quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Desejá-lo como eu desejo é uma dor que me amarga a boca.
Vê-lo assim, tão acessível, tão a mão e nada pegar, nada sentir é um tipo de solidão abominável.
Seu cheiro entrando em mim.
Seu gosto molhando a minha boca que escorre pedidos e súplicas.
Meus dedos inquietos. Por eles eu desarrumava a ordem e enfiava as unhas, as garras, as mãos inteiras. Me lambuzava toda, enchia meu paladar de sua presença, engolia, sorvia, chupava as sobras grudadas em mim, evitando o desperdício.
Meus olhos não me obedecem e eu tento levar meu foco para outro lugar mas uma fita, um fio, uma ordem me faz ceder e, sem que eu perceba, lá vão eles, fixando no mesmo ponto.Nele.
A lembrança. É a lembrança que me sabota a vontade férrea, já enferrujando de desejo.
Essa memória dele dentro de mim, dissolvendo em mim, grudando em mim, essa memória sádica que me acelera o peito e me treme as mãos.

Quantas vezes gemi sob seu domínio? Nem sei mais. Nem sei.
Quantas vezes fugi do correto e pequei. Sim, pequei com culpa e com vergonha. Pequei pelos meus excessos, pelas repetições, porque uma única vez para mim é pouco. Eu quero mais, muito mais, quero até o instante em que ele suma, acabe em mim, se acabe, até o momento que eu me acabe nele.
Pequei com volúpia, com gula, com avareza, com ira, com todos os pecados que ele me traz. Pequei e pecaria muitas vezes mais.
E agora? O que faço com esse desejo todo?
Finjo que ele não existe, mesmo na presença de seu perfume constante?
Finjo que não é meu, já que todos passam as mãos nele?
O que faço com este pacote imenso de chocolate que me tortura as idéias e me esculhamba o regime?
Não adianta que eu nã dou!
É meu, posso dar um pouquinho para os estranhos, mas ainda é meu.
E nem que seja o último pedaço, quem come sou eu!

2 comentários:

Ana Paula Xavier disse...

MARAVILHOSO!!!!!
sabe q eu tava lendo uma texo porreta sobre desejo....
olha... isso ainda vai acabar em letra.
:)

Clélia Riquino disse...

Acho que esta, tem a ver com você, Tati:

Tanto que aprendi de amor
Fátima Guedes


Tanto que aprendi de amor na vida
E agora descobri
Que não sei nada mais
Força eu fiz pra ter com esse rapaz
Só boa companhia
Hoje eu gosto demais
Sabe que até falta ele me faz
Sabe que eu tentei não compreender
E dei pra relembrar as coisas mais
Pra esquecer

Tanto que aprendi de amor
Tanto, e daí?
Na hora de fugir não me senti capaz
Quero o que me sobra dele em mim
A boa companhia
A vida que ele traz
Força eu fiz, mas já não faço mais
Sei onde me leva essa ilusão
Mas não amar também me tira a paz
E a emoção

Faz tempo que você escreveu este post, mas só agora o relacionei a esta canção, qu'eu adoro!

bjo,
Clé