sábado, 12 de abril de 2008

As palavras cruzam o espaço, vão saltitando pelas moléculas sonsas, vão repercutindo, entram em mim, tomam meu corpo e estalam meus ossos.
Eu trinco inteira quando me falas. Meus ossos rangem com o peso da dita palavra . Retumba em mim o teu som.
Meus ossos saltam como pequenos estilhaços de espelho, viram estrelas no céu escuro do meu quarto.
Meus ossos escorrem de mim. Vou virando um punhado de pequenos pedaços de alva luz. Sumo lentamente. Me misturo aos líquidos mundanos.
Viro a massa homogênia e fértil que tudo cola, junta os trincados choros do passado, clareia os sujos e feios, tudo restaura e purifica.
Me transformo em cal e tinta. Cimento e massa.
E crio, para o ventre da palavra dita, para o berço das intenções esquivas, a proteção perfeita.
Faço de mim o muro alto e impenetrável. Cavo poços e alçapões. Crio armadilhas, setas escondidas, trilhas, fossos e dragões.
De mim só sobrou o velho castelo de mil senhas e mil portas. Cadeados velhos e trincas gastas. O tempo vela esse castelo e eu sou, além da torre, sou o vale, sou o céu, sou o cascalho que geme aos nossos pés. Sou a princesa soturna ou ogro que chora. Sou a bruxa e a linha. Sou o encantamento que quebrou o sonho.
E no meio da construção protegida, portal secreto, onde só se vê alturas e pedras que tudo protege , a ponte, a única ponte que liga ao mundo daqui tem encrustadas em cada uma de suas milhões de pequenas pedras, uma única palavra.
Amor.

Um comentário:

Cristiano Gouveia disse...

Lindo!

esse texto parece parceiro do meu último texto no blog calmaria.

saudade!