segunda-feira, 19 de junho de 2006

Eu não me lembro muito bem onde ouvi que planta roubada cresce mais bonita e forte, só sei que me sinto um gênio do crime.
Sábado eu fui tocar e durante um dos meus intervalos fui dar uma voltinha na rua já que eu não conhecia uma viva alma.
Qual é a minha surpresa quando vejo, em um beco escondido, um vão de rua, um monte de plantas abandonadas, um amontoado de vaso e folha.
Meus olhos brilharam.
Resolvi que alguma planta eu levaria para casa.
Esperei a noite acabar, a madrugada era fria e não passava ninguém, o vento balançava aquelas coitadinhas, pareciam que estavam tão perdidas, tão sozinhas, coitadas. A luz da cozinha vazava pela janela alta, um fio de luz somente, eu tremia de frio e nervoso.
Me abaixei e observei mais de perto. Não. Esse vaso é grande e seria sacanagem levar uma planta com vaso de barro grande. Essa também não, tá florindo, não é legal mexer em planta florindo.
Achei uma Maria sem Vergonha branquinha, tão formosa e solitária em um velho vaso de plástico. Meu coração batia rápido e a minha vontade era encher meu carro com tudo que estava ali no chão. Já imaginava meii jardim, uma pequena floresta, cheia de plantas surrupiadas na surdina da noite.
Tenho que me abaixar para chegar nela, o salto alto não é muito seguro, balanço bastante, agarro o vaso, estou toda feliz, olho para um lado, para o outro e sinto uma coisa fria andando por minha mão. Uma lagartixa monunmental, deveria ter uns trinta centímetros, não uns dez centímetros, sei lá, devia ser quase um jacaré! Mas eu levei um suto tão grande, mas tão grande que escorreguei por cima do amontoado de planta, meu vaso roubado caiu no chão e quebrou, eu saí de quatro, ai meu Deus, vão me ouvir, vou ser presa por roubar vaso, a porra da lagartixa deve ser um tipo de cão de guarda, quando alguém vem pegar as plantas, ela pula em cima e suga o sangue do ladrão, gruda na jugular!!! Fiquei girando em volta de mim mesma, sacudindo a mão, pulando nervosa, toda arrepiada, porque a bicha poderia ter entrado em mim, sei lá, no meu cabelo, caceta, putaquepariu!!!
Voltei correndo pro carro arrastando um planta toda desmilingüida, a terra caindo do vaso, na corrida pisei torto com o sapato de salto alto e sujei meu pé de lama fedorenta, o vaso virou no tapete e acho que vi uma minhoca se escondendo no vão do banco.
Mas roubei a planta!! Eu trouxe a planta para casa porque um gênio do crime não desiste jamais.
Agora eu tô assim. Por onde passo meus olhos correm nas possibilidades verdes de furto.
Tem uma casa aqui perto que é uma tetéia. Tem um vaso de chifre de veado que está uma beleza. Não quero o vaso, mas quero tirar uma mudinha. O muro parece baixo e o cachorro de lá me ama! A dona da casa é minha amiga também, mas como planta roubada cresce melhor, já estou arquitetando meu próximo assalto.
E dessa vez não serei surpreendida por uma reles lagartixa. Usarei luvas e touca na cabeça!!
Ha ha haha ha ha hahaha ha ( gargalhada diabólica de ladra de plantas)

Um comentário:

Anônimo disse...

Roubar plantas, que gesto lindo. Quem dera todos fossem assim, como você. A natureza e os homens agradeceriam...
Beijos. Cuide-se.
Ronaldo Faria