sexta-feira, 25 de setembro de 2009

homem e poesia

Fui ao lançamento do livro de poesias que junta, em um livretinho lindo de morrer, três nomes: Alice Ruiz, Ná Ozetti e Neco ( marido de Ná). Nem preciso falar da qualidade da cosia toda. Esse livro é feito com papelão reciclado, tem toda uma história social atrás dessa fabricação, todas as capas são pintadas a mão por crianças e artistas e são únicas, totalmente diferentes entre si. Não é que eu queira me gabar, mas eu tenho um com três lindas dedicatórias. Pois é, fazer o que...
Mas voltando... O lançamento foi em um bar na Vila Madalena, um botecão daqueles que eu gosto, cheio pra cacete, o metro quadrado mais habitado de homem bonito do mundo. Tá certo, eu me empolguei um pouco, mas que era um espetáculo, ah isso era.
Veja só o que é a vida, eu comecei aqui querendo falar da beleza do lançamento do livro de poesias e acabo divagando sobre a beleza do homem da Vila Madalena. Parece que eu tô me perdendo, mas não tô.
Como com os homens, a gente tem que aprender a ver a beleza na simplicidade e no dia a dia. Poesia diária, cotidiana. Poesia pensada e poesia espontânea. Alguns rapazes ali eram poesia pura. Cada estrofe bem acabadinha, rimadinha, tudo encaixado na língua, escorregando direito pela dicção da gente. Alguns eram poeminhas como os hikais ali daquele livro, suscintos no seu encanto. Outros eram poesia concreta, abstrata. Duros, cheio de quinas, de espaços vazios. Tinha uns rapazes absolutamentes perfeitos e chatos como aqueles poemas parnasianos. Tinha até folha em branco, lindo na sua falta de tudo! Simples, simples, simples...
Cada um sendo poesia de seu jeito.
E eu ali, observando tanta poesia solta no ar, batendo nas folhas da árvore, cavalgando a fumaça do meu cigarro. Poesia subindo pro céu. Poesia sem dedos. Poesia que passa raspando por trás, pede licença e some pro banheiro. Poesia que te pede o isqueiro e sorri com covinhas. Poesia antiga, rosto talhado, barba branca, uns olhos de saudade daquilo que fazia antes e já não faz mais. Poesia vivida demais. Poesia vívida de mais, cor demais, cheiro demais, muito assim em minha volta. Poesia do macho.
E eu ali, bêbada de vinho e lirismo, só eu via aquilo que é a mais pura obviedade: os homens são poesias que precisam ser reveladas. Os homens são poemas mudos até o momento em que eu - ou você, qualquer mulher- os decifre e os devore. Cuspo mil letrinhas que saem de mim como tempestade de areia, fazem tornado no ar, e se junta todo outra vez, só que agora volta a ser homem só que homem degustado, deglutado, transformado.
Poemas vivos aos meus olhos de mulher.
Poemas tortos algumas vezes, mas mesmo assim poemas.
Os homens somente são poemas. Somente poemas.

4 comentários:

Marina F. disse...

ô sua vaca, tava do lado de casa!
saudades, muitas.
bjs.

Tatiana disse...

ai, quanto amor em uma única frase...hahah
eu sei, querida. mas vc merece atenção integral!

figbatera disse...

Puxa, Tatiana, que texto inspirado. Apesar de falar de homens, gostei muito desse seu momento de grande sensibilidade.
Abração deste seu fã!

Lori disse...

Vale uma letra de música...