quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Amor com amor se paga

Eu vivo há muito tempo sozinha, aprendi a me virar sozinha, aprendi a não depender de ninguém, mas eu bem sei que tem horas que precisamos de outras pessoas. Vide curativo na tatuagem nas costas...
E eu eu já precisei demais de meus amigos e até mesmo de estranhos.
Quantos almoços invadi pra filar um rango! Afe, muitos. Quantas pessoas cuidaram de mim, me protegeram, me medicaram, virge, muitas!
Tenho um grande amigo que foi meu irmão mesmo por alguns anos. Ficava em minha casa com meu filho pequeno para que eu pudesse ir tocar e garantir o dinheiro das contas, muitas vezes veio me socorrer, no meio da madrugada, carregando comidinha em uma marmita porque eu estava doente e não tinha condições de cozinhar. E fazia isso por carinho mesmo, por gostar de mim. E não era porque tínhamos alguma coisa além de amizade, de jeito nenhum! Ele tinha a chave de minha casa e tinha autorização para levar as namoradas dele para lá, caso precisasse, e nunca, em momento nenhum abusou de toda essa liberdade.
Não sei o que seria de mim sem essas pessoas.
Como agradecer um homem que fez tanto para mim?
Não tenho como.
Hoje perdemos contato, ele virou um tipo de monge que acorda as três da manhã para meditar, não come nada que seja derivado de animais, não come nada que não tenha sido preparado por ele ou pelas pessoas da mesma religião, fez voto de castidade e de retidão. Perdi contato mas continuo dedicando a ele uma gratidão e um afeto que não tem tamanho.Hoje não encontro mais esse meu amigo tão querido, certamente está em algum retiro meditando e dando sustentação espiritual para esse mundo, em pleno carnaval. Seguiu por um caminho muito diferente do meu, mas me parece muito bem e feliz e isso é o que importa.
Nem sei se ele sabe do tanto que eu tenho para agradecer. Pois foi com ele que a minha sensação de solidão diminuiu e eu não me senti tão desamparada.
Tanto a companhia como a solidão são coisas ilusórias. Nunca estamos totalmente sós nem completamente acompanhados. E tudo é transitório também.

Pensava hoje nisso quando cuidava de meu Parceiro doente, com febre, abalado, vulnerável e frágil. Fazer comida, reiki, chás, preparar medicação, mandar tomar banho, dar maçã, líquido, todas essas coisas que se faz quando cuidamos de alguém dodói. Tudo isso é uma forma de dizer: eu gosto de você, meu querido, conte comigo.
Hoje é ele que me liga pedindo, vem pra cá que eu to mal. Mas ontem fui eu que precisei pedir que muitas pessoas cuidassem de mim. E nunca me senti abandonada.
Um círculo de gentilezas e amor que se fecha e se perpetua. Uma troca natural de afeto.
E eu fico feliz de fazer parte dessa roda.

Então, meu querido, você que brigou comigo, que não entendeu eu preferir cuidar de um amigo doente em vez de sair para última noite de carnaval, que me deixou recados desaforados, puxa vida, nós temos que retribuir sempre o que o mundo nos dá com tanta generosidade. Eu recebi amor e quero retribuir amor. Não era somente esse amigo amado que eu estaria abandonando caso fosse saracotiar atrás dos batuques, mas todos as outras pessoas que deixaram de fazer alguma coisa para cuidar de mim, me ajudar, me socorrer, todas essas pessoas não seriam honradas na minha memória se eu deixasse de cuidar de quem precisa de mim.
Não tenho como diminuir a sua tristeza nem a sua frustação. Posso apagar todos os recados do meu celular, posso relevar a tua irritação, entender sua agressividade, talvez até esse pinguinho de ciúme que você diz não ter, mas eu não posso esquecer que eu já fui auxiliada muitas vezes e que devo devolver o amor que recebi de tantos outros.
E, se eu for deixar o passado de lado, eu sou assim. Não sou de grandes dengos, de alisamento, de tatibitates, expresso meu apreço com coisas que eu posso fazer. De comprar briga dos outros a lavar banheiro. Sou uma pessoa prática e pouco afetuosa, definitivamente não sou tátil, de pegações, então, no momento que eu posso demostrar o quanto eu gosto dos meus amigos queridos, eu simplesmente faço.
Fico triste por ter acabado assim uma coisa que mal começou. Mas não me arrependo um único minuto. Você acaba de chegar e eu já tenho uma história com esse moço que você, sem nunca ter visto, xinga de nomes terríveis (coitado, todo fudido e ainda sendo xingado sem piedade), amaldiçoa e quer, como foi que você falou mesmo? Quer que morra entalado com dez aspirinas e tenha uma overdose de besetacil. Prefiro acreditar que a cachaça fez você dizer asneiras.
Por isso, esquecerei esse último capítulo. Melhor, esquecerei todos os capítulos. Porque se, chegando agora, mostra esse temperamento terrível ( eu bem que sabia que escorpiões morrem com o próprio veneno), tenho até arrepios de imaginar o que poderia fazer se já se sentisse o rei da cocada preta.
Você tem sorte porque eu estou em um momento zen. Se eu não estivesse tão tranqüila e calma, de bem com a vida, eu é que mandaria você meter dez aspirinas no rabo, pegar teu celular que só falta fritar ovo e engolir todinho e mandar você deixar recado desaforado para a sua santa maezinha que deve estar morta de vergonha de ter um filho tão mesquinho, ciumento e boca suja.
A sua sorte é que eu tô muito bem e não faria uma coisas dessas.
E eu acredito mesmo que amor com amor se paga.
Grossura de homem inseguro a gente tem mais que esquecer.

