terça-feira, 3 de março de 2009

" Hipopótamo na cristaleira"

Ouvi isso já faz muitos anos e não esqueço. Foi dirigido a mim! Eu, que me achava uma pessoa muito delicada quando me dirigia às outras pessoas, estava me deparando com o que as pessoas viam em mim.
Choquei.
O que seria um hipopótamo na cristaleira?
Alguém que sai derrubando tudo. No meu caso específico, aquela que diz na lata o que os outros não esperavam ouvir. Alguém sem delicadeza. Alguém sem cuidado. Alguém sem tato.
Eu não me via assim.
Mas não era possível que todo mundo estivesse errado e eu certa. É, talvez eu fosse um pouquinho direta demais e nem todo mundo tem a casca grossa que eu tenho. Algumas pessoas magoam com as coisas que eu digo. Mas eu não falo querendo magoar, falo com essa boca grande que me foi dada quando a pessoa me dá intimidade. Minha frase é: não me dê intimidade se não aguenta o tranco.
Mas eu me esforço até hoje para ser mais delicada. Nem sempre consigo, é verdade, mas eu realmente me esforço.
Mas às vezes algumas frases saltam de minha boca, antes mesmo que eu perceba que pensei em alguma coisa. Simplesmente, saem.
Estava eu lá vendo as fotos da criancinha. A primeira foto dá pra ver. Ai, realmente muito lindo. Bunitinho. A segunda foto é a mesma coisa. A criança é fofa mesmo. A terceira foto já tá me dando no saco. Na quarta, a frase saiu. " Desculpa, mas não tô a fim de ver foto de criança fofa. Não tenho saco pra criança fofa. Criança fofa, só as minhas. Pior que isso, só assistir video de casamento, de parto, de batizado. Puta coisa chata do caralho!".
Falei. Ops. Saiu. Vi a magoazinha ali, escorrendo pelos cantinhos. É óbvio que não era só eu que estava achando aquele negócio de ver foto de sobrinho um saco, mas EU falei. Eu verbalizei.
Pude ver o hipopótamo de saia de bolinha dançando salsa na cristaleira.

Então eu quero deixar aqui, bem registradinho, que todas as pessoas que passam por minha vida de forma mais próxima, aquelas que sentam na minha cozinha, que entram no meu quarto, sentam em minha cama, que dividem comigo suas mazelas, seus sofrimentos, que tomam meu café, elas tem meu carinho. Têm um carinho conquistado por alguma razão, senão não estariam em minha casa, em minha vida.
Sim, sou um rinoceronte, um hipopótamo, um mastodonte, mas sou isso tudo procurando ser verdadeira, dizer o que penso e, acima de tudo, procuro ser uma pessoa que faça alguma diferença, que ajude, que colabore.
Nem sempre consigo, eu sei. Mas eu to aqui tentando. Tentando ser melhor, mais doce, menos abrupta, mais terna.
O que eu posso fazer se a estupidez me salta aos olhos?
O que eu posso fazer se o povo levanta a bola pra levar uma raquetada na cabeça?
Não me dê intimidade, não falei?
Eu sei que eu sou foda, mas sou foda amorosa, saca? Não falo pra derrubar, pra deixar no chão. Falo pra acordar, pra sacudir, pra ajudar.
E se eu desço a mão, na intimidade, protego até o último instante em público. Eu posso falar porque, de alguma forma, conquistei o direito e o dever de poder falar com sinceridade total.
Se eu não puder falar assim, se for demais, se doer, me avise que eu me calo. Não me incomodo de ficar em silêncio, só ouvindo ( se for por pouco tempo, é bom esclarecer).
Eu percebo meu avanço nestes anos todos de trabalho interno. Estou melhor, e´verdade, mas ainda fico toda assanhada quando vejo uma cristaleira.
Perdão...mas parece que o mundo é todo feito de cristal e vidro. Não é fácil pra mim transitar por ele.
Eu me esforço, mas sempre causo estragos.

9 comentários:

Sandra Maria disse...

Querida! Se voce fosse diferente eu não seria sua amiga. Desce a mão mas, também defende a gente como um pitbull enlouquecido.

Carô disse...

Tinha também o exu-arranca-toco, lembra? Mas sim, às vezes você quebra a cristaleira, arranca a orelha e escalpela com amor taurino, geralmente quando a gente tá precisando exatamente disso. Franqueza à flor da pele, o melhor aconchego pra quem quer uma amiga *mesmo*. Adoro, assim.

Claudia Lyra disse...

Tatiana, ser franca e leal é uma raridade. Quem não aprecia isso em você, sinceramente, gosta mesmo é de "cócegas nos ouvidos". Mas entendo quando você diz que busca a delicadeza, porque sou um pouco (?!?!?) assim também. Quando vejo, já dei um toco na pessoa que... olha...

Tatiana disse...

Morena!

Você pode, né?

Ju Hilal disse...

Ô querida, passar a mão na cabeça não ajuda a ninguém.
A gente sai até torta da sua cozinha mas com um monte de coisa certa para pensar. Não precisa mudar não, quem te conhece e senta no banquinho de madeira já sabe o que vem por aí.
E adora.
Beijo

Sandra Maria disse...

Deixe-me pensar que estou causando ....está me fazendo bem!!!!
Mas, não me deixe ficar ridícula, hein!

Beijos

Tatiana disse...

Carô.
Eu não sou amis exu-ranca toco, né?
sou só um hipotótamo na cristaleira!

Tatiana disse...

Claudia
To te aguardando aqui pra a gente juntas as " ternuras"
hahahhaha

Anônimo disse...

Você pode se julgar do jeito que quiser, mas isso de mostrar fotos ou videos das crianças, da viagem, do parto, do casamento, das férias, ou do cacete-a-quatro, deveria haver uma lei contra, com punição severa para quem se metesse a besta, como açoites e sodomização em praça pública, por exemplo.
Quem sabe esse seu gesto não engrendra uma reação coletiva de repúdio a essa aberração comportamental que começa com "vamos ver as fotos da crianças?!..." acompanhada de um sorriso desproporcional? e, sem esperar resposta, já abrindo o álbum de 5 mil fotos.
Deixo aqui todo o meu apoio a sua reação. Foi de hipopótamo? Pois então sejamos hipopótamos. A partir de agora como capim no fundo do rio.