sábado, 1 de novembro de 2008

meu coraçõa treme

Hoje teve apresentação do Cantanças lá em Sampa. Como sempre, entrei na van e só sabia que era em São Paulo em uma escola.
Quando chegamos lá, dei de cara com um escola repleta de crianças em cadeiras de roda. Ninguém me avisou. Aliás, ninguém sabia.
Puta merda, por essa eu não esperava. Tá tudo certo. Mexe aqui no final, adapta acolá, na hora que eu chama a criançada pra sambar comigo e invento alguma coisa. Sei lá...dou um jeito.
As crianças entrando. As cadeiras de rodas alinhadas, lado a lado. Eu já sentindo um aperto no peito, um úmido no olho. Caramba! Segura a onda, Tatiana, deixa de viadagem.
Começou o show. Eu canto " se o corpo tá dormindo tá na hora de mexer...dobrando o joelho pra melhor se remexer". Eu achei uma besteira essa frase diante do público que eu tinha. Mas fazer o que? Vambora!
Botei todo o gás que eu tinha pra botar. Cantei com a alma, olhando no olho deles.
No começo eles estavam meio tímidos, meio quietinhos mas conforme o show ia acontecendo eles foram fisgados e entraram na onda. Olhar a carinha deles quando e cantava era lindo. A expressão deles quando entrava um boneco. Eu ria! Eu ria e eles riam. As mães das crianças...ai, as mães das crianças ali rindo junto comigo. Os professores. O olhar deles, a felicidade deles vendo a felicidade da molecada.
Aí chega a hora que e apresento a banda e no final chamo as crianças para sambar junto comigo. Como é que eu chamo criança na cadeira de roda para sambar comigo?
Eu via uma das mães animadíssima. É ela que eu vou pegar. Fui me enfiando entre o público, pulando as cadeiras de rodas, chego na frente dela e convido:
-Dança comigo!
Ela levanta e começa a sambar...
Aí acontece.
Um menininho de uns seis anos que estava bem do meu ladinho me vendo sambar desata a rebolar na cadeira, sambando sentado feito louco. Eu pirei com aquilo! Meu coração encharcou, meu sorriso não cabia e mim, o pessoal enlouqueceu vendo a cena.
Eu em pé no meio da criançada de cadeira de roda e um menininho com um sorriso do tamanho do mundo olhando pra mim e nós dois no maior samba! Ele ria tanto, gente. Quanto mais ele ria mais meu coração amolecia e eu senti vir de dentro de mim uma onda de emoção tão forte que eu balancei.
O som alto das palmas retumbando dentra minha cabeça; e só via a figura dele sorrindo e sambando na sua cadeia de roda. Me abaixei pra dar um beijo estalado naquela bochecha feliz e virei as costas para o público porque e percebi que uma lágrima insistia em sair de mim.
Segurei a onda. Fui até o fim. Acabei o espetáculo e aí, finalmente, desabei.
Chorei arrumando minha amquiagem.
Chorei, com vergonha do meu choro.
Chorei escondida de todo mundo que estava ali.
Me chega a esposa do Bruno, percussionista, chorando tanto quanto eu. Nós duas mães, essa emoção de mãe, duas manteigas derretidas. Chorei ainda mais.
Meti uns óculos na cara e tentei sair mas a criançada veio falar cmigo. Ganhei abraços, beijos, elogios. Ganhei muito mais do que dei.
Ganhei tanto que tinha que sair de mim um pouco daquilo tudo e sentada no meio fio, ao lado da van já, eu simplesmente deixei correr todos os meus choros, válidos ou não.
Chorei copiosamente.Chorei meu choro solitário e só meu.
Chorei como mãe. Como filha. Como artista.
Chorei porque eu não sabia o que fazer com aquilo tudo.
Chorei mas chorei feliz.
Chorei por ter feito uma diferença.
Chorei porque sou mulher e meu choro é sagrado.
Chorei porque precisei dar vazão a tanto de mim.

Nem preciso dizer que estou mexida com isso tudo.
Nem sei explicar direito.
Só sei que me sinto uma pessoa melhor agora.
Pode ser que amanhã eu volte a ser oque sempre fui, mas hoje, agora, eu sou uma pessoa que fez alguma coisa importante.
Minha coisa importante.
Tem que agradecer, né?

9 comentários:

Ju Hilal disse...

Lindo Tati. Lindo.
Tô toda emocionada aqui.
Esse projeto é fantástico.
Saudade docê.
Beijocas

Anônimo disse...

Olá :)
O Blogue dos Manteigas de visita a este espaço :)
Um GRANDE SORRISO :) de Portugal ;)
http://bloteigas.blogspot.com/

N. Calimeris disse...

E as lágrimas me encontraram no seu choro. Chorei também porque lembrei da minha aluna cadeirante, é assim que se chama quem dança com cadeira de rodas. É possível. Essa aluna minha dançava! Projeto de uma professora de ballet da cidade, já vi apresentação de cadeirante, Tati. Agora, você já sabe como vai ser. Perdeu... bem, foi a primeira, agora, não que fique mais fácil, mas, já sabe como fazer e meio o que vai acontecer. Que a força esteja com você!

Claudia Lyra disse...

Ai, Tatiana. Que lindo! Meus olhos ficaram úmidos só de ler seu relato. Deus te abençoe!

Marina F. disse...

Liiiiiiiindo amiga.
Arrasou.
bjs.

Lígia Moreli disse...

Tati
Eu, que estava lá quando tudo aconteceu, fiquei com os olhos encharcados aqui de te ver contar e refazer a cena na minha cabeça. Aquele garoto sambando também me marcou muito.
Belo trabalho que vc está fazendo. Senti o maior orgulho de vc e dos meninos. Lindo mesmo!
Deus te proteja!
Beijos!

Tatiana disse...

Eu to com medo de mim no Boldrini, na quarta. Tô com medo de cair no choro!

Anônimo disse...

É muito lindo tudo isso o que você tem feito pelas crianças... Parabéns pelo belíssimo trabalho, viu?
E essa história... é fantástica!
Força lá no Boldrini... depois conta tudo aqui pra gente, tá?
Beijos, beijos, beijos! Todos os beijos do mundo pra você.
Parabéns!
Mércia

Anônimo disse...

Tatiana eu queria dizer tanta coisa sobre isto mas não dá travou...vc fez uma coisa que poderia ser triste se transformar numa coisa tão linda. O choro foi um presente para lavar tua alma. Beijo
Ninita