18 comentários:

Sandra Maria disse...

Sou testemunha que, mesmo com esse seu jeitinho, delicado de elefanta, no cio, passeando em uma loja de cristais...sei o quanto você pode ser carinhosa, dedicada e amiga, na hora do vamos ver ...
Bjs

Tatiana disse...

ô, fia...
Elefanta é foda...

Anônimo disse...

Um amigo de valor vale mais do que um homem passageiro.
Queria eu ter uma amiga como você, que cuidasse de mim quando doente, que brigasse por mim, me defendesse, mesmo sem necessidade.
Quem sabe um dia entro para esse rol.
Um abraço fraterno

Rui Lemos, seu quase amigo

rafa disse...

Queria eu poder morrer com meu proprio veneno de escorpiao e nao ter falado as coisas que nao falei pra voce, mas acho que nem todo escorpiao precisa morrer tao cedo com o proprio mel... O tati vc escreve tao bem minha linda e eh uma delicia poder bisbilhotar na sua vida sem precisar arrumar a senha do seu email, depois de mim quem babe, ouvi coisas raras sobre vc haha... que saudade... amiga.

Tatiana disse...

Rafael...
Não sei ao certo quem és.
Mas acho que não gosto de você.
Ou tá meio bêbado, ou tá drogado, ou é mais um maluco.
É..eu tenho amigos com essas características. Pode até ser.
Mas nenhum perderia seu tempo catando senha de e-mail.
Um dia eu ainda acaba tirando esses comentáriso para sempre.

Tatiana disse...

Será que só eu atraio malucos?
Será que eu sou uma maluca também?

Clélia Riquino disse...

Tô contigo, Tati...
bjo,
Clé

Mais simples
José Miguel Wisnik


É sobre-humano amar
'Cê sabe muito bem
É sobre-humano amar, sentir, doer, gozar
Ser feliz
Vê que sou eu quem te diz
Não fique triste assim
É soberano e está em ti querer até
Muito mais

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

Mas deixa tudo e me chama
Eu gosto de te ter
Como se já não fosse a coisa mais humana
Esquecer
É sobre-humano viver
E como não seria?
Sinto que fiz esta canção em parceria
Com você

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

Anônimo disse...

Tati, eu entro todos os dias no seu blog para poder me deliciar com o que escreve, pois eu estou tao longe das pessoas que amo que as vezes me sinto muito perdida, mas ler seu blog me faz muita ilusao, pois me sinto confortada que ainda existam pessoas que creem que a amizade e solidariedade ainda existe dentro de nos....Sorte e beijinhos do outro lado do oceano e qdo queira entre no meu blog as vezes mando algum recado para nossa querida amiga Vivien.

Clélia Riquino disse...

Lembrei-me da Joyce, em seu CD "Revendo amigos":

Revendo amigos
Joyce


Vontade de rever amigos
Os gestos de sempre
A risada em comum
Contando as histórias
E os casos antigos
As músicas novas
Sem moda, sem tempo nenhum

Vontade de rever amigos
Dizer que estou solta na minha prisão
Gritar pras pessoas
Vem cá que eu tô viva
Me tira a tristeza
De dentro do meu coração

Saber quem morreu
Perguntar quem chegou de viagem
Se foi porque quis
Explicar que o amor me pegou de mal jeito
Mas tudo somado, acho que fui feliz

No entanto, cadê meus amigos?
Vai ver que a poeira do tempo levou
A barra da vida tem muitos perigos
E a gente se afasta sem querer
Se esquece sem querer
Se perde dos velhos amigos

Se esquece e se perde dos velhos amigos

Tatiana disse...

Adriana,
Deixe o endereço do teu blog.
Quero ir lá também.

Tatiana disse...

Clélia,
A Zizi canta isso tão lindo!
E já chorei muito ouvindo Joyce...
eta lasquera

Anônimo disse...

Tati meu blog e www.adriana-wonderfullife.blogspot.com

beijinhos do outro lado do oceano

Anônimo disse...

Menina, definitivamente: VOCÊ É LINDA! ÚNICA! UM BAITA MULHERÃO!
Cuide-se. De um escorpião também. Mas que nasceu no Dia de Zumbi (e está aprendendo a se libertar dos "males" do signo)...
Beijos. Mil.
E melhoras pro teu amigo.
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

Seu texto me fez lembrar grandes amigos a quem devo um tanto também... Sempre q posso (e até quando não posso) tbm tento honrar essas pessoas. Nossa, quantas histórias vieram a minha cabeça.
Um abraço.

Vivien Morgato : disse...

Amor com amor se paga. E ponto.;0)

Clélia Riquino disse...

Acho que nunca ouvi com a Zizi. Adoro na voz do Emílio Santiago, no CD da Joyce.

Tatiana disse...

Mais simples...é essa que a Zizi canta lindamente...

Clélia Riquino disse...

Ah, sim... esta, eu conheço com ela, e é, mesmo, linda! Confundi tudo, né?...