segunda-feira, 26 de outubro de 2009

resuminho do fim de semana

- Toquei na sexta com um outro percussa que me chamou pra cobrir não sei quem. Estranhei demais. A gente se acostuma com esses merdas, viu?

- Durante o show do Cantança minha saia caiu. Graças aos meus reflexos poderosos de fumante consegui segurar a tempo de evitar uma tragédia. Parei o show, pedi ajuda ao percussa e passei os sessenta segundos mais constrangedores da minha vida: eu com o show parado, a saia caindo e um percussionista tentando desesperadamente fechar uma saia rebelde enquanto eu era sacudida pra frente e para trás.
Momento único.


- O trio foi tocar logo depois do Cantança. Chegamos muito cedo no bar, o dia ainda estava claro, o calor era grande e o cansaço do show do infantil ( e as emoções das saias despencando) pediam uma cerveja. Tomei. Tomei mais de uma. Não sei ao certo quantas tomei. Só sei que em determinado momento avisei ao tecladista que se eu começasse a atravessar muito nas harmonias, ele podia me dar um esporro e me mandar parar com essa maluquice. Expliquei que naquela noite eu precisava tomar cerveja, eu precisava botar pra fora meus demônios e eu precisava fazer isso cantando. Foi a risada mais compreensiva que recebi em toda a minha vida e gradeço tanto por isso.
Sim, botei os bichos pra fora. Botei meu coração ali no chão, o povo chutando meu coração mas ele estava ali, ó, arreganhado, saltitante, sangrando mesmo, meu coração ali no chão e minha alma escorrendo de mim, descendo por meus cabelos, deslizando por minhas pernas e se fundindo com meu coração histérico, tudo se misturando ali, na frente de todo mundo, minha alma levantou meu coração e eu engoli os dois em um gole de cerveja fria, fechei os olhos e eu sentia borbulhar dentro de mim minha alma e meu coração. Borbulhei. Borbulhei todas as notas, todas as minhs dores, todas as minhas delícias, meus gozos explícitos, meus suspiros escondidos, meus delírios desperdiçados, meus sonhos, meus medos, tudo ali, arreganhado, saltitante, sangrando e eu cantando como se fosse morrer amanhã, como se eu não pudesse deixar nada dentro de mim, tinha que limpar, tinha que lavar, jogar baldes e mais baldes de água para que eu pudesse ficar vazia outra vez. Era necessário demais. Era sobrevivência.
E eu cantei. Eu cantei com tanta vontade de cantar que fui pra outro canto. Nós três lá naquele outro canto, naquele mundo dos encantados onde as conversar são nas harmonias e nos ritmos. Eu estava lá. Estava tão feliz! Uma satisfação imensa, uma certeza de estar no lugar certo fazendo a coisa certa. Foda-se que eu to pelada ali, nua, que eu sou porta escancarada, foda-se que eu não tenho privacidade alguma, que minha alma fica meio que escapulindo de mim e qualquer um pode ver, minha alma é colorida demais, meu coração é um louco, desvairado, exibido, promíscuo, devasso. Minha alma e meu coração escapam de mim sempre que me distraio. Foda-se. Eu quero é isso mesmo. Cantar com a alma e com o coração. Eu quero mais é essa suruba musical, essa loucura de ser muitos e um só ao mesmo tempo, essa troca de fluidos musicais, essa esfregação de coração, essa sacanagem boa das almas, dos sons que saem da gente, esses gemidos todos. E a catarse...Nossa, aquela hora que o som tá mais forte que o próprio corpo, que a gente nem pensa no que tá fazendo, faz, so faz, vai crescendo um tipo de energia, sabe que o fim tá chegando, os bichos todos correndo em volta das nossas cabeças, o peito sentindo a pressão, o fim é inevitável e então a coisa toda explode em um final perfeito que fica retumbando por todo o canto. Mesmo quem está só ali assistindo sente isso também. Tem que sentir, é pra sentir! E aí, meu coração, minha alma, os outros corações e almas dali, tá todo mundo junto, tá todo mundo mais feliz.
Minha alma ralada e meu coração estrupiado não são nada diante disso. Raladura cura e estrupiação também. No fim, na verdade, todos os corações e almas são meio que remendados. A diferença é que eu mostro pro mundo e talvez minha função seja exatamente essa: mostrar pro mundo meu jeito alquebrado pra que quem olhe não se sinta tão sozinho. Talvez seja para criar empatia. Ou, quem sabe, pra despertar.
Não sei. Só sei que nunca cantei por tanta necessidade.
Hoje, exausta além da minha capacidade, percebo que não tenho muitas escolhas. Meu coração e minha alma são exigentes demais e sem alma e coração não vale a pena viver.
Eu quero viver.

Um comentário:

Carô disse...

Adoro ver e ouvir isso em você, querida :-)!
Beijos