primeiro capítulo- http://impressoesemdesalinho.blogspot.com/2009/10/folhetim-vagabundo-estreia.html
segundo capítulo - http://derrubandoparedes.blogspot.com/2009/10/folhetim-vagabundo-capitulo-2.html
"...
De perto a mulher parecia ainda mais impressionante. Talvez fosse o inusitado de sua presença que a tornasse isso, súbita e bela. Mais bonita do que poderia aguentar. A beleza chega a ser uma afronta quando estamos esvaindo em sangue em plena madrugada. A beleza pode ser um tapa na cara.A beleza da outra dava a exata medida da mediocridade que era a vida que vinha vivendo.
O rosto queimava, como se tivesse sido estapeado mesmo. Quente e vermelho. Tudo em sua volta parecia quente e vermelho.
O que ela estava fazendo ali? Veio dizer que ela era uma idiota por ser humana, por ser fraca, por ser assim tão ..tão...tão intensa? E daí?Talvez ela não estivesse ali, era um tipo de rebordosa de vodka vagabunda. Talvez tudo isso fosse um sonho. Já tinha lido, em algum lugar, que é possível controlar os sonhos, uma questão de exercício e foco, e se se esforçasse um pouquinho, quem sabe, podia mudar o cenário, as pessoas. Foco, só isso. Pensando bem, isso tudo é bobagem. Daqui a pouco não sonharia mais. Era só isso que queria: nunca mais sonhar, acreditar. Nunca mais sofrer. Nunca mais.
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É meio complicado esse negócio de saber fazer entradas dramáticas. Sempre que eu chego em algum lugar, nessas horas cheias de drama e suspense, imagino que vão me aplaudir, como se aplaude as grandes divas do teatro. Sim, sim. Eu sei que isso seria meio improvável, que é meio vaidoso demais, mas é sempre essa a impressão que eu quero causar. Assombro e admiração. E palmas sempre caem bem.
Não tive aplauso algum, só aquela cara de "putaquepariuqueporraéessa".
Povo sem sensibilidade.
Olho para ela, só pra ter certeza. É, tá mesmo na merda. Como se fosse possível eu estar em algum lugar que não estivesse rolando alguma merda, alguma confusão. Adoraria férias prolongadas, uma praia deserta, um moço bonito sussurrando indecências, saladas afrodisíacas. Pelo jeito, a humanidade não descansa em matéria de sofrimento.
A coitada me olhava como se eu fosse um tipo de fantasma. Nossa, que cara medonha. Não que ela fosse uma mulher feia, longe disso. Mas parecia gasta, um pano de chão velho, encardido e sem esperanças. Esses eram os meus tipos preferidos, nunca entendi direito o porque.
A casa estava uma zona, exatamente como ela devia se sentir por dentro. Bagunçada, cheia de bituca de cigarro, fedendo horrores e sem possibilidade de uma faxina básica.
Eu era a faxineira. Pensar nisso me tira um pouco do glamour e do entusiasmo. Sempre que tem sangue nas situações que eu tenho que aparecer, me sinto meio mal. Sei lá. Nunca fui boa com sangue. Prefiro coisas mais efetivas e menos dramáticas. Não sei. Acho que causa muita melança, muita sujeira. E sempre me faz pensar que isso é coisa de masoquista. Quer parar de sofrer mas cria uma situação que a dor cai em gotas, escorre por tudo, lentamente. E faz essa zona do cacete!
Não é difícil pra mim manter essa expressão blasé. Faz parte do personagem. O foda é aguentar essa calcinha entrando na bunda. Puxa vida, que coisinha desagradável. Insisto que ela pegue a caixa. Não que eu esteja com pressa, magina, tô aqui inteira, tô mesmo, mas se fosse possível passar logo dessa parte do susto e chegar logo nos finalmente iria adiantar por demais o meu lado.
Não acredito que a curiosidade é menor que o assombro. Que povinho, viu.
Ah, é? É assim? Vai ficar aí, paradona, me olhando com essa cara de cachorro que fez coco no tapete? Não vai pegar a caixa? Não? Tá bom. Eu abro pra você. Essa é uma cena que eu gosto também, o momento que se abre a caixa. Adoro. Se tivesse uma luz meio de contra ficaria lindo, bem dramático. Eu adoraria fazer " tchan, tchan", mas eu acho que isso quebraria o clima. Faço um tchan tchan silencioso, por dentro, e abro a caixinha. Tá cheia de sangue. Ai, que nojo. Boiando naquele sangue todo, um pedaço de picanha argentina de altíssima qualidade.
Picanha? Puta que me pariu!!! PICANHA???"
continua aqui:
Quinta é a vez de Eduardo de Santhiago - http://portudoquesinto.blogspot.com/.
7 comentários:
Agora segura a bronca, Du! Porra, picanha foi foda, Tati! ahahaha.
Eu a.d.o.r.e.i, e me contorci de tanto rir. Tinha certeza que você ia acabar com o climão, hahahahaha!
Hahahahahaaha
Putaqueopariu.
Picanha?????
Eu sabia que você ia abalar Bangu.
Tá pingando, Dudu. Te vira.
Hehehehehe
Beijos
Caramba! Eu sabia que eu não conseguiria me controlar....
Lynch foi pro saco, hahahahahahahaha...
Só vc, Tati...
Papo neura demais...tava precisando de uma esculhambadinha. Eu tinha avisado, eu tinha avisado!
Caixa de picanha????????????
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