Letras


“Dedo de Moça”, “Ciranda Nossa” e “Peço Licença”, três músicas distintas que se fundem em uma única faixa. Essas canções foram compostas especialmente para o cd porque havia uma necessidade de registrar ritmos dançantes da cultura popular. As cirandas aqui mostradas são híbridas e o ritmo de “Peço Licença” é uma mistura de toques do camdomblé baiano e ijexá.
  
DEDO DE MOÇA

Música -  Tatiana Rocha e Cris Monteiro
Letra- Tatiana Rocha
Violão, piano e percussão.

Ah, tem um tempo e um lugar
Onde aquilo que não foi
Ali será
Ah, tanto tempo a deslizar
Tanto vento há de levar
Poeira no chão
Meu coração
Mosaico de dores e amores
São pedaços da saia da moça que roda
O giro da saia, um colo de moça
ninguém faz voltar
É a gota de sangue vermelho que pinga na terra
Um beijo perdido no dedo da moça
Ninguém faz voltar
Ah, é o cheiro da pele fina, morena, molhada
Rajada de vento, perfume de moça
Ninguém faz voltar
É o brilho da faca cortando as amarras da alma
Ferida na carne,carinho de moça
Ninguém faz voltar

CIRANDA NOSSA
Letra e Música – Tatiana Rocha e Cris Monteiro
Piano e percussão

o sol vai sair pra secar os olhos do meu amor
o sol vai sair pra secar os olhos do meu amor
vai pegar tristeza, fazer ciranda vai vadiá
vai pegar tristeza fazer ciranda vai vadiá
o sol vai sair pra secar os olhos do meu amor
o sol vai sair pra secar os olhos do meu amor
vai deixar na roda, deixar na gira, vai vadiá
vai deixar na roda, deixar na gira, vai vadiá
  
PEÇO LICENÇA
Piano e percussão
Letra e Música – Tatiana Rocha e Cris Monteiro

peço licença pra dançar ciranda
pra tocar luanda pra tocar nação
peço licença pra dançar ciranda
nesse baque de luanda eu também sou marcação

“Reencontro”
“Triceria” com Zé Edu Camargo e Sonekka, compositores do Clube Caiubi de Compositores.
Esta letra nasceu da entrevista que Tatiana fez com Sonekka neste blog, Coisa Rara. Zé Edu assinou a letra e Sonekka exigiu seus créditos. Muito justo.
“Reencontro” mistura timbres e sotaques. Udu, vaso de barro, é a base percussiva, o teclado usa um timbre retrô, muito utilizado na década de 70 e o violão de Tatiana faz a base.

Música – Tatiana Rocha
Letra- Zé Edu Camargo e Sonekka

Violão- Tatiana Rocha
Teclado – Samuel Dexter
Percussão – Cris Monteiro

Você, pra mim  não é só um outro ser outro ser
É parte do que eu sou
Num outro corpo
Outra estrela, outra estrada,  outro astral
Você, pra mim  Não foi acontecer
Só por um acaso um acaso
Você me veio antes veio antes veio antes
Certeza do pecado original
 E a gente junto  é tanto tempo antes tanto tempo antes
Passatempo eterno
Em que o futuro  quer desacontecer,   e desacontecer
Quer se enrolar  no novelo do universo
E o futuro  quer desacontecer,  e desacontecer
E quando a gente  é  dente por dente
Quando eu te olho  Olho no olho
Dá pra ver: A gente já se conhecia
Só faltava o reencontro
 
“Frevo Pimenta” é uma mistura de frevo e samba, toda marcada de complexidades percussivas.
Tem uma  letra claramente influenciada pelo trabalho de Aldir Blanc e Guinga.
Uma música forte e feliz, como são as pimentas.

