quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Pedes e terás. E agora?

Há bem pouco tempo eu disse aos céus que eu estava pronta, que já sentia falta de um namorado, que a farra tava boa mas a hora de aquietar a bunda já vinha se anunciando. Olhei pro alto, fiz as minhas mandingas, minhas rezas e pedi:
-Pode mandar!

Então hoje eu estava em uma fila imensa dentro de uma livraria, não andava nunca aquilo e eu me divertia lendo pedaços de livros expostos, entretida nas minhas leiturinhas fugidias.
Qual foi minha surpresa quando vi dois olhos imensos e pretos me olhando fixo. Fixo mesmo. Eu olhei de volta e os olhos firmaram os meus, sem titubear, sem perder a força. Mas assim, do nada, me aparece o mais lindo sorriso do mundo, tão espontâneo, tão verdadeiramente honesto que eu não resisti e sorri de volta.
Ele veio vindo, sempre sorrindo, ainda me olhando nos olhos e perguntou se eu queria bala. Eu disse que sim e ele repartiu, assim generosamente, a única bala que tinha, peguei minha parte com as pontas dos meus dedos, coloquei na boca e ele ria, ria muito para mim. Ardida, né?- eu disse. Mas é bom, né? - me respondeu.
Ficamos ali, um do lado do outro, assoprando o ar para dentro da boca, para aliviar o ardor da bala dividida, morrendo de rir disso. Rindo muito!
Parou de repente, ficou sério, me olhou dentro do olho e perguntou?
- Você casaria comigo?
-Mas eu acho que é muito cedo pra você falar em casamento! - disse super séria mas achando a coisa mais linda de se ouvir.
-Tá. E namoro? Você namoraria comigo? - não estava a fim de desistir tão fácil. Achei muito impressionante.
Pensei, nem séria, nem rindo. Pensei levando mesmo em consideração o que ele me dizia.
-Sim, meu bem, eu namoraria com você. - aquele constrangimento de quem confessa uma fraqueza.
-Você me espera? - aquele olhar outra vez.
-Espero, espero sim. - me ouvi respondendo mesmo. -E como é que você vai em achar? - uma dúvida real se abateu sobre mim.
-Eu juro que eu te acho.
E eu tive certeza absoluta que ele poderia me achar mesmo.


E foi embora, arrastado, a mão agarrada pela mão da mãe que pedia desculpas pelo filho de cinco anos - ele era tão comunicativo, criança fala cada coisa, não fala? - e lá se foi ele olhando para trás enquanto a mãe o levava para longe. Dois olhos negros imenso me olhando sérios. Um olhar estranho de tão velho.

E eu me sentindo uma donzela aguardando seu amado que partiu.
A bala ardendo ainda na boca.
Me senti a puta no porto, como na canção Jesus Bambino.
Os dedos melados de doce.
Me senti a mulher de Atenas.
Alguém me forçava para frente, andando a fila estática.
Me senti aprisionada nas garras do tempo, presa no vão da ampulheta, sofrendo de excesso de anos e de vida.
O encanto se quebra no instante que sou obrigada a pegar a carteira e pagar a conta.

O que concluo?
Eu cheguei nesse mundo antecipada em 20, 30, 40 anos! Ele só me apareceu agora e como ainda é ingênuo e jovem me pede que eu espere por ele.
Minha alma esperaria, mas meu corpo segue seu curso, resignado e pacífico. Não tenho tempo para esperar tanto, sutilmente desintegro minha casca em função da libertação do espírito. Como uma casca que se quebra libertando a ave.
Irônico, não é?
Muito irônico.
Pedi e recebi.
Só que com pequeno desencontro.
Uma pena.
Mandingarei mais uma vez pedindo uns acertos.
Essa foi por pouco.
Poucos anos.

12 comentários:

Ana Paula Xavier disse...

c sabe q tem um filme ruim de doer com a nicole kidman q fala mais ou menos sobre isso né...
manja esse filmes de sacanagem( maior sacanagem com quem tá vendo)?
poizé... como são essas coisas né?
se o diretor te conhecesse e tivesse lido o q vc escreveu. olha só...tinha feito um puta filme com uma história linda. :)

Tatiana disse...

Sem Fantasia ( Chico Buarque)

Vem meu menino vadio, vem sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia,
que da noite pro dia você não vai crescer
Vem, por favor não me evites,
meu amor, meu convites
Minha dor meu apelos
Vou te envolver nos cabelos,
vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco,
vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah! Eu quero te dizer que o instante de te ver
Custou tanto penar, não vou me arrepender
Só vim te converncer
que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
E quero te contar
das chuvas que apanhei
Das noites que varei
no escuro a te buscar
E quero te mostrar
as marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei,
nas discussões com Deus
E agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus

Tatiana disse...

Eu queria ter feito esta letra.

Anônimo disse...

Oi tatiana,

Quando li o teu post de ontem lembrei-me deste poema do Rui Knopfli

LEMBRANÇAS DO FUTURO

Traz-me lembranças tristes o porvir
mais do que as débeis luzes a jusante
acesas por consentidas saudades

O pranto do homem é o menino perdido
mas a criança que chora na margem
não se chora. Choa o homem:

só os poetas têm lembranças do futuro.

Esse miúdo deve ser poeta!
ciao

Anônimo disse...

Pô. Agora me deu uma vontade dois de que seu blog dure mais uns vinte anos, pra você dizer se encontrou ou não com ele. :)

Vivien Morgato : disse...

Tati, que texto lindo.'0)

Anônimo disse...

Ô, gente, que coisa linda! Meu filho mais velho, quando era bem pequeno, sofreu por conta de um amor assim. Ele superou... mas, por incrível que pareça, a filha da moça que ele tanto amou e que é 14 anos mais nova (hehehe... tem quatro aninhos) é apaixonada pelo meu filho! Será possível tanto desencontro?

Anônimo disse...

Perdi a esperança. Eu ia ficar te esperando pelos próximos 20 anos...agora vc vai ficar esperando o menino...sniff!

Tatiana disse...

Carlos,
deixe de assanhamento, homem!
hahahahhahahah

Anônimo disse...

Tô meio nessa de esperar o tempo trancorrer e entendê-lo sempre distante do que queremos...
Minha filha tem um amor platônico por Chico Burque.Eu tendo dissuadi-la :-Filha o cara tá pra lá de 60 e vc tem 17 aninhos! Saia dessa!
Mas uma verdade me tortura numa voz que vem de muitos, mas unissona e cacofônica:- Entra na na fila filha, entra na fila!
LIRIS LETIERES

Tatiana disse...

hahahah
Líris, uma grande verdade!

Tatiana disse...

Cláudia,
Que coisa é essa?
Que história mais a linda, essa tua...
ironia mais uma vez...