sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

eu,a sinuca e os homens

Com a ficha a um real eu virei fã de me divertir jogando sinuca. Eu adoro, queimo calorias andando quase um quilômetro e meio em volta da mesa, trabalho minha concentração, desenvolvo meu auto controle e, quando ganho, também desenvolvo minha autoestima e é o programa mais barato que eu poderia fazer em épocas de vacas anoréxicas.
Virei sinuqueira.
E eu tô dedicada, tô me aplicando na coisa. Chamo os amigos pra jogar, todos aqueles que eu sempre tinha tomado surras homéricas, chamo todos, um a um. E assim aprimoro meu jogo, estudo o estilo de cada um, aprendo com cada um deles, afinal, são amigos, são parceiros, etc, etc, etc...
Hoje foi o dia de R. Não vou colocar o nome dele aqui porque eu sei que algumas pessoas não gostam de ter sua intimidade exposta. Chamei R. pra jogar uma partidinha. Quase que tive que implorar pra jogar uma sinuquinha. Aceitou, ai que bom! Lá fomos lá jogar a famigerada sinuquinha.
Ganho a primeira mas está tudo normal, ninguém mostrou jogo mesmo, tudo empatado, eu só dei a sorte de finalizar mas o jogo estava pau a pau.
Vamos pra segunda partida de melhor de três. Já digo logo que eu perdi mas eu joguei pra caralho, nem eu estava acreditando! Sabe mão abençoada por Deus? Eu! Estava o demo mesmo!Bati em uma bola aqui, quicava aqui, quicava ali, pá pum, encaçapa uma outra que nem eu tinha visto que estava na mesa, muito menos pensar em uma jogada complexa. Mas eu matava! E o mais importante, o que faz toda a diferença é a cara que a gente tem que fazer na hora que vê a nossa jogada, quando vê que putaquepariuvaisercagadaassimlonge!!! Nessa hora é que o negócio realmente pega no psicológico, a hora de fazer a cara meio blasé, meio desatento. Tem que ser aquela cara de coisa mais normal do mundo, faço isso todo o dia que nem me impressiono mais. Essa é a cara que ganha o jogo antes do jogo terminar! Essa expressão no rosto de uma mulher jogando sinuca é absolutamente devastadora para o ego masculino.
Não ganhei por vacilo e no meio desta partida eu vi meu amigo R. me olhar estranho. Ele sabe que eu não era mais aquela menininha ingênua de antigamente que ele ganhava uma, duas, TRÊS VEZES seguidas! Não, aquela menininha boba que mal sabia segurar no taco, que apanhava, apanhava, nunca ganhava de ninguém, coitada, aquela menininha aprendeu a olhar direito, a controlar sua ansiedade, a pensar defensivamente, agora fica na postura correta, joelho esquerdo dobrado, direito reto, queixo no taco, taco na mão, mão na mesa, levanta um pouquinho que se tivesse um pedacinho de alguma coisa em baixo, agora a menininha sabe que nunca, jamais nessa vida se passa giz rodando o coitado como se fosse um limão sendo espremido! Nunca! Não pode! Tem que dar rabiscadinhas sobre a potinha do taco. Risquinhos, não rosquinhas. E sabe onde que a menininha aprendeu tanta coisa? Na internet, veja só você como é incrível uma coisa dessa. Foi lá, digitou no google S.U.N...errou, peraí, faz de novo ...SINUCA...um monte de video, um monte de gente que escreve, foruns e o cacete! A meninha viu tudo! Viu, reviu, viu campeonato brasileiro de sinuca feminina ( não entendo isso, dividir em gênero na sinuca pra que meu pai do céu), viu um menino filho do demônio que nem vê a mesa de cima e já mata tudo, viu o cara do chapéu, viu que ela diz que joga sinuca mas joga bilhar porque sinuca é outra coisa, morreu de inveja, quis morder o cotovelo, por causa de um taco lindo de morrer, todo trabalhadinho em machetaria..machetaria? É isso? Existe isso, machetaria? Bem, não importa. Isso tudo não importa!!
O que importa mesmo é dizer que ganhar daquele meu amigo R foi um tipo de prazer novo. Meio sádico, não nego, mas muito bom.
Ver a expressão dele alterando de.. de...aquela expressão...não me vem o nome da expressão, porra, mas sabe aquela cara que a gente faz quando um menininho de oito anos convida a gente pra jogar xadrez e a gente vai, mas vai fazendo uam cara de... sabe aquela cara que mistura ai que bunitinho, até parece que ele pode ganhar?Pois é essa. Só que EU era o menininho de oito anos na sinuca contra o marmanjão experiente.
E, "olha só que coisa doida, não é que tá dando trabalho?". Essa é a segunda expressão, aquela que nasce quando percebe que a coisa não vai ser assim tão fácil. Pelo contrário. Agora a porra vai pegar. Essa foi já na segunda partida. Ele ganhou. Verdade.
Vamos para a vera. Nem conversa direito rola, é só jogo, concentração total. A única ciosa fora do jogo era o copo de cerveja que esquentava. O negócio era ali e, putaquepariu, desculpe tanto palavrão, mas putaquepariu é do caralho você ver as coisas dando certo daquele jeito, PUTAQUEPARIU, É BOM DEMAIS!!
