terça-feira, 19 de janeiro de 2010

o passado, o xaveco e a sinuca

Estava eu, toda pomposa, na casa São Jorge curtindo a música e revendo pessoas amigas e queridas.
Já na entrada dou de cara com um ex, um ex daqueles que eu matei metaforicamente. Matei mesmo, matei, queimei, xinguei e esqueci. Mas só fiz isso porque o tal tivera realmente uma importância na minha vida. Eu acreditava que só a morte liberaria da dor. A gente acredita em bobagens, fazer o quê?
O ex estava muito, muito bêbado e , como todo bêbado, absolutamente sem amarras na língua, o coração arreganhado e ali, no meio daquela fuzarca do cacete, resolvemos nossas pendências de forma muito bonita. A conversa etílica ( eu também não estava lá muito no meu normal) valeu e levou a um ponto onde a sinuca foi mencionada. A necessidade fechar essa conversa de forma amistosa e fraterna nos levou à decisão que nada seria melhor, naquele instante, de que uma partida de sinuca, o símbolo maior da brodagem deserotizada.
Fui pagar a conta e na hora que me virei para ir embora, dei uma trombada de peito com um desconhecido. Por sinal, muito do ajeitado. Eu estava meio chapada mas ainda não completamente cega. O moço era realmente um pitéu e eu disse um desculpe misturado com um tchau e fui embora para meu carro.
Chego no carro, o rapazinho que cuida dos carros vinha em minha direção e eu quase tenho um ataque cardíaco quando o moço ajeitadinho salta na minha janela, afasta o rapaz que cuidava do carro dizendo que ele mesmo acertaria a grana com o moço que guarda o carro. Eu, de boca aberta.
O moço veio atrás me dizendo que tinha ouvido a conversa na fila do caixa e que achava um absurdo eu afirmar que nunca tinha ficado bêbada. Expliquei que na verdade eu disse que na virada do ano eu não tinha tomado absolutamente nada. Ele me convida para tomar um porre com ele. Eu teria tomado um porre feliz com aquele moço, confesso, mas a situação que eu estava era mais importante do que um porre com um desconhecido ajeitado. Meu passado pedia um cuidado que meu futuro agradeceria. Recusei o convite.
O moço me olhou bem sério e pergunta:

- Você não foi com minha cara, né?

Não dava pra mentir.

- Na verdade, fui. Fui muito com sua cara, mas eu tenho um compromisso importantíssimo.

A expressão dele era de quem não acreditava nisso.

- Agora? Quase duas da manhã?

-Pois é. Fui convidada pra jogar sinuca com um ex, que está super bêbado. Não posso perder essa oportunidade!

-Fazer o que?

-Sinuca. Me diga você se eu posso perder essa oportunidade. Jogar sinuca com um ex que está bêbado. É a oportunidade de eu ganhar dele na sinuca. Ganhar de um ex na sinuca! Você tem idéia do que é isso??

O cara me olhava meio na dúvida até que um sorriso malicioso apareceu, um sorriso de quem entendia mesmo, me estende a mão que eu aperto, feliz, e ele me diz:

- Vai! Vai e bota pra quebrar! Tô torcendo por você.

Me beija a mão e eu sigo para minha sinuca toda feliz com o xaveco compreensivo do rapaz.
Gostaria de reencontrar ele só pra dizer que perdi na sinuca, mesmo com o ex bêbado e que saber que ele estava torcendo por mim me distraiu a cabeça. Talvez por isso eu tenha perdido.
Melhor...seria bom jogar sinuca com o moço que beija mãos de forma muito elegante e que entende as subjetividades das relações.
Gostei daquele moço.
Dormi com um sorrido idiota na cara.

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