Três gerações

Eu, beirando quarenta.
A mocinha com seus delicados quinze, dezesseis anos.
E a vó que já tinha virado o Cabo da Boa Esperança.

A Avó diz para a Mocinha:
- Homem não presta. Homem só quer se aproveitar das moças. Moça direita não pode ser oferecida, dada assim.

Mocinha diz:
-Ai, que saco, vó!

Avó continua:
-Mas é a mais pura verdade! Homem não casa com mulher assanhada! Tem que se resguardar, tem que ter mistérios.

Mocinha com aquela cara de tédio, típica da idade.
-Que mistério que nada, vó. Se eu não catar, vem outra e cata.

A Avó olha para mim, como quem pede ajuda.

Eu, esse poço de sabedoria.
- Sei lá, o que dizer. Eu já acho que se ela quer agarrar o mocinho, que agarre. Aproveita agora que eles estão novinhos, porque daqui a pouco vão todos virar viado, ficar meio broxa, ela vai ficar louca para dar e não vai encontrar quem coma, muito mais difícil ainda, quem coma direito! Estes homens estão ficando tudo um bando de neurótico, maluco. E tem mais - disse eu olhando para a avó- dê graças aos céus que ela tá atrás de moço porque agora a moda é ser bi, tua neta bem que podia estar querendo mais é trocar saliva com a mulherada que é muito mais maluca que esses rapazinhos que só querem comer. Deixa a menina! Deixa a menina seguir a natureza. Pelo menos assim você pode, um dia, ter um bisneto.

A Mocinha me olhando, chocada.
A Vó também e me tasca essa:
- Você está uma cínica infame, Tatiana.

Eu? Infame?
Será?