quarta-feira, 11 de abril de 2007

Meto a colher?

Trabalhei como uma camela. Desde das dez da matina em um evento, saio depois das três, corro para fazer uma venda no centro, volto pra casa, saio outra vez e vou fazer outro atendimento para falar de plano de saúde.
Cansada, fedida, os pés que latejavam, mas estava lá, linda, no salto alto, super profissional. Cabelão penteado, rímel, batom, saia justinha. Fina, meu bem, sempre fina.
Um casal querendo fechar o plano para os filhos. Um casal que tinha se separado e pareciam tão equilibrados. Eu expliquei a promoção do plano, as vantagens, se a mãe indicasse teria um desconto no boleto, e as crianças não pagariam a segunda mensalidade. Tudo de bom. Todos felizes. Todos de acordo com tudo.
Aí a besta aqui resolveu perguntar para quem deveria ir o desconto. Para a mãe que indicou os filhos, ou para o pai que estava pagando.
Aí começou a putaria. A mãe não gostou da idéia de perder o desconto. O pai achou justo, já que ele que iria pagar, ter o desconto.
Eu olhava para um e para o outro e pensava: porque eu não fiquei de boca calada?
-Eu não acho justo eu perder o desconto já que tenho vários problemas financeiros com ele, meu ex - disse ela olhando para mim - Estamos brigando na justiça por causa disso.
- E eu acho que se eu pago, coisa que o juiz não me mandou fazer, eu estou fazendo porque me preocupo com as crianças - ele responde - quem deve ter o desconto sou eu.
Eu só vendo. Ai, ai, ai, vai dar merda isso aqui.
-Mas se você nem paga a porra da pensão!! - berrou ela.
Começou a baixaria.
E eu lá! E eu lá vendo tudo isso.
- Então agora é que eu não pago mesmo! Vou deixar o juiz mandar eu pagar! Quando chegar a ordem judicial! Quando ficar tudo preto no branco!
-Não preciso de você, seu bosta! - ela pegava uma canetinha minha, super chique, e sacudia na cara dele.
Eu pensando: vai meter a caneta no olho dele e eu vou perder a caneta! Que merda! Caneta novinha!
- Bosta? Bosta? Bosta é você e esse seu advogado de merda que te come, sua vagabunda!
Gente, ela dá pro advogado! Que bafon.
E eu só olhando! Minha boca aberta. Aidontibilive no que vejo!
Nessa hora o pau comeu feio. Foi um tal de palavrão pra lá, palavrão pra cá, meus papéis voando da mesa, ele batia na mesa com força, as canetas sacudiam e eu pensando: se ele bater nela eu me meto? Não me meto? O que que eu faço?
Aí quem partiu para a ignorância foi ela! Mandou um dedão na cara dele, minha caneta passou a dois dedinhos do nariz do moço, ele deu um pulão pra trás, eu levei um susto do cacete, e tava cansada, tava fedida, tava de saco cheio, meus pés doiam, eu queria era voltar para casa. Eu vi ele fechar a mão, ficar vernelho como um pimentão maduro. Aí eu me meti.
-Chega! - dei um berrão daqueles que eu dou nos meus filhos, aquele tom de mãe brava, sabe como é? Aquele tom que eu uso quando os cachorros abusam - Parem com isso já!
Bati eu na mesa, fiquei em pé, imensa nos meus saltões olhando eles de cima, o cabelo caindo no mieo da cara, eu meio que desequilibrada nos meus saltos 15, na batida da mesa, derrubei o copo de água que molhou todos os documentos, foi aquela melança da porra, eu tava puta, tava cansada, meus pés doiam, tava precisando de um banho. Eu perdi a linha.
-PAREM!!
Os dois parados, atônitos, me olhando. Eu parada também, levei susto comigo mesma!
-Agora vamos todos sentar, arrumar esta bagunça e pensar com calma. Porque assim não é possível! Eu não tenho nada a ver com esta confusão de vocês, não devia estar aqui ouvindo isso, as crianças não tem nada a ver com isso e pelo jeito, vão ficar sem os planos e isso é imperdoável.
Além, é claro, de eu perder minha venda, o que seria um terror particular. Mas eu não disse isso, mas pensei.
A mulher foi chorar no banheiro.
Eu fui conversar com o pai.
Sim, ela deu pro advogado. Um horror. Mas as crianças, pense nas crianças.
Eu pensando com meus botões. Corno é foda mesmo. Sempre dói, sempre dói. Mas ele tem uma cara de mané. Merecia o corno.
Não eu não acho que ela está tramando alguma sacanagem no banheiro.
Penso eu: arrancar a privada e te jogar na cabeça? Difícil.
Ela volta.
Ele vai pegar o talão de cheque no carro.
Sim, homem é foda, homem quando tem que meter a mão no bolso vira tudo um bando de egoísta. Verdade? Menina, quem diria? Tão novinha assim? Verdade! Dá pra ser filha dele! Homem não fica sozinho muito tempo. Logo, logo se enrosca.
Eu pensando: mulher, com um temperamento ruim como o teu, não sei como ele não virou viado. De trauma!
Os dois juntos.
É gente, separação é sempre muito difícil.
Assim, aqui nessa linhas e rubrica todas as folhas, frente e verso.
Não, eu sei como é que é. Eu também me separei. Muitas vezes, nem te conto. Não, não, eu entendo. Tô ótima. Tá doendo um pouco a mão, mas já, já passa. Não, não obrigada, não quero mais água.
Sim, cheque nominal, por favor. E cruze.
Claro, claro. Desculpe eu também. Achei que fosse virar uma coisa mais séria. Acho que eu estou cansada. Perdão.
Sim, com este recibo já dá para fazer o atendimento no pronto socorro.
Foi por isso que me separei tantas vezes. Eu grito alto e bato forte. Hahahahhahahah. Uma piadinha para aliviar os ânimos.
Rio só.
O recibo tem que ficar com as crianças até o correio mandar as carteirinhas.

