terça-feira, 22 de junho de 2010

Estou bem sem o cigarro.
Pensei que fosse matar um ou fazer outro tipo de desvario mas isso não aconteceu. Tô calma, disciplinada, caminhando dias alternados, voltei a fazer minha yoguinha ( com o dinheiro economizado do cigarro), dando aulas, cuidando de minha casinha, de minhas cachorras, de mim.
Muito, muito mais calma. Uma taurina precisa de um lugar pra chamar de seu pra encontrar a paz. O fato de precisar ocupar minha cabeça e minhas mãos faz com que eu esteja trabalhando duro. O jardim está ficando bonitinho, plantei mudas e semeei sementes de lindas flores. Quero cores e perfumes aqui em casa, muitas ervas e muitas flores. Molho todo o dia, religiosamente e me sinto muito responsável fazendo isso. Jurei nunca mais matar planta nenhuma por falta de água e vou cumprir.

As aulas são uma lição de vida porque eu nunca que imaginei que fosse dar tantas aulas e ser chamda de "professora", "tia" e, pior de todas, " dona".
"Dona" é uma afronta a minha pessoa e eu estou decidida a fazer quer todas as crianças que eu dou aula me chamem pelo meu nome ou, no mínimo, por "professora".
Sei que não tenho envergadura moral pra dar bronca em quem esquece meu nome porque está realmente foda eu lembrar os nomes das quase duzentas crianças que encontro toda semana. Já expliquei que demoraria pra gravar os nomes, que sou bem doidona em matéria de nome e que no fim tudo vai dar certo. Mas os nomes, peloamordedeus, são uma sacanaem com essa professora aqui. Cleonildo, Glenissom, Kelenten, Ketelen, Alisson, Kiara além dos Brunos, Caios, Jessicas, Jenifer. Os velhos e bons Ana, Antônio, Josè, Maria sumiram todos. Chique é ter nome impossível de gravar ou que parece em novela.
Fui convidada para dar oficinas de contação de histórias. Sei lá porque me chamaram pra dar aula de contação de história para crianças porque eu mandei o projeto pra dar oficinas de música para adultos. Mas como precisava de grana, aceitei. Estou arrasando nas histórias, invento cada uma que eu deveria ter gravado, pena ter perdido aquilo. Mulas Sem Cabeça, Saci, Lobisomem, Boitatá, Boto Cor de Rosa, tudo isso faz parte de meu repertório e se me pedem demais histórias de "medo" eu sapeco umas adaptações do Cemitério Maldito do Stephen King ou então minha versão muito da boa da Boneca Maldita. Até eu fico com medo quando eu conto a história. Arraso. Eles se sentam pertinho de mim, um montinho de gente em volta de mim, todos os olhos parados, fixos em mim, nas minhas caras e bocas, na minha história, a dúvida sempre existe se aquela história é real ou não. Essa dúvida é o tempero da história e eu me esbaldo inventando monstros, heróis, dragões, encantamentos e maldições. Assim, tudo de improviso. Delícia.
Ganho milhões de beijos e afagos. Toda a semana eu sou acarinhada com o afeto mais sincero que uma pessoa pode ter:aquele que vem das crianças.
Isso me emociona muito e entendo que existem tantos mistérios nessa vida. Ando tão saudosa dos meus filhos e Deus me oferta isso, esse mundão de criança que me beija, que me faz rir, que me faz chorar, que me emociona até ao tutano do meu osso. Tão irônico e tão poético ao mesmo tempo. Tão lindo e tão cruel.
A vida tem desses mistérios e eu aceito.
Meu medo no começo era pegar piolho porque eu sou a mais piolhenta pas pessoas. Se tem um piolho a mil léguas ele acaba vindo em minha direção. Sou gostosérrima pra piolho. Dando tantas aulas era óbvio que eu pegaria piolho e as professoras me avisavam para prender cabelo, passar tinta, não ficar muito perto. Não dá. Não dá pra fcar longe. Que venha os piolhos todos, eu mato um por um, arranco de mim e da cabeça deles, mas não dá pra não abraçar, pra não ficar juntinho, pra não ter aqueles ataques de bobeira e cair no chão, morrendo de rir, rolando na terra.
Que coisa louca. Não sou uma educadora, sou uma artista mas a vida está me colocando dentro de uma sala de aula para que eu aprenda. Tô aqui atenta. Muito atenta.
Filhotes, saudade de vocês, viu?

3 comentários:

N. Calimeris disse...

Saudades de você! Ai, que bom ler você, saber de você. Tá vendo? Fala disso, desse mundão gostoso que você tá vivendo. Eu ando tomando cuidado também. To escrevendo de coisas que gosto e sou eu que to ali.

Anônimo disse...

Não aguentou, não é????
Sempre bem vindo seus textos, rs... confesso que sabia que você já teria escrito alguma coisa.
Criança é bom, muito bom, na pureza de ser eles falam sempre a verdade sem pensar em ser delicado ou gentil, geralmente são mas com espontaneidade.
ABraços
India

Sabrina Zahara disse...

Égua!
Tatina, Bom te ler.
Luz.