quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

ESSA MINHA IMAGINAÇÃO É POR DEMAIS FÉRTIL

Sou filha de Deus e mereço um auxílio luxuoso de uma faxineira porreta.
Na hora certa, lá vem ela toda serelepe pela rua, feliz da vida por ter aparecido um trabalho repentino e tirar o seu pescoço da forca.
Vi uma das minhas cachorras saltar em sua direção e meu grito fez que parasse bem pertinho da perna da faxineira.
Expliquei rápido as coisas, isso tá aqui, aquilo ali, começa assim que daqui à pouco eu volto, vou só no escritório acertar o que falta e já tô voltando. Não deixe o portão aberto porque os cachorros atacam as pessoas que passam na rua. Cuidado!
Fui dirigindo e pensando se tinha agido correto em deixar uma pessoa que os cachorros não conheciam dentro de casa.
Imaginei a cena.

O telefone do escritório toca e ouço a sua voz desesperada.
- Tatiana, venha me acudir! Aquela cachorra não deixa eu chegar perto da vassoura que está na área de serviço! Já rasgou um pedaço de minha roupa!
- Calma, Tereza! Onde você está agora?
-Trancada em teu quarto com os cachorros do lado de fora, em cima da cadeira, quase subindo no armário.
- Põe a cachorra braba no telefone que eu vou falar com ela.
-Tá. Vou colocar o fone pela fresta e tu conversa com ela.
...
- Tila, cachorra feia! Vá para casinha!!! Tereza é amiga, viu? Amiga!!! Muito errado ficar mordendo ela! Quando eu chegar em casa você vai ver só!!

A cachorra ouve e sai, meio a contra-gosto, para a tal casinha levando junto o resto da matilha.
A faxineira, triunfante, pega as coisas, fica de um lado para o outro e não percebe os olhinhos acompanhando seus movimentos. Em um descuido, naquela hora que se abaixou para pegar o pano de chão que caiu, sofre um ataque traiçoeiro pela sua retaguarda. Nhoc! Um berro aterrorizado assusta os vizinhos que correm mas não podem fazer nada porque tranquei o portão quando saí.
Uma cena chocante. Todos os cachorros mordem a coitada da Tereza que berra cada vez mais. Parecem coiotes na janta. Tila arranca as tripas e sai espalhando sangue pelo meu chão recém-encerado. Cacau prefere carnes magras e está roendo um cotovelo e o barulho de cartilagem é irritante. Mancha saboreia as orelhas e o nariz. Segura a cabeça com as duas patinhas e o rabo balança, feliz.
Quando chego em casa encontro somente uma carcaça de faxineira semi comida, o quintal está lavado de sangue, polícia, helicópteros, o carro do Correio Popular, um fotógrafo está em cima de meu muro clicando todas as cenas tenebrosas. A população está com raiva e ameaça quebrar o portão e invadir a casa. Quando me vêem gritam LINCHA LINCHA LINCHA.
Entro em casa debaixo de pedrada e um policial militar me avisa que vão atirar para matar aquelas feras terríveis e assassinas. Sou julgada e considerada culpada por crime de desleixo com faxineira no primeiro dia em casa e passo três anos presa em regime fechado. Na prisão viro o sucesso musical e ganho dinheiro imitando a Sula Miranda e a Sandy, além de traficar Marlboro vermelho e esmalte de unha da Angélica. Meus filhos me visitam de quinze em quinze dias e já começaram a aceitar Solange, minha companheira de quarto, como meu relacionamento estável. Olhando bem, se colocássemos os três dentes da frente que faltam até que ficava ajeitada.

Diante de pensamentos tão macabros volto correndo pra casa, intuição de mulher é uma merda, quando a gente pensa assim é melhor garantir, corpo todos os sinais possíveis, fumo vários cigarros de nervoso e chego em casa a tempo de ver Tila deitada de barriga para cima na sala, as pernas arreganhadas, a cabeça caída pro lado e a língua escorregando da boca. Quando me vê balança o rabo sem mudar de posição. Mancha toma sol e Cacau caça moscas em ritmo frenético. Tereza está muito feliz passando por cima dos cachorros e ainda dá pra ouvir ela dizer:
- Sai daí, vira-lata, que eu tenho que passar cera neste chão. Sai...
E ela sai mesmo.

Eu cheguei a acreditar na minha própria loucura. Bosta é realmente adubo.
Vá ter mente fértil assim longe!!!



6 comentários:

Anônimo disse...

Bom saber que voltou a ter faxineira. Parabéns! Suas cadelas são o quê, de que raça assassina?
Cuidado.
Cuide-se.
Ronaldo

Márcia Nestardo disse...

Por essas e outras que não posso ficar longe de você por muito tempo.
Santa fertilidade, Tatiana!
Amei...

Anônimo disse...

Vida aos vira-latas! São os mais fiéis, menos estressados e mais carinhosos animais. Afinal, é um rebosteio tão grande de genes que acaba vencendo o melhor.
Quanto à inspiração, no palavreado, ele sai de repente. E chega não sei de onde. Meu linguajar diário é o mais prosaico possível. Não falo nada rebuscado. E muitas vezes sequer encontro palavras para completar uma idéia. Acho que nasci para escrever, sob a inspiração de um santo qualquer que baixa somente à base de música e álcool.
Cuide-se. E devo ir sábado ao show. Levo faixa?
Ronaldo

Márcia Nestardo disse...

Tatianaaaaaaaa!
Me deu vontade de escrever.
Devagarinho... mas eu chego.
Vou "linkar" você lá... hehehe

http://branca-dias.blogspot.com/

Beijão!

Anônimo disse...

Teve uma hora que eu me assutei quando estava lendo...gostei muito do conto.

Anônimo disse...

hahaha..muito bom!..e bota fétil nisso!...e jah q alamos sobre cachorros, as minhas cadelas eu curto muito também..amo cachorros![foi tu que comento no meu flog né? tanks pelo comment!!!]
Bjo!