Aí começou tudo de novo porque ele não queria que ela ficasse com os recibos, ela dizia que que não ia roubar os recibos porque ela não era ladra, ele respondia que vai saber, né? Vai saber. Ela ficou magoadíssima outra vez e mais uma vez meteu o dedo na cara dele, ele berrando que não ia ter ninguém pra segurar ele se ela enconstasse aquelas mãos imundas nele, ela dizendo que ia dar queixa na delegacia da mulher e eu saí de fininho, bati a porta enquanto os gritos aumentavam a níveis insuportáveis.
E esqueci a porra da caneta novinha lá na mesa. Bosta.
E assim acabou-se mais um dia.
Monotonia?
Jamais.

10 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
E tu ainda esquece a caneta!!!! Não acredito!!! Eu aqui aflita pela caneta!rsrsrs

Tatiana disse...

Fiquei nervosa, né?

Anônimo disse...

perfeito, perfeito. Morri de rir.
Uma amiga me disse que seu sonho de consumo é dar aulas em um orfanato, pra nunca mais ter reunião com pais...rs

Lígia Moreli disse...

Meu Deus, isso dá roteiro de filme tragicômico...ahahahaha. Adorei! Você conta uma história como ninguém. E é LÓGICO que tinha que acontecer esse bafo na tua frente...rs...

Sandra Maria disse...

AHAHAHAHAHAHAHAH
Imagino a cena ... mas, perder a caneta ... Eu voltava lá.

Anônimo disse...

Muito boa, Tatiana. Tá ótima a crônica. A vida é dura, mas é engraçada. Bjs.

Tatiana disse...

Na hora eu não achei engraçado não.
Hoje, contando no escritório o ocorrido, ri tanto que chorei e melequei todo o rímel.
Virou piada mesmo!
Eu acabo me divertindo com estas cosias.

Anônimo disse...

só vc!!!! hahahah
beijo

Anônimo disse...

Hahahahaha ! Muito show ! A caneta vai pro advogado hehehehehe !Isso pode virar um samba de breque que ia ser sucesso !!!!

Talita Brito disse...

Você voltou e a caneta estava lá, certo? Imagine, depois disso tudo, um deles ainda esquecer (ou não) e guardar a caneta na bolsa? (Obs.: Posso colocar um link pro teu blog no meu? - www.contudoeentretanto.blogspot.com)