terça-feira, 7 de agosto de 2007

Eu e meus peitos

Percebi um pequeno desnível. Nem dei bola. Continuei levando a vida do mesmo jeito.
Outro dia passei a mão no banho e senti ele. Um caroçinho no meu seio direito, próximo da axila.
Aí a coisa bateu.
Bateu um cagaço da porra. Um medo imenso de morrer e deixar meus filhos aqui, sem mim. Medo de não acabar o que eu comecei. Medo de morrer mesmo.
Medo. Muito medo.
É claro que a lógica me manda fazer as coisas da forma certa. Procurar um médico, mostrar as tetas, ver se o que é o tal caroço, se é uma forma de displasia mamária ou se é uma coisa mais séria. E só assim aliviar-se completamente ou se cagar toda.
Mas não é tão fácil parecer calma, e manter a cabeça no lugar quando uma dúvida dessa bate à porta. Tá me dando uma vontade de chorar medonha. A garganta fecha e é agora que não consigo comer mesmo. Nervoso. Tensão. Mais medo.
Mas eu sei quais são os passos a dar.
Primeiro, ir ao médico.
Já fui. A médica apalpou os peitchos, me disse que tinha a impressão que poderia ser a displasia mesmo, era uma massinha amorfa, sem contornos. O que me fez crer que aquilo que tem contorno é que é a grande merda, logo, se eu to descontornada, eu posso deixar de ficar descontrolada e manter minha calma.
A segunda coisa. Lidar com a histeria que se abate em mim. Aplacar o ataque de pensamentos mórbidos onde eu já me vejo no caixão, completamente careca, o fundo roxo do cetim barato destoando completamente do batom vermelho que colocaram em mim. Os meninos, todos melequentos chorando e balbuciando madrecita, madrecita - com sotaque mexicano mesmo. Uma cena medonha, eu sei. Esses pensamentos não ajudam em nada, realmente, mas é quase incontrolável. Controlar a minha mente. Controlar a minha mente. Eu sou um poço de controle e paz. Eu, mergulhada na mais profunda onda de cor verde curativa e calmante. Eu metendo dez lexotan no cu. Calmérrima!
Terceira coisa. Não fazer drama. Não tratar o fato como um tabu, ai meu Deus, ficar sussurrando pelos cantos ou ficar fazendo segredo.
Lidar com a realidade. É um fato. Tem um negócio esquisito no meu peito e eu to me cagando de medo.
Ponto.
Esse negócio esquisito pode ser malígno. Ponto. Um ponto bem desagradável, mas é assim mesmo. Pode ser maligno. E se for, eu até que acho que não é, mas se for, eu tenho que encarar de frente e ver logo esta porra.
Como também pode não ser, não é? Aí eu encho a cara de coca-cola e agradeço aos céus.
A mamografia está marcada e daqui a pouco me chamam para fazer esse exame.
E por que to abrindo meu coração dessa forma?
Porque eu sou assim, preciso botar pra fora, preciso vomitar. Alivia.
E já conto pra todo mundo de uma vez e evito a cena da noite anterior, eu agarrada no braço de meu amigo, me acabando de chorar. Ele agarrado em mim como se eu já estivesse moribunda. E eu não tô. Aliás, muito pelo contrário. Vivíssima. Tanto que posso fazer uma drama mexicano na cozinha de minha casa. Só quem tá vivo faz drama mexicano. Eu era a Manoela Patrícia e ele era o Maurício Guilherme, protagonistas na novela da seis. Mas é que essas coisas vão se alastrando, contamina a gente! Faltou pouco para eu chorar enquanto organizava o meu próprio enterro e fazia a partilha dos bens. Tal música para um, a outra música para o outro. O violão para lá, o outro violão para cá. Um drama desnecessário. Se eu falo assim, diretamente, a coisa perde a força e eu lido melhor com ela.
E também porque eu li que a maioria das mulheres não faz o auto-exame de mama por medo do que vai achar. E , por causa disso, muitas perdem a mama ou morrem mesmo por ser tarde demais para tratamento.
Tenha coragem, mulher! Mete a mão aí nos peitos logo depois da menstruação, porque o peito não tá inchado, e deslize os dedos. Sinta. Sinta seu corpo e enfrente o bicho-papão.
Eu fiz isso.
Tô bem mais calma depois de passar pela médica, mas ainda falta o exame que toda mulher ao completar 40 anos tem que fazer. A tal da mamografia. Ela. A mamografia.
Se vai me apertar as tetas, pelo menos diz que me ama, vai...
É isso.
Agradeço imensamente aos meus amigos que seguraram a minha onda ontem e hoje.
Agradeço o abraço mexicano.
Agradeço todos os "putaquepariu" e " caralho, Tatiana" que eu ouvi.
Agradeço a canção-oração.
Agradeço o café no muro.
Agradeço as palavras de coragem.
Agradeço a cumplicidade.

