terça-feira, 6 de maio de 2008

Eu eo Hino Nacional

CENA 1
Me perguntaram, assim no pá-pum, quanto eu cobrava para cantar o Hino Nacional na abertura das Olimpíadas de uma escola daqui.
E eu sei lá? Nunca cantei o Hino Nacional.
Quanto vale o Hino Nacional? Quanto a Fafá de Belém ganhou? Ou a Elza Soares?
Meus Deus, não tenho a mínima idéia de quanto vale esse trampo em plena segunda-feira.

Comecei a ficar nervosa com essa história. Eu já erro a letra de Feliz Aniversário vai ser uma porra eu cantando o hino nacional!Consigo errar letra lendo!! E ainda eu até hoje eu não entendo nada quase do que é dito no hino, é como cantar em outra língua. Para eu escorregar no lábaro ou impávido colosso é um cisco! E se eu errar a letra do Hino Nacional na frente de um monte de gente, eu passarei muito, muito tempo com uma vergonha danada!

CENA 2
Vamos ver o tom. O original é em mi. Muda pra fá? Pode ser em sol? Ou em lá?
Acabei chegando ao dó, mas o ré também ficaria bom, mas no dó eu posso dar um tom mais dramático e não me esgüelo logo na primeira frase. Fico mais fina.
Comecei a ensaiar. Não faço idéia porque eu estava cantando daquele jeito. Parecia a Piaff, cheia de drama, cheia de força na voz, cheia de viadagem. Parecia uma drag-queen!
Vamos deixar mais sutil.
Tá. Tá bom.
Caramba, porque sempre que chega na parte do Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve, me dá vontade de exagerar na voz e segurar, subir e descer, escorregando da melodia do salveeeeeeeeeeeeeee???
Nossa, em sampa fica ótimo. E em samba-rock? Menino, que coisa boa que ficou! Faz em tango! Em tango é muito engraçado!
Tá certo, tô me desviando do assunto.
Não tem a tradução em português de hoje?
Tem mesmo? Deixa eu ver, vamos pegar na internet.
Puta que pariu, a melodia tá na certo mas essa letra não vai fixar nem fodendo.
Canto lendo. Espero que tenha luz. Se não tiver, fodeu.

CENA 3
Aí eu fui lá e entrei no ginásio repleto de gente. Não estava nervosa. Estava ansiosa. Sabia que eu ia segurar as pontas, sabia que eu saberia fingir e tinha certeza absoluta que não era possível que tivesse um filha da puta que soubesse o hino todinho de cor, então se eu errasse, eu inventava mesmo. Sempre fiz isso com as letras do Chico, Joaquim Osório que me desculpe, eu teria que improvisar.
Concentra, minha filha. Fica aqui e respire.
Tudo escuro e um foco de luz.
Silêncio.
A introdução era o momento que eu podia escorregar por causa da imensa reverberação do ginásio.
Comecei a cantar.
Uma emoção tomando conta de mim.
Eu ouvia o violão atrasado. Me ouvia atrasada! Ouviramviram do Ipirangaanga as margensgengens pláciplacidasdasdas.
Não dá pra seguir o violão. Ugo que se vire. Eu vou na minha e ele que corra atrás.
E eu fui. Cantei o Hino Nacional Brasileiro pela primeira vez na vida. Digo assim, como cantora. Eu tava me sentindo, gente! Tá toda gabola!
Me deu uma emoção cantar o hino do meu país! Eu ver aquela massa de gente, em pé, me ouvindo cantar o hino da nossa pátria, aquilo realmente é uma coisa que eu não vou conseguir esquecer.
Sentia no meu peito um amor, um amor diferente, meio heróico. Fui arrebatada pelo sentimento patriótico mais verdadeiro que eu poderia sentir. Nunca em toda a minha vida eu tive tanto orgulho de ser brasileira, de ser cantora e ser a voz de um povo todo. Cada frase cantada era a frase mais atentamente cantada que eu cantei em toda a minha vida. Nunca disse ó pátria amada com tanto amor e tanta honra!
A música é longa e estamos em um andamento mais lento. Não
Quando canto a última palavra, BRASIL, a multidão aplaude e eu sinto uma imensa vontade de chorar.
Recebo o olhar que foi o maior elogio que uma cantora pode receber.
E saio sorrindo porque não errei nem uma palavrinha.
Gente, eu consegui!


9 comentários:

Anônimo disse...

hahahahh ri muito lendo todas as cenas. Mas me ficou em C mesmo?
Muito bom!
Bjs

Tatiana disse...

Ficou.
Mas eu poderia ter cantando em ré, mas eua chei que em ré baixava em mim uma Piaff Tupiniquim meio bicha...tive que me controlar

Unknown disse...

Não há honra maior na vida. O mais perto que cheguei for ter sido o escolhido para hastear a Bandeira no colégio.

Lord Broken Pottery disse...

Tatiana, querida,
Podia ficar aqui escrevendo um tempão. Eu detesto esse hino. Primeiro não é hino, é marcha, segundo a letra é ruim, o poeta era mau poeta, terceiro é longo demais, dá até vergonha. Até nisso a gente tem azar, nem hino direito a gente tem. Tenho certeza, porém, que você melhorou muito essa porcaria. Já vi você cantar ao vivo e em cores. Tenho certeza que esse hinozinho, com você, ficou quase tão bonito quanto o dos franceses.
Beijo enorme

Anônimo disse...

Tatiana, vou falar de uma coisa que tem a ver e ao mesmo tempo não tem nada a ver com isso... Por que será que a gente fala em mulher mal-amada, mas não fala em homem mal-amado? Será pelo mesmo motivo da palavra histeria? No início dos estudos de Freud, acreditava-se que este mal acometia apenas as mulheres. Hoje em dia fala-se em histeria masculina - e até coletiva! Mas homem mal-amado... E olha que tem um monte por aí!
Beijos pra você!

Tatiana disse...

Bruno
Eu fiquei tão emcoionada. E me lembrei muito de você!!!

Tatiana disse...

Lord
Eu acho a letra confusa.
Mas a melodia eu acho bonita.
E é uma coisa muito forte você cantar o hino do seu país.
Marcou!

Tatiana disse...

Danny
Antigamente eram os homens que escreviam os tratados de saúde, que eram as autoridades dobre todos os assuntos.
Não dá pra entender a mulher? Histérica.Ponto.
Homem mal amado tem de monte,
Aliás, gente mal amada.
As mazelas da humanidade não escolhem gênero.

A Cronista disse...

Fiquei emocionada!!

Não há, mesmo, honra maior do que cantar o Hino Nacional. Ainda mais com a ternura que vc cantou. Parabéns!