Um novo eu que eu gosto bastante

Absolutamente focada. Essa sou eu.
Disse que ia parar de fumar e parei.
Disse que iria voltar a manter atividades físicas e estou andando todos os dias, andando de bicicleta, fazendo meu yoguinha, dançando malucamente em minha sala, me alongando junto com os alunos.
Disse que iria tratar minhas plantas e as molho todos os dias mas me recuso a ficar conversando com elas com aquela voz de abestalhada. " Ai, que tá toda bunitinha, tá crescendo, né? Tá buíta, vedinha, gotosa, né?". Acho isso ridículo demais pra mim.
Tenho uma amiga que fala assim coom as plantas e garante que elas amam. Eu duvido veementemente. Acredito que as plantas acham que são tratadas como retardadas , e se eu fosse planta jogava uma semente no olho dela.Ee fosse uma planta carnívora, comia a língua dela. Quem sabe assim calava a boca.
Eu e minhas plantas conversamos sim, mas de forma um pouco mais formal.
Eu digo: e aí?
Elas respondem : Belê.
Pergunto: Vai água?
Elas dizem: " Ô".
E assim a gente se entende muito bem.
As cachorras amam esse novo momento porque eu saio com elas para caminhar na fazenda, já que não acho seguro caminhar por ali sozinha. Somos um bando mesmo e Djembê já começou a nos acompanhar. Levo uma pequena mochila e coloco ele dentro, quando se cansa, e saímos os quatro assim: eu andando acompanhada de duas cachorras e um filhotinho dentro da mochila.
Ali é um local que eu posso perfeitamente andar com minha faca na cintura. Sempre quis andar com faca na cintura e nunca me deixaram. Agora eu posso. Adoraria ter uma facona massa, daquelas do Rambo. Um dia terei, por agora ando com minha faquinha retrátil, singela, porém honesta.
Hoje eu achei que teria que entrar no lago pra salvar Djembê. Ele saiu correndo atrás de Tila, que adora uma água, e caiu no lago. Foi nadando, todo atrapalhado, gemendo, pisando nas plantas. Eu olhando aquilo , preocupada. Tila na mesma hora foi pra perto do pequeno e ajudou ela a sair. Achei linda a cena. As cachorras já cuidam dele como um novo membro do nosso bando e daqui a pouco ele vai crescer e ajudar a tomar conta da casa e de mim. Ele é tão desengonçado quanto Tila e eu e é um caõ perfeito para nossa casa.
Essas caminhadas são ótimas para mim. Coloco a cabeça em ordem, as idéias se ajeitam dentro da cachola e meus olhos se enchem de beleza, verde e paz.
Impressionante que um lugar tão lindo esteja tã perto do centro urbano. Nem falo muito pro povo onde é por puro egoísmo e medo que o povo entre lá e suje tudo. Aliás, amanhã vou lá com uma grande saco de lixo porque tem um monte de sujeira deixada por algum filho da puta porco que bebe cerveja Itaipava em lata e gosta de deixar papel jogado no chão. Amanhã vou lá limpar mas vou brava porque povo porco é fogo de aguentar.
As férias estão chegando e o ritmo de trabalho vai diminuir. Não vou poder viajar por pura falta de grana mas eu queria tanto, me faria tão bem. Estou louca pra acampar, passear por montanhas, cair na água gelada de alguma cachoeira, dar uma de Xena, a rainha das Selvas. Precisava muito de uma overdose de natureza.
Estou calma e equilibrada mas não virei santa. Isso é um fato. Por isso não abuse muito de minha paciência e boa vontade. Eu vejo as pequenas maldades disfarçadas em simpatia, claro que vejo. Tenho uma mistura de piedade e raiva. A piedade vence mas a raiva está aqui, a indignação é que gera a raiva. Penso nisso enquanto ando pelos caminhos de terra e comigo andam muitos. Amigos queridos. Por isso não abuse muito de mim que eu to aqui fazendo um esforço enorme pra evoluir, pra não descer a lenha e foder com tudo. Fique na sua e me deixe na minha. Melhor, né?