eu e o encanador

Acordo com ele ao portão perguntando por Carô, que divide casa comigo. Digo que ela está dormindo, peço alguns instantes para me vestir e vou recebe-lo. Os cachorros querem comer ele vivo e eu gosto disso. Faço a cena de que preciso segurar, que eles são uma fera, blá blá blá. as cachorras seguem meu roteiro mas Mancha, um senhor idoso, esquece suas falas e sai para rua sem nem olhar pro encanador. Explico que ele está cego, por isso não atacou. E tá sem dente também mas as cachorras...virxe, perigosíssimas.
O encanador entra em casa, olha o que tem que fazer ( colocar a privada que eu quebrei quando aquela barata assassina me atacou) e me diz:
- Fica por aqui, tá? - me pede com a maior calma.
- Aqui onde?
Eu, hein...pedido esquisito.
-Aqui, pertinho.
Eu, HEIN!
-Fazendo o que? - pergunto eu bem desconfiada.
- Ah, olhando eu fazer o serviço.
Veja se eu posso com isso. Um encanador carente. Precisa de companhia ou está se borrando de medo das cachorras.

E assim fiz. Fiquei lá o máximo de tempo que consegui. Me perguntou quem era músico na casa porque viu o equipamento de som, me perguntou que tipo de música eu tocava, me contou que ele tinha um autógrafo do Tom Jobim conseguido no Rio de Janeiro, quando tinha uns 13 anos e tomou um chopp (!!) junto com o Maestro. Falou de Vinícius, dos olhos de Chico Buarque, que tocava sax e agora está no maior papo com Carô na cozinha, falando de música moderna, de música instrumental, dos grandes nomes da música popular brasileira e eu to aqui escrevendo pensando que as pessoas podem ser surpreendentes. As coisas podem ser bem diferentes quando se olha de uma outra forma.
O serviço de encanamento já acabou, o telefone dele não para de tocar, ele atende dizendo "pizzaria (!!!!) e mesmo assim, lá está ele completamente encantado com a conversa com Carô.
Absolutamente improvável.
Adoro essas coisas que acontecem nessa casa. Adoro.