terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Dia a dia de uma mulher moderna

Acorda as seis e meia, leva filho para escola. Nem dá pra lembrar direito o caminho que fez porque ainda está dormindo. Só que de olhos abertos.
Volta pra casa. Um quintal cheio de bosta de cachorro, plantas para regar, cozinha que parece que foi atacada por gremilins que encheram a cara de água e esculhambaram tudo. Nem um copo limpo nesta merda!
Faz café pra acordar. O gato novo mia escandalosamente. Cadê oleite? Acabou o leite. Miados altíssimos que perturbam qualquer um.
Liga o pc. O quarto também tá uma zona. A cama quebrou de vez. Puta merda, não existe uma cama neste mundo que não quebre? Digitando, percebe que o esmalte tá descascado. tem que fazer. Primeiro lava a louça, depois retoca as unhas.
Acabou a ração dos cachorros. Oba! Meus queridos, hoje é dia de jejum espiritual para elevação do espírito. Jejum faz bem. Limpa!
Ai, tem que fazer a trilha do espetáculo do auto de Natal.
A máquina geme e lava mais uma braçada de roupa. A calcinha nova, vermelha e minúscula, mancha o lençol. Caramba, calcinha que solta tinta é o ó. Podia ter ficado com a periquita vermelhinha, caso suasse demais.
Falta ainda documento para enviar ao sesc. Um desejo real que a OMB exploda e se extinga por todo o sempre.
O msn apita histericamente. "Não vou vou ver, não vou ver se não me distraio."
Vê e se distrai.
O telefone toca. Cadê a agenda? Sim...posso. Posso fazer. Quanto? Quando? Onde?
Fechado. Liga pro outro músico pra confirmar. Pode? Ótimo.
Estende roupa. Retira a roupa. A roupa lavada se acumula em um torre imensa. Cai tudo no chão em cima do gato que é soterrado e mia, abafadamente. Deixa o gato lá. Melhor. Mais silêncio.
Almoço?
Marmita.
Pega o carro. Pega filho. Um calor do cacete.
Tem que gravar a canção final do espetáculo. Ai, ficou linda! Gostou? Fechou? Manda por email para a diretora.
O pneu tá se desfazendo.
Filho saltita pelo corredor e tropeça. Uma peça de argila cai na sua cabeça. Ele berra no chão. Sangue escorre pra todo o lado. Caramba, um pontinho, será? Ah, deixa pra lá. Tá parando de sangrar.Passa pano no chão pra limpar o sangue. Sangue no banheiro.
Uma vontade imensa de chorar.
O msn apita.
Cadê você? O que? Doente? Tá com febre? Não? Então tem condições de ir para o ensaio do auto de Natal. Eu passo aí pra te pegar.
Mãe...perdi o livro de ciências...Sai pra pegar livro emprestado e tirar xerox. São Herodes. Esse é o cara! Não pode bater, né? Não pode matar, né? tem que educar...
Pega a Dom Pedro. Engarrafamento em plena sete horas. Chegam quarenta minutos atrasados.
Ensaio. Uma loucura.
Volta pra casa mais tarde do que imaginava.
A cabeça borbulha de idéias. A casa borbulha de serviço.
Tem que acabar a trilha. Quinze vinhetas musicais.
Não, meu bem. Tem que gravar agora mesmo. Grava deitado que o mic pega. Mas que putaquepariu! Cala a boca, cachorrada, tá vazando na gravação!
Duas da matina.
Acabou a criação e a gravação de todas as vinhetas.
A cozinha, misteriosamente, bagunça outra vez.
Três da matina. Manda email pra diretora do espetáculo. Nada de anexar os arquivos de mp3.
Três e meia. Deita. A cama quebrada faz deslizar e é obrigada a dormir colada, nesse calor da porra. Ventilador quebrado.
Gato pula e quer porque quer dormir no pescoço.
Põe pra fora do quarto e ele reclama, em mi bemol.
Acorda as seis e meia.
Leva o filho para a escola.Nem dá pra lembrar direito o caminho que fez porque ainda está dormindo. Só que de olhos abertos.
E assim mais um dia começa.

2 comentários:

Anônimo disse...

querida, sei bem do que fala.
sei bem.
sofre, mas ama. E cria.
E sorri.
Isso é o que importa.
bjs.

Claudia Lyra disse...

Tati, mas a gente conseguiria viver diferente?