Eita semaninha fudida essa!

16 comentários:

Sandra Maria disse...

Amigo, de verdade, é como casamento, na alegria e na tristeza.Na saúde e na doença.
Bjs

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Tatiana,

Você fez a coisa certa. É muito melhor ir logo ao médico do que entrar em neuras. Mas entrar em neuras é inevitével. Sei disso.

Há algum tempo fui fazer o meu exame anual de prevenção de câncer de próstata. Aquele mesmo, em que o médico, com um olhar meio sacana, enfia o dedo no meu cu. E aí, como se isso não bastasse, ele me olha e diz, já sem nenhuma sacanagem no olhar, que tinha alguma coisa estranha. Que aliada ao valor alto de algum índice no meu exame de sangue, podia indicar a possibilidade de um tumor.

Aí eu pirei:

- Tem certeza, doutor? Não pode ter se enganado? Não quer checar novamente? Enfia o dedo de novo. Pode enfiar.

Não teve jeito. Marcou uma biópsia e, até chegar a data, fiquei com a cabeça em outro lugar. Não eram mais o trabalho, nem os prazeres, nem mais nada, as minhas prioridades.

Felizmente, o resultado da biópsia foi absolutamente ok (eu ia falar positiva, mas aí seria uma merda) e eu não tenho nada. Mas deu um puta cagaço!

Anônimo disse...

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa

Quem se atreve a me dizer, do que é feita essa Tatiana!?

Beijos!

Tatiana disse...

Arnaldo,
Um cagaço da porra!
É isso mesmo.
Mas to aqui esperando e na paz. Realmente na paz. Vamos nos preocupar na hora certa e somente se for necessário.
Não to a fim de ganhar rugas e fios brancos à toa!
Tudo na sua hora!

Tatiana disse...

Ana,
De carne e osso.
E confesso, na segunda feira, de muita merda, tamanho o cagaço que me deu!
hahahahahhahahahahahahahahhahaah

Anônimo disse...

hahah natural minha cara...
antes o cagaço e a ação, do que a estagnação!
carne e osso e colhões minha filha... pra fazer o que precisa ser feito e ainda publicar consciência pra quem tem falta dela...
um abraço forte e mil beijos!

Claudia Lyra disse...

Ai, Tatiana... já senti isso também. Há dois anos, apareceram uns trecos desses nos meus dois seios... eu resolvi tirar e tive a boa notícia de que não eram malignos.

Ontem fiz uma ultrassom da mama e constatou-se que tenho mais três nódulos do lado direito e dois do lado esquerdo. Sou uma fábrica de nódulos, hehehehe... mas vou ficar na paz... o máximo que pode acontecer é eu entrar na faca de novo, né?

Beijos e força, amiga!!!!

Tatiana disse...

Isso aí, Cláudia.
Manteremos a calma que tudo de ajeita.
Fique formona aí porque eu já to firmona aqui!

anderson.head disse...

bom se eu não tive lido o texto todo falaria para ter calma, mas lendo todo ele, vejo que isso foi fácil pra você. que bom que seguiu todos os passos certinhos...

abraço.

Anônimo disse...

Segura a onda aí...
beijo.
Marina F.

Tatiana disse...

eu vergo, mas não quebro!

Anônimo disse...

Você é uma das mulheres mais fortes que eu já pude conhecer.
Vai segurar essa.
E tem mais!
Uma bruxona como você, sabe o que fazer nesta hora, não é?
Então, faça!

Geo

Anônimo disse...

E não estou falando de você conseguir levantar um butijão de gás na boa!
Impressionante também! Nunca vi uma mulher tão macho, dá até medo!
Lembra quando você chutou a porta lá de casa, com o menininho preso no banheiro? Eu nunca vou me esquecer daquilo! rs
Mas eu falo de força de personalidade. Ah, você sabe do que eu estou falando...nem preciso dizer mais nada.

Anônimo disse...

Eu acredito que vai estar tudo ok com você. De verdade, querida.

Carô disse...

Amore,
Eu sei que não é hora pra naturebices, mas fazer o que se sou assim mesmo? Mamografia é uma merda que há muito foi comprovado que faz mal (se fizesse bem, porque não inventaram a sacografia ou a pintografia? Porque o deles eles não apertam, claro...) - pede um ultrasom pra ginecologista, e se cismar, uma ressonância. E argila, lembra?
Beijos

Tatiana disse...

Hoa lembrança, Carô.
Vou meter os peitos na lama!!!