Ganhei. Ganhei bonito pra cacete, ganhei de duas formas. A técnica está inegavelmente melhor ( as pesquisas no youtube não foram em vão) e eu soube usar da psicologia. Nunca em momento algum eu vibrei uma jogada. Tudo sempre muito comum, aquela cara lá de cima. O bestão acreditou! Também nunca deixei de elogiar uma bela jogada dele e também nunca deixei de dar uma boa e gentil esculhambada quando ele errava uma aparentemente fácil. R. começou a desacreditar nele. Estava mexendo com as estruturas básicas da Psiquê masculina. Nunca me vangloriei para ele. Pelo menos eu não falava, eu dava gritinhos histéricos por dentro, eu pensava, aos berros, todos os PUTAQUEPAIU que eu podia mas nunca expressava nada. Normal. Fina. Um lord inglês. Eu, um lord inglês jogando bilhar.
Isso foi abalando tanto meu amigo, coitado. Ainda mais porque tinha um monte de homem jogando nas mesas ao lado. Quando se joga em dupla dá pra dar uma olhadinha no jogo alheio e a gente tinha um certo público. Perder publicamente mexe com os caras. Mexeu com ele tanto que quis parar pra fumar.
Fumamos. Tentamos uma melhor de cinco que eu ganhei.
Não! Vamos jogar mais um pouco, pedia eu, louca pra jogar mais um pouquinho. R. volta se arrastando. Joga pior. Cada ver pior. Erra bolas simples, desconcentra, na hora de resolver, medra e fica falando para ele mesmo: cadê sua auto confiança, R?
Ele falava o nome certo e não só o erre, eu é que reduzi pra que ele não se sentisse mal. Pois é, voltando ao R., ele se fudeu.
A última partida eu cheguei a pensar, confesso aqui de coração aberto, eu realmente cogitei a deixar ele ganhar para que ele não voltasse para a casa dele com aquela cara. Seria aquele mesmo tipo de caridade de quando a mulher finge o orgasmo. "Pô, coitado, tá aí no maior esforço, não tá dando nada certo, é verdade, mas, pô, o cara tá aí, super esforçado, ah, vai, coitado, só pra ele não ficar chateado. ai, ui, ohhhhhhhhh"
Horrível, eu sei. Mas a cara dele também era uma coisa horrível.
Parecia que eu tinha roubado o saco dele. Pior! Parecia que eu tinha me apropriado de uma coisa que era dele,era ele! O saco dele! Mas eu não roubei, eu não tirei,e não saí correndo com as bolas dele sacudindo na mão, uma ladra. Não, eu ganhei por mérito, de forma justa, clara, combinada antes, ele sabia o que estava em jogo ( as bolas dele), mas mesmo assim ele foi, apostou as próprias bolas e ganhei. Peguei pra mim como espólio de guerra e agora é meu por direito.
É mais ou menos essa cara que ele fazia. E eu não faço questão de bola de ninguém! Nem queria as bolas dele, se eu soubesse que eram as bolas, eu não iria! O que que eu vou fazer com as bolas alheias????
Fiquei com dó de verdade mas não facilitei porque é meu amigo e fazer isso com amigo é meio sacanagem. Fiquei na dúvida se seria ético ou não. Uma questão que eu nunca tinha me deparado e como eu tinha que decidir logo, deixo ele ganhar ou não deixo, estava naquela dilema, deixo não deixo, dou uma cacetada e não é que eu matei a porra da bola? Vai saber!
Só que ele não sabia que eu também nem fazia idéia de como aquilo estava acontecendo. Mas mantive a cara de cu.Normal.
O fato de eu ter ganho sem querer me libertou do dilema ético. Ganhei, tá ganhado, se ficar mal o que que eu posso fazer, não era pra valer, não tinha que ser, você não aliviou pra mim quando me viu bater na bola 3, completamente ímpar, quando era você que matava as ímpares. Eu não errei a bola. Eu me distraí. O que aconteceu? Ficou quietinho. Deixou eu bater na bola. Passei por velha com Alzheimer, jogadora de sinuca de merda e você, nem abriu o bico. E ainda quis me punir com duas, gente ele queria tirar DUAS bolas dele! Eu sei que a regra é assim, mas é amigo ou não é? Bem, não perdoou a distração de mulher maluca e desequilibrada que sou/estou, então que vá procurar ajuda. Ou acostume-se.
Poxa, eu tenho que praticar. Nenhuma amiga minha está jogando no mesmo nível, eu preciso praticar! Se nção for com meus amigos que jogam sinuca vai ser com quem? Com meus amigos que não sabem jogar sinuca? Que acha que sinuca é violento demais. Pelo amor de Deus, se eu melhorar muito meu jogo e eu for jogar com meus amigos ou eu perco ou eu arraso com o amigo. Vou ficar sem amigo.
Dilema, viu.
Homem, você é um bicho muito, muito bobo.

4 comentários:

claudia lyra disse...

Huahuahauhauahauahua... literalmente chorei de rir!!! Huahuahauhaua...

Patricia(Gô) disse...

Ó-TE-MA
Agora vc precisa de um nome de jogadora .Não tem o Rui Chapeu o Baiano de Itabuna e varios outros ? ...vou pensar em algum....ou já tem?
bjs

Tatiana disse...

Go,
Menos, minha amiga, muito menos. Tô a anos-luz de qualquer coisa diferente de uma iniciante bem da iniciante mesmo.
Mas to aqui me aplicando.

aline. disse...

imagino a cara que tu fazia quando ia bater nas bolinhas. as pobrezinhas deviam se sentir ainda menores, com medo, do tamanho de uma bolinha de gude, e iam correndo pra dentro da caçapa pra se esconder. pânico geral. mas o importante é vencer, mesmo que no terrorismo. é isso aí.