domingo, 21 de fevereiro de 2010

a triste vida de uma senhora de meia idade

Parece fácil, mas não é. Envelhecer requer muito estudo, muito empenho e principalmente muita boa vontade.
Por exemplo, de uma hora para a outras as letrinhas dos potes foram diminuindo, diminuindo e hoje exigem um esforço sobrehumano pra entender que é ácido dodecibenzeno sulfônico que está escrito ali. Chocante! O mundo diminuiu! Fui ao oftalmo com essa reclamação: ou estavam diminuindo as letrinhas ou eu estava ficando cega.
Estava ficando velha - me respondeu o doutor e ainda tentou me consolar, o filho da puta! - Vai ficar charmosérrima de óculos de leitura.
Eu queria meter aquele charme todo no rabo do doutor.
Por que que eu fui querer saber o que tem escrito ali? O que acrescentou na minha vida saber que na cera líquida diluível tem ácido dodecibenzeno sulfônico? Nada e, pior ainda, só me trouxe tristeza e desilusão. Além desse charmoso óculos de leitura vermelho que me deixa a cara da vovó da Chapeuzinho.
Por favor!

De um tempo pra cá, para piorar mais ainda, é um tal de amiga falando de menopausa, que tá chegando a hora da menopausa, que fulana engordou por causa da menopausa. Eu dizendo que era por falta de vergonha na cara mesmo. Come como um desinfeliz, bebe como uma louca. Quero ver se tem mulher menopausada gorda na Etiópia!
Quase apanhei!
Questionei a sagrada certeza que todas mulher engorda na menopausa. Não pode. Entrou na menopausa vai virar gordinha.
Mas eu não fico bem gordinha, eu me prefiro assim, magrinha. Resolvi me antecipar!
O que fiz? Fui pesquisar as posturas de yoga que servem para minimizar os efeitos da madrasta má, a menopausa. Fui ver qualé a da yoga hormonal. Nada mais é do que a pratica de sempre, só que agora você sabe que está ativando aquilo que quer ativar. Ou desativar, não importa. O que importa é a prática, a constância, a determinação na batalha contra osteoporose, os fogaços, a secura vagival, as alterações de humor. Prevenção, essa é a palavra de ordem!
Agora será assim, todo o santo dia, meia hora de yoga, como atividade profilática anti climatério. Minhas glândulas ficaram tinindo, minha pele maravilhosa e eu serei uma cachoeira de tantos fluídos que produzirei.
Estava toda motivada e achei as posturas muitos tranquilas, me empolguei. Resolvi fazer uma coisa que não deve servir pra menopausa nenhuma, mas era legal. A prova que também já devo estar meio lelé da cabeça, esquecendo as coisas que me propus a fazer. A sombra do velho alemão escroto, o tal do Alzheimer.
Cruzar as pernas como os iogues e suspender o corpo todo, as pernas ainda cruzadas, sutentando o peso nos braços. Consegui! Nem acreditei! E acreditei muito menos quando eu simplesmente entalei na postura que não saía de jeito nenhum. Meu pobre joelho podre, meu menisco antigo e bichado, resolver travar e eu fiquei parecendo um boneca quebrada, toda torta, a busanfona gtoda arreganhada e as pernas travadas, gemendo como uma camela, sem ter nenhuma alma pra eu pedir ajuda. Ainda bem, porque o vexame é grande. Quando o menisco destravou sozinho, eu estava exausta.
Mas não morta.
De raiva, fui fazer outra postura dificílima pra mim, uma invertida que só se apoia os ante braços no chão, nem cabeça, nada, só os antebraços. Eu fiz. Fiz quase lindamente se não fosse a dificuldade de manter a estabilidade, já que meus bracinhos tremiam muito e percebi que o chão se aproximava com muita rapidez de minha cara e que eu escorregava no meu próprio suor.
É...não deu pra ficar os "um a dois minutos" recomendados. Despenquei antes e quase perdi os dentes da frente. O que seria perfeito: óculos, bengala e dentadura.
Dentadura seria fácil de acostumar já que estou dormindo com uma placa dentro da boca. Isso tudo para evitar que eu acabe com meus dentes, de tanto bruxismo. E quando eu acordo com o telefone, esqueço que estou de placa e, quando falo, a bicha quase que sai voando, igualzinho aqueles videos de velhinhos perdendo a dentadura. Eu já estou quase perdendo a placa! Meio caminho.
Mas eu não devia reclamar. Ainda estou livre da pior das prisões femininas, a mais cruel mania mundial: a pintura do cabelo e a chapinha.
Ainda sem fios significativamente brancos, uns fiapinhos aqui e acolá e completamente aversa a esses negócios que fritam os miolos. Não faço chapinha! Não pinto cabelo! Não adianta que eu não faço a não ser que não tenha mais jeito. A chapinha eu não entendo. Acho maluquice coletiva. Chapinha não existe para mim.
E quando não tiver mesmo jeito, eu vou pintar o cabelo de azul, cor de abóbora, mechas de mel, cacau, chocolate suíco e queijo mineiro. Sei lá, vou chutar o balde, vou botar pra quebrar!
É... a decrepitude bate à porta.
Daqui a pouco nem percebo mais porque, certamente, ficarei surda.
Um alento.

4 comentários:

Bits & Bytes disse...

Oi!!!

Adorei seu post, você escreve de um jeito super divertido e estiloso! Eu recebi um aviso do google sobre atualizações sobre o terrível tema... menopausa!


Abração aqui do sul da Alemanha,



Verinha Rath

Tatiana disse...

Faz yoga, Verinha!
Cuidado com mos dentes, mas faz yoga que ajuda muito.

Anônimo disse...

O que é "não ter mais jeito"?

Lígia Moreli disse...

Você me mata de rir, Tati. Tenho certeza que tá charmosézima de óculos vermelho.
Beijos!