quinta-feira, 16 de março de 2006


BOÊMIOS ETÍLICOS. UMA REALIDADE.

Trabalho na noite há muitos anos.
É realmente uma vida inteirinha entre mesas, boêmios, garçons, palcos, banquinhos, gerentes e com tanto tempo de noite, a gente começa a desenvolver um certo instinto especial fruto da experiência e da necessidade de sobrevivência mesmo.
Por exemplo, eu não posso beber quando canto. Cresci ouvindo que fiofó de bêbado não tem dono e isso ficou no meu subconsciente. A imagem de uma cantora bêbada caída pelos cantos de um bar e uma fila de marmanjo tarado atrás dela é por demais deprimente para mim, mas eu já dei minhas escorregadas.
Quando cheguei em Campinas, vindo direto da Bahia, morria de frio e alguém me falou que não existia nada melhor que destilado para dar uma esquentada na voz e no corpo. A anta aqui, nova e besta, caiu na conversa. Tomei umas duas doses da tal da Gabriela (cachaça, cravo e canela) e até hoje não entendo como acabei presa de baixo daquela mesa do bar, simplesmente fui escorregando, escorregando e pensava enquanto caía ai, meu pai do céu, fiofó de bêbado não tem dono, não tem dono e minha mente embriagada só pensava em manter o cardápio protegendo meu traseiro e ninguém entendia nada porque que eu queria segurar um cardápio perto da bunda!!!
Um vexame, mas aprendi a lição. E descobri também que destilado é um veneno para voz, desidrata, resseca. Senti isso na pele quando tive um problema nas cordas vocais. Para molhar a garganta, só água mesmo!
Mas nem todo mundo segue essa cartilha e o que mais se vê em bar é bêbado mesmo. Vi tantos que fiz uma classificação.

Amorosos - São aqueles que conforme o índice de álcool aumenta na cabeça, o amor cresce no peito. Diz que te considera demais, que você é a mulher da vida dele, quer porque quer dar a chave do carro dele como prova de amor. Compra o balde inteiro daquelas rosas vendidas em bar e diz bem alto, pra todo mundo ouvir, que te ama! Pode no outro dia não te reconhecer, mas hoje, naquela note, te ama loucamente.

Valentes-Quando bêbados arranjam brigas com todo mundo. Tá olhando pra quem? O que que foi? Vai encarar? Esses acabam sendo retirados do local por seguranças. E um fato engraçado. Na maioria das vezes são baixinhos.

Os chorões – Quando ouvem aquela música linda que você está tocando caem em choro compulsivo, de dar longos suspiros, gemidos e fungadas bem escatológicas. Sem razão aparente. Choram porque precisam e ponto final. Já fiquei meia hora com uma dona chorando no meu ombro e pedindo pra eu cantar upa neguinho na estrada. Vai entender.

Os eróticos- Diferentes dos românticos, estes querem mesmo é traçar a carne não estão nem aí para a alma. Te olham com olhos cobiçosos, a boca baba, parecem um leão rugindo para você. Mas se passar uma moça mais bonita, mais gostosa, mais fácil, não pensam duas vezes em mudar a rota de seu ataque. O balde da cerveja jogado nas partes pudentas acalma. Mas por pouco tempo.

Os filósofos- Estes falam, falam, falam, apertam o braço da gente, são capazes de passar horas conversando sobre a importância da vodka na revolução russa ou sobre a relação entre os palitinhos japoneses e o zen budismo. Se não tiver ninguém pra ouvir, aí eles ficam muito solitários. Não são os mais chatos, mas quando são muito eloqüentes podem ser um tanto cansativos.

Os cantores – Esses são aqueles que quando estão um pouco altos, soltam a voz na estrada. Quando cantam a mesma música que a gente ta cantando, tudo bem. Mas já passei um bom tempo tendo que agüentar um maluco que cantava boleros aos berros durante minhas apresentações. E no final aplaudia. No final da música dele, é claro.

Mas confesso que muitas noites foram alegradas por algum bêbado mais soltinho, divertido e engraçado. Já presenciei performances dignas de arrancar gargalhadas homéricas, cheias de bom humor e alto astral.
Mas mesmo assim prefiro me lembrar do velho ditado da minha sábia mãezinha:
FIOFÓ DE BÊBADO NÃO TEM DONO.
Como eu preso o meu e sei que não tenho resistência para álcool, prefiro ficar só observando.
Se você não tiver certeza em que classificação você se enquadra quando toma umas a mais, pergunte a seu garçom amigo. Ele pode revelar um lado seu que você nem se dava conta que tinha.
Quem tem coragem para isso?

5 comentários:

Anônimo disse...

acho que eu sou mais do tipo amoroso... rs...
aliás, eu já disse que te considero demais? pô, eu te amo!!!!
dá um beijinho aqui!

Anônimo disse...

Conseguiu vender ontem?
Quanto ao dito acima, depende do dia. Só nunca briguei.
Cuide-se
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

meus porres nem são etílicos, tirando o vinho que é mais educa a gente que qualquer outra coisa, encho a cara com doses mais sutis, nada em excesso, mas tudo dentro do meu limite, o meu limite que é um não-limite já que transcendo ás vezes como quando desperto de um baque tremendo com um livro entre as mãos sem saber como vim parar ali naquele instante de completa inquietação.

Anônimo disse...

olá minha irmã pelo jeito vc vai em pouco tempo lançar um livro de contos...

vc esta barbara

luz

Anônimo disse...

com licença de invadir esse seu espaço, mas não poderia deixar de agradecer pelas boas gargalhadas com esse texto....
Adorei!