sábado, 5 de junho de 2010




Eu tenho lá minhas manias. Agora, entrando em casa nova, elas afloram todas, robustas e fortes, cheias de espaço para desabrochar.
Quero tudo pronto, logo, agora mas, infelizmente, as coisas não se arrumam sozinhas, nem surgem do nada. Eu tenho que fazer então eu faço, mesmo que isso me obrigue a entrar na noite passando cal em paredes e me cobrindo de branco ao ponto de eu mesma me assustar com minha imagem no espelho. Mesmo que eu acabe todas as minhas frágeis unhas metendo a mão na terra para plantar todas as mudinhas que comprei, eu deixarei a casa colorida com os verdes todos que eu preciso pra ser feliz. Arrasto os móveis duzentas vezes porque só vendo que eu vejo se a tal estante fica boa em tal lugar. Sento no meio de algum lugar e fico olhando o futuro que estou construindo. Saboreio o presente pensando no qe estar por vir.
Tô indo, devagar mas estou indo.
Não sinto vontade de sair de casa, gosto daqui. Gosto do cheiro que minha casa tem.
Interessante esse negócio de cheiro. Um amigo me deu seu primeiro comentário dizendo que a casa tinha cheiro de "casa". Isso mesmo. Minha casa cheira a lar.
Tem uma árvore que manda na casa. Não, manda não. Ela é a guardiã do local. Está ali, bem no meio do quintal com um galho quebrado, uma gemido mudo que me arrebenta os olhos e eu já combinei com o Mineirinho para que ele venha aqui ajeitar o quintal. A árvore-guardiã está inquieta, quer logo ser ajeitada e eu peço paciência. Tanta terra para colorir e distribuir cheiro, cores e vida.
Tem saci aqui também. Me levou a chave da porta da frente, sumiu do chaveiro. Coisa de saci mesmo.

Quando entrei aqui senti que a casa me abraçava, como quem revê um grande amigo. Retribuí.
Passo os dias traduzindo suas pequenas frases, entendendo suas preferências, seu humor. Gosta de música e de festa, mas é reservada em alguns locais. Meu quarto é meu e não é para todos entrarem, minha energia preservada aos limites máximos. Ainda estamos nos acertando, eu e o quarto. Sedução do século XVIII, daquelas boas. A sala é uma tia gorda e feliz. A cozinha é uma preta ranzinza que gargalha gostoso, de surpresa. A varanda é o umbral entre o meu interno e o mundo exterior. Algumas formas estão se formando ali, fortes e espadaúdos, ao lado da porta. Negros e reluzentes, brancos e velozes, vermelhos hemorrágicos, vida por todos os poros. Aqui, ao meu lado e sobre mim. Lá frente, no portão, todos obedecem a tal árvore que não sei o que é. Ela me parece meio brava mas não sei se é por causa do galho dela, despencado ou se é de sua natureza mesmo. No alto do muro um dragão ressona mas a qualquer momento pula, esperto e brada, bate as asas e os outros chamam isso de rajada de vento. Eu só rio e faço um cafuné, de longe.
Uma vontade louca de pintar tudo de branco, iluminar as sombras do tempo, espantar o passado, a história antiga e alheia que eu ainda trombo por onde passo. Um coisa, um pingente, um varal estranho cruzando sem sentido algum pra mim. A vida de outra pessoa ainda perambula por aqui, como fantasma perdido, sem correntes e livre mas qua ainda não sabe disso.
Viu minha maluquice?
Estou apaixonada por uma casa e converso com ela para que a paixão vire um longo caso de amor.
Bom se sentir amada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Casa nova é tudo de muito bom. Seja feliz no seu lar. Árvore cuidadora é sempre uma ótima sentinela, hehehe, alta então.... dá até para ter uma outra casa em cima dela. Por aqui eu já estou quase fazendo um sobradinho na árvore, é tanto neto que libero por senha as subidas na nossa árvore sentinela. Vale a pena ver a carinha dos meninos, que hoje nem são mais tão meninos mas com a mesma alma de criança de sempre.
Sinta-se amada e abraçada por esta sua nova fase.
Abraços,
India