Música – Tatiana Rocha e Ugo Astro Alves
Letra- Tatiana Rocha

Piano- Samuel Dexter
Percussão - Cris Monteiro

Tem no tempero, o cheiro um gosto, um sal
Vem refogado, mexido, mandinga é a tal
Num remelexo do samba, na salsa,  suingue, maxixe que é bom
Tem sete cores, odores, humores são mil
Dedo de moça, caiena, do reino é tão só
Na malagueta, porreta,
É verde, vermelha, ardida ou em pó

Pra fazer a poeira descer
Para o bem pelo mundo espalhar
Para o olho do homem sorrir
E o beijo da moça roubar

Tem um perfume queixume queimando a vela
Molha o olho, o molho borbulha encorpa
Dá um fogaço, um tesão, um espaço,  fogão de cabo panela
Tem na pimenta que esquenta, a língua chora
Arde na carne, o vento sopra no ar
Bom pro meu peito, pro prato, pro corpo,
pro santo, pro meu paladar
 
“Perdoa” é um samba delicado, com sutilezas harmônicas e rítmicas, onde a cuíca dá o tom triste da canção. Um instrumento é utilizado aqui, mas não sabemos ao certo qual é seu nome porque não temos registro dele. Um tipo de pianola com som parecido com sanfona , mas de madeira, como um minúsculo piano, onde Samuel o toca com uma mão e o teclado com a outra.

Música- Tatiana Rocha, Ugo Castro Alves, Daniel Chaudon
Letra – Tatiana Rocha 

Violão - Tatiana Rocha
Pianola e  teclado- Samuel Dexter
Percussão- Cris Monteiro

Perdoa esse pobre coração
Magoa, faz revanche, erra a mão
Misericórdia é mais que maldição
Pra quem sabe que errou
Brincando com a solidão
Tristeza dói em saber que fez chorar
Aquele que acreditou no sonho e na ilusão
Para falar a verdade
Eu sei que a maldade não quis saber de mim
Foi ingenuidade acreditar que a dor teria fim
Mas não vou chorar, não vou chorar
Eu vou seguindo vou fazendo meu batuque pra me alegrar
Mas não vou chorar, não vou chorar
meu coração perdeu o rumo, se esqueceu e foi se apaixonar
 
“Caatingueira” é um coco, ritmo pernambucano, local que o pai da compositora nasceu.
Era originalmente um baião mas, para esse trabalho, foi transformado para que pudesse mostrar a variedade rítmica da música popular brasileira. O pandeiro é o instrumento que carrega esta canção, juntamente com o piano.
A letra conta uma história ouvida no Capão,  Chapada Diamantina, na Bahia.

Música – Tatiana Rocha e Ugo Castro Alves
Letra- Tatiana Rocha

Piano - Samuel Dexter
Percussão- Cris Monteiro

A caatingueira vai chegar, chegou ( 2X)
Anunciaram do alto da ribanceira
Vai chegar a caatingueira
pra pegar o meu amor
 e corta o rio, sobe a pedra, pisa a terra , vira fera
o sol brilhando, o santo verde já avisou
“vai ter um dia que sonhar é proibido
todo mundo obrigado a ver o mundo numa cor
e solta o grito, e desce a bota e pega a faca
no sertão acostumado vai mudando a tradição
a mão que bate também cheira a cachaça
mas a pobre da fumaça é que sofre a punição
e lá no céu Deus e o Diabo estão cantando
todo mundo festejando a alegria de viver
aqui na terra ainda tem gente discutindo
a loucura do vizinho e se esquecendo de viver
eu vi um anjo na porta do firmamento
uma ema e um jumento fazendo bela canção
dancei com Deus, joguei baralho com São Pedro
achei tudo engraçado e inventei essa canção
“Morte” é fruto de um estudo entre os dois compositores. Essa letra nasceu do projeto   “ Os sete perpétuos”, baseado na história em quadrinho Sandman, o Senhor dos Sonhos. A Morte, uma das perpétuas, foi aqui retratada a partir da expressão que os franceses se referem ao orgasmo, La Petit Mort, a pequena morte. A música foi, então, criada complementando a idéia da letra..

