que de outra forma.
A descoberta desse senso de humor infame, como o meu.
A voz grave e profunda, muito mais velha que os poucos anos. A voz do pai em um corpo pequeno e frazino.
O cachorro que o mordeu. Eu querendo matar o cachorro e Matheus me olhando lá no fundo e dizendo que ele era só um cachorro, mordeu porque é cachorro. Errado foi quem saiu com o cachorro na rua. Eu, calada, meus olhos baixos e úmidos.
O samba no pé. Uma mistura de Taz com a Lula Lelé.
As gargalhadas solitárias vendo tv.
A vontade de contar centenas de piadas da pior forma possível. Rio de tão ruim que é, mas rio.
Os milhares de mãe que ouvi nestes anos todos. Por qualquer razão. Por orgulho, por medo, por raiva, por tédio, por fome, por saudade. Alguns inaudíveis para outros além de mim. Eu sempre ouvi seus chamados mudos. E alguns me doeram lá no fundo da alma.
O choro miúdo de tristeza imensa.
Seu colinho magricela me dando alento e sua mão pequena em meus cabelos. Chora não, mãe, dizia cheio de coragem. E eu chorava ainda mais.
O amor impertubável pelo irmão.
O mesmo amor por qualquer bichinho.
Tanta sabedoria em uma pessoinha tão pequena.
Onze anos.
Onze anos sendo mãe de uma pessoa que cresce, vive, sofre, ri e eu já não posso controlar a sua vida.
Taí no mundo.
É a prova viva do meu envelhecimento e do meu orgulho.
Meu peito não tem mais leite mas jorra amor e, mesmo quando ele estiver grisalho e vier me pedir colo, é no meu peito que ele encostará para beber de meu amor.
Porque amor de mãe, assim como o meu, é o único amor que não dá a mínima margem para a dúvida.
Talvez a minha única certeza absoluta nessa vida: meu amor de mãe.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mãezona, mãe carinhosa e poetisa, como todas as mães que amam as suas crias (porque há quem não as ame, mesmo que sendo doentes mental ou espiritualmente). Neste caso, da Tatiana, uma mãe que sabe expressar sua emoção de amor e dor. Porque é lindo amar a cria e triste ver, ao mesmo tempo, que não somos donos das suas vidas, impedindo que sofram pelos dias a fora. Logo, parabéns a ele e a você. Cuidem-se. Sempre. As canções haverão de embalar ambos.
Do pai (que ama as crias feito uma mãe) e amigo.
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

Oi Tati
FELIZ ANIVERSÁRIO PARA O MATHEUS!!!
Bjs
Andréa