quarta-feira, 14 de julho de 2010

chora em meu ombro que eu choro no teu

Ainda me surpreendo quando é a mim que procuram quando a dor aumenta, quando gemem, quando trincam. Logo eu que sou um chão sertanejo, um recital de gemidos engolidos secos, rasgando a garganta, tudo dolorido. Nem chorar junto eu sei, morro de vergonha de minha sensibilidade, de minha falta de força quando meus fungados fogem de mim e viram as esquinas. Até meu carinho é meio bruto, um afago descontrolado que estabana tudo.
O que sei eu para acalentar quem foi traído e chora?
A ponte que me trouxe a pobre menina chorosa e torturada foi as cartas de um tarô que tirei no fim do ano passado. Nenhuma palavra eu me lembro, fora o fato que não é necessário ser nenhuma Madame Mim pra entender que aquela relação é fadada a mudar já que são,praticamente, duas crianças. Que amor é realmente eterno quando se tem dezoito anos? Mas, por outro lado, que amor não é eterno nessa idade?
Aí sinto uma ternura brotando de mim, como plantinha que nasce da pedra bruta, e minha voz de adoça e eu tento ser acalanto, ser doçura, ser cura, ser aquilo que tira a dor e abre um novo caminho, mais cheio de esperança e me acho tão absurdamente canastrona fazendo isso.
Irônico. Nem sei enxugar minhas lágrimas, muitas vezes nem sei nomear a dor que me come e agora olhe eu aqui a distribuir conselhos óbvios, um festival de clichês que causam um resultado instantâneo.

Sabe o que eu nunca te disse, menina? Pelo jeito devia ter dito, com esse meu jeito troglodita de ser... Eu sempre achei teu namorado meio delicado demais pra ser noivo de alguém do sexo feminino. Exato. Isso mesmo, eu sempre achei que seu namorado um dia iria te surpreender.
Surpreendeu, né? Esse papo de " ele se interessou por outra pessoa" é muito chato mesmo. Deixa o moço pra lá e vai curtir a vida, vai experimentar também, vai ver "qualé" que a vida tem pra te mostrar. Chora não porque a gente não manda no coração, ele nem tem culpa de se apaixonou por outra pessoa. Não chora mais porque eu fico sem saber o que fazer, to dirigindo na chuva e você chora tão mansamente, igualzinho a chuva que escorre pelo meu vidro e eu não tenho um parabrisa para seu coração. Nem pro meu.
Chora não, moça, chora não.
Isso, vem aqui, senta aqui do meu lado. Isso, aqui do lado tem mais gente do que você pode imaginar, todo mundo sofrendo com essa dor de cotovelo, todo mundo na mesma barca.
Encosta aqui e chora só mais um pouquinho.
Vai passar. Assim como o amor, a dor também não é eterna. Vai passar.

3 comentários:

N. Calimeris disse...

O amor é eterno. O que passa é a paixão. Quem disse que não sabe acalentar? Suas palavras são doçura. Acalentou minha dor.

Viviane Zion disse...

vai passar... tudo passa.

será?

sou meio troglodita em situações assim tb!

abs

Fernando disse...

Larga de falar besteira, mulher... É justamente por você ser (ou parecer ser)assim que as pessoas te procuram quando doem... Quem foi que eu procurei na minha dor ano passado? Hein? Justamente porque sabia que: 1) Você não é assim porra nenhuma; quem te lê te conhece...
2)Por outro lado, às vezes a gente precisa, no meio da dor, de algo assim mesmo: seco, prático, do tipo "manda essa vaca à merda que ela não te merece, imbecil". É isso... às vezes é isso...