Música – Tatiana Rocha
Letra- Alexandre Lemos 

Piano - SamuelDexter
Percussão - Cris Monteiro

são pequenas mortes  como cortes
entre o sonho e a loucura  da felicidade pura
arqueada de amargura  saciada pela usura 
de manter a noite escura  pra que nada se revele
nem o pelo e nem a pele  nem o nome e nem o rosto só o gosto

são pequenas mortes  mas tão fortes
que parecem outras vidas   só que muito mais doídas
atiradas, atrevidas  lambuzadas, esquecidas
renovadas, repetidas  pra que tudo recomece
feito mantra, feito prece  a um deus misterioso, nosso gozo

são mortes pequenas  são apenas
essas nossas naturezas descobrindo outras belezas
dentro das nossas fraquezas
que mendigam gentilezas e arrebentam as represas
dos desejos mais impuros entre gritos prematuros
e gemidos abafados tão molhados, molhados

dentro de você, meu fim  minha morte sai de mim
sua morte me recebe  pelo tanto que me bebe
nossas mortes de mãos dadas  dividindo as madrugadas
sua morte sendo a minha  quando a minha morte vinha

“Água de Cabaça” é uma canção delicada, uma letra feminina feita especialmente para que Tatiana musicasse e cantasse.

Música – Tatiana Rocha
Letra- Alexandre Lemos

Violão - Tatiana Rocha
Sanfona - Samuel Dexter
Pandeiro.- Cris Monteiro

se você não me abraça  minha vista se embaça
e é como se a água deixasse  a cabaça
escorresse na terra  pedindo a poeira

sem teus braços em mim   nunca mais sou inteira  
se você não me laça   minha hora não passa

e é como se a água deixasse a cabaça
e secasse na pedra escolhendo o deserto
sem teus laços em mim nunca mais me liberto
se você não me caça  minha vida é sem graça
e é como se a água deixasse  a cabaça
e voltasse pro rio  correnteza ao avesso
sem teus dentes em mim  nunca mais me
pra minha desgraça   pulo de cabeça
na sua trapaça   mesmo que  amanheça
mesmo que me faça o que eu não mereça
quando me amordaça   pra que eu não te impeça
quando me ameaça   pra que eu não te esqueça
gosto de cachaça  gozo de condessa
marca de arruaça  sobre a pele espessa
água de cabaça  basta que ofereça
Pedra Bruta” nasceu depois da visitação à Chapada dos Veadeiros, Goiás, durante o festival de Cultura Popular e foi com ela que o conceito do cd nasceu e se firmou: um trabalho que valorizasse a canção, a composição e, ao mesmo  tempo, a força dos ritmos brasileiros e da cultura popular. Um maracatu delicado.

Letra e Música – Tatiana Rocha
Piano- Samuel Dexter
Percussão - Cris Monteiro

tanta poeira do tempo sangrando meu corpo
meu peito habitado
capim invadindo terreno sagrado
tanto carinho amputado nascendo do toco
madeira brotando no meio da rocha
milagre bem vindo voltar a ser bicho
manhã  alvorada
eu fui buscar no alto da cachoeira água doce pra lavar os olhos oh, mãe
meu coração é de pedra bruta que rala e chora
“Chuva de caju” tem o nome de  uma expressão tipicamente pernambucana, trazida aqui pelas mãos de Gilvandro Filho, o letrista.
Musicalmente esta canção é a mais híbrida, misturando acentos nordestinos com levadas mais modernas. A perfeita sincronia da percussão com o piano, instrumento também extremamente percussivo.

Música – Tatiana Rocha e Ugo Castro Alves
Letra- Gilvandro Filho
Piano- Samuel Dexter Gustinelli
Percussão- Cris Monteiro

Eu guardo pra você cada raio de sol 

Sabe-se lá quando vai chover

E se o dia inteiro for de muito sol
Invento uma nuvem só para você
Trarei a chuva breve pro sertão molhar
Farei a alma leve o cinza chumbo a pendurar
um céu chuvoso, na mão aberta, teu peito terra
um chão macio pra eu deitar
Serei a chuva passageira e certa
Que faz chover nos olhos da morena
Assim como o mestre mandou
Assim como o mestre mandou
Direi o verso que o poeta ditou
Para pintar seus olhos de azul
Serei calor e ventania
Prosa ou poesia
Serei vento e maresia

Serei chuva de caju