quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Rezei um brigadeiro hoje.
A cada mexida com a colher de pau, a massa marron, linda e lustrosa, issa se modificando e eu ia sussurrando para ela e ela me respondia, borbulhas quentes, toda feliz por ser alquimia.
Pedi amor, pedi risada, pedi carinho, pedi fé, pedi força, a panela era o ventre do mundo e eu pedia pra mãe-panela que desse para todo mundo que comesse o meu brigadeiro aquilo que eu pedia, que ficassemos assim, prenhes de todos os meus desejos.
Um olho no fogão e o outro, pela fresta da porta, paquerava a lua. Pedi para todas as deusas mãe, deusas donas-de-casa, bruxas antigas, feiticeiras velhas com verrugas enormes e mãos de fada, deusas do fogo, deusas cozinheiras. Pedi sem ter vergonha de estar pedindo. Pedi sorrindo. E as folhas da jabuticabeira do jardim batiam mais forte, aquele zum zum zum de vento na árvore. Sim. Elas me ouviam e davam as suas respostas. O mensageiro dos ventos batia seus bambus e eu me ria. Sim. Elas estão aqui.
E uma menininha, com aqueles olhos enormes que olham uma novidade estranhíssima, entendia tudinho, sem eu precisar explicar nada. Porque mesmo dentro de uma menininha, mora uma velha sábia que já viu de tudo e não tem medo daquilo que não entende. E ficamos ali juntas. Ela, a virgem. Eu, a mãe. E a Lua, a velha. As três fazendo brigadeiro, mexendo a panela com a massa marrom borbulhante, fazendo a mais antigas das magias, rindo e trocando olhares cúmplices que só as mulheres sabem dar.
Hoje eu rezei um brigadeiro.
Meus homens comeram meu brigadeiro, o melhor do mundo, sem dúvida, sem saber que comiam um pedaço de alma de mulher.
É esse o meu segredo.

5 comentários:

Anônimo disse...

A propaganda do seu brigadeiro é imbatível. Acho que vale a pena deixar de vender seguros e segurar seu lado mestre-cuca.
A música do brigadeiro também vale, com a natureza sempre a acompanhá-la..
Ronaldo

Anônimo disse...

Ronaldo...
Nem toda noite os aspectos lunares são favoráveis para um brigadeiro desses.
Seria cozinheira bissexta. Ou quase isso.

Anônimo disse...

Lua cheia, repleta lua de chocolates e latidos de cães, faça de si mesma um receituário eterno, para que o açúcar do leite condensado, sendo cozido no fogo baixo, tenha mais tempo para caramelar e o brigadeiro ficar mais puxa-puxa.
Brigadeiro em dia de lua cheia, para quem já viveu sexta-feira 13 no cemitério, literalmente, é uma conjunção real. Logo, faça de toda a lua cheia um mar de brigadeiros.
É isso: Tatiana Brigadeiro's é como cerveja bock! Custa mais caro, é feito para um tempo certo, vira manjar dos deuses da natureza e a receita final ($) dá para garantir os 365 dias do ano, com direito a massagista japonês 24 horas e empregada doméstica.
Bom chocolate procê.
Ronaldo

Anônimo disse...

PutZ! Quanto talento!
FAça uma coletânea de seus melhores textos(como este por exemplo) e dispara pras revistas femininas.No mínimo você ganha leitores, no máximo você descola um bico$$ sussa!

Anônimo disse...

Poxa, foda!!!!...amei esse texto, assim como outros q li aqui mas esse...bah sem comentários...
Parabéns!!!
Se der passo mais vezes por aqui...bjos...