quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Saudade de quem não sei quem é

Saudade de você que nunca vi.
Saudade e medo.
Saudade e falta.

Uma urgência daquela risada que me amolece as pernas. Daquele traquejo que me faz rir. Daquela estupidez leve dos apaixonados. De piadas infames e conversas mudas. Do quente e do úmido. Da lã e do linho.
Saudade de suas mãos silenciosas e de seus olhos estridentes.
Saudade do gosto adormecido de baixo da minha língua.
Saudade das sombras, das curvas, dos pelos, as muitas texturas. Da seda e do couro.
Saudade do dorso luminoso, escorregadio e lânguido. Indecente.
Saudade do sal e do mel. Excesso.
Saudade de lascívia-ciranda, do canto-luxúria. Murmúrios, sussurros, sonetos, sinfonias. Zuada, ruído...silêncio.
Saudade e medo.

E se passa por mim e não te reconheço?
E se se disfarça de qualquer outro e eu não veja, não sinta, não trema?
Logo você que é mistério, segredos e futuro.
Logo você que me espera, distraído assim, como cão dormindo na tarde morna, no chão de barro. Um passo. Um jeito. Levanta as orelhas, cafunga no vento e me sinta. Meu cheiro no teu nariz. Arrepia as costas. Atiça os poros. Me reconheça e salte em mim. Balança o rabo. Saltita, agarra minha saia, rosne, se só assim eu der por mim, rosne, morda, marque. Me lamba os dedos até que eu ronrone e adoce. Deite nos pés até que eu pare. Suspire.
Aguarde que eu chego.

Saudade do que não vivi.
Saudade de você.
Saudade dói mansamente como noite que nasce.

Um comentário:

Anônimo disse...

Affff...
sem palavras.
Lindo mesmo Tatiana