segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nërvosa

Semana passada uma aluna minha, uma das mais velhas, já maior de idade,vem me contar que um amigo dela quando viu umas fotos minhas no orkut perguntou quem eu era.
Ela explicou que eu era a professora de canto e que eu era meio maluca (!). Incrível como o povo usa "doida" e "maluca" pra me definir. Óbvio que me revolto porque eu não como coco nem rasgo dinheiro, e isso sim é uma boa definição de falta de sanidade. Talvez eu aceite que eu seja um tanto, com posso dizer...expansiva? Isso, sou expansiva e não regulo muito as minhas felicidades e meus entusiasmos e pelo jeito isso não é lá muito normal. Normal é ter cara de cu, não ter excessos de alegria nem picos de irritação, nem falar na lata o que se passa na cabeça, não ter coragem de chorar na frente de todo mundo vendo um filme lindo de morrer. Ser normal é ser assim. Linear. Explico tanto a eles que isso não é ser maluco. Que dar aulas com um peruca roxa tem uma utilidade pedagógica muito complexa, quebra a relação professor que sabe tudo e aluno que não sabe nada. Que obrigar todo mundo dançar samba até suar é imprescindível para se "entender" o que é samba, o que é mexer com o corpo através do ritmo. Não dá pra ouvir samba sem batucar ou sacudir a cabeça. Tem que "sentir". Que alguns exercícios que fazemos em sala de aula são ótimos para a formação de um artista. Pode parecer estranho você ficar de cabeça para baixo, se equilibrando com os pés apontados para o teto, mas isso é ótimo para desenvolver equilíbrio, concentração e aumentar a auto-estima, já que é bem foda ficar de ponta cabeça sem cair. Quem consegue se equilibrar venceu uma limitação e essa é uma sensação maravilhosa. Todas as coisas que eu faço na sala de aula tem uma razão de ser. É só me perguntar que eu explico. Não é maluquice. Vai ver que é por isso que meus alunos, com as dificuldades típicas do vocabulário da adolescencia, usarem demais as palavras "maluca" e "doida". Não é culpa deles, coitados. É uma limitação linguística.
Voltando ao tema... ela disse que eu era a professora dela, que eu era um tanto " expansiva", que eu cantava e tocava na noite, que eu tinha um blog. E ele olhando cada uma das fotos que eu fiz com a Juliana Hilal em uma aula de iluminação dela. Coisa artística, meio peladona, uns pedaços de costas de fora, umas coxas, mas nada assim, indecente. Instigante, eu diria, mas jamais vulgar. Tanto que deixei no orkut. Foto artística, sabe??
Aí o mocinho solta a frase:
-Virge Maria, coroa nërvosa, hein?
Nërvosa com trema mesmo, com aquele sotaque do interior de São Paulo, bem puxado.
Minha alna me contou isso morrendo de rir e eu quase que tive um ataque de riso porque já me chamaram de muitas coisas, mas coroa "nërvosa" foi a primeira vez.
Dei a aula toda usando esse novo adjetivo.
Gente, ouçam com atenção a Elza Soares cantando. Ela é uma cantora "nërvosa".
Olha o tamborim desta música. Tamborim "nërvoso", minha gente.
Vamos fazer uma seleção de sambas e cirandas pra a gente ter uma repertório "nërvoso".
Tudo era "nërvoso"!
Agora quando eu preciso definir o som do novo cd é esse o adjetivo que uso.
Meus queridos, faremos um som "nërvoso", com as percussões e o baixo na frente, batendo no peito mesmo.
A banda?? Nossa , a banda é nërvosa, viu?
Tá vendo como existe uma troca entre as gerações?
Eu ensino eles a descabelarem e eles me ensinam a usar adjetivos novos, adjetivos... "nërvosos".
Que todos tenham uma semana "nërvosa" ( com sotaque caipira) porque eu tô que tô "nërvosa"

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