quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quadra de escola de samba

Eu nunca tinha ido a uma e estava ali, na quadra da escola de samba Curicica, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro.
Senhoras, crianças, moços e velhos, todos ali ao som da bateria, do cavaco e da voz do puxador. Lindo. As menininhas de sete aninhos olhando tudo, muito atentas, tentando repetir os gestos, os passos. Eu ali vendo tudo com olhos bem abertos e meu coração todo emocionado. Eu estava em uma quadra de escola de samba! Uma de verdade, sem pintura para turista ver. Aquilo ali era da comunidade mesmo, quem estava ali, quem tocava, quem sambava, todo mundo era daquele lugar.
Quando as passistas entraram eu concluí que existe uma estética própria para o mundo do samba. Para mim todas aquelas mulheres eram gordas, ou quase isso. Para os homens que chegavam a babar, eram deusas bundudas.
Nunca tinha vito tanta bunda grande junta em um único lugar! Uma abundância mesmo. E o samba...puta merda, aquelas moças sambavam de verdade, aquele samba carioca, mais quebrado, mais desmembrado, perna, pé, quadril e braços, tudo sambando. Eu me senti uma norueguesa quando me comparei a elas, em matéria de samba. E de bunda também.
Eu não conseguia parar de observar as pessoas que estavam por ali. Comecei a olhar, muito discretamente, as bundas masculinas, pra ver se era uma coisa de genética, sei lá, podia ser um bairro mais bundudo do que o normal, ou então as pasistas eram escolhidas de a cordo com a protuberância bundística. Descobri que era genético mesmo. Cada negão sarado bundudo! Aliás, os negões eram outra atração. Alguns com cara de poucos amigos, braço cruzado sobre o peito, olhando por cima da cabeça de todo mundo. Esses me davam um pouquinho de medo, mas havia outros que eram o espírito carioca: cantando e sambando sem parar, um copo de cerveja na mão, aquela felicidade transloucada que o samba dá.
Eu lá, aquela cara óbvia de turista, branquela e sem bunda. Eu chamava atenção e tomava o maior cuidado pra não olhar bunda de moço acompanhado. Aliás, nem olhava pra homem acompanhado, fosse bundudo ou não. Nem gosto de homem bundudo, na verdade. O que eu não queria era arranjar confusão na terra dos outros, na quadra dos outros. Queria só observar.
Sinto um futucão no meu ombro. Olho e dou de cara com um mulatão forte, uns quarenta e poucos anos, braços de estivador, olhos injetados e bafo de cerveja, que sorria pra mim e me dizia que tinha gostado de minha " presença" e me convidava pra tomar cerveja com ele. Me olhava dentro do olho e falava bem pertinho.
Em milésimos de segundo eu pensei que nã seria sensato aceitar mas que eu tinha que ser política pra evitar qualquer melindre.
Disse que estava com um pessoal que eu não queria me separar mas que agradecia o convite. Pelo rabo de olho vi outros dois homens acompanhando nossa conversa. Estavam juntos. Não gostei daquilo.
O mulato, como um Zé Pelintra elegante, fez uma curvatura de corpo, beijou minha mão e voltou pro seu lugar.
O detalhe é que naquele instante não tinha ninguém perto de mim, o povo todo estava espalhado. Eu estava sozinha.
Ele, o mulato pelintroso, se dando conta disso volta e me pergunta " que pessoal está com você?". Senti a barriga gelar. Caramba, e agora?Ele já estava ao meu lado outra vez, falando ao pé do meu ouvido para poder ser escutado por causa da bateria. Os dois caras ainda olhando, sérios.
Ele insistia na cerveja.
Sinceramente, isso era a última coisa que eu queria: confusão com o povo da comunidade. Pensei no meu pessoal: um magrelo, um baixinho, um francês e uma francesa. Nem daria tempo de fugir. Não dava pra ter treta de jeito nenhum.
Usando de todo meu talento de atriz, improvisei dizendo que eu agradecia muito o convite, fica honrada com a atenção dele mas eu estava acompanhada e não pegaria bem eu tomar cerveja com ele e os amigos. Ele me pergunta: "acompanhada, acompanhada mesmo?". "Sim, acompanhada, acompanhadíssima". Me olhando como se percebesse que eu mentia, levantava a sobrancelha, indagando: "cadê?".
Justo nessa hora meu amigo magrelo surge lá no fundo e eu percebo que ele entendeu, de algum jeito, o que estava acontecendo. Eu, sem graça e tensa, um mulatão forte pra caralho falando bem perto do meu ouvido. Sacou na hora e veio sério em minha direção. O mulatão foi dando passos pra trás, sem dizer nada. Meu amigo fica do meu lado com cara de marido. Eu grudo nele e nem olho pra trás. Só relaxo quando percebo que o trio foi embora e não tinha rolado confusão nenhuma.
Não fiz nenhum comentário sobre o ocorrido, mas depois quando eu fui ao banheiro, vejo o mulatão lá de longe que me saúda com um copo de cerveja e me manda um beijo.
Nem dou bola, mas entro no banheiro ridno por dentro pensando que existe uma malandragem carioca que é uma coisa gostosa de ver.
Eu acho que ainda volto naquela quadra.

2 comentários:

figbatera disse...

Eh.. situação difícil de administrar; vc se saiu bem!

Delio disse...

PROBLEMINHA DE COMUNICAÇÃO

A moça se produziu toda para ir a um ensaio no Sambódromo.

Chegando lá, um negão, vestido de Vascão, suarento, tira ela pra dançar.

Para não arrumar confusão, ela aceita.

Mas o bicho suava tanto que ela já não estava suportando mais!

A moça foi se afastando, e por fim disse:

- Você SUA, hein!

Ele puxou-a, lascou-lhe um beijo e respondeu:

- Também vô sê seu, minha princesa!


===>>> Não resisti :)