terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

É. Tô mesmo nesse momento "sinuca, samba e cerveja", nessa exata ordem de prioridades.
Da mesma forma que já tive o momento de pintar vasos e paredes, de furar tudo que via na minha frente com furadeira, de fazer coisas de crochê, de pintar as unhas de vermelho e ter milhares de esmaltes, de sair se metendo em mata, em rio, em cachoeira.
Sou uma mulher movida a paixões.
Hoje minha paixão é a sinuca e pode ser que mês que vem não seja mais. Ainda bem que as paixões mudam. É sempre um vento bom, o vento da paixão nova.
Então, to eu aqui disposta a aprender a jogar aquele negócio. Vou a um bar aqui do bairro chamado Bar dos Amigos. Botecão com as mesas de sinuca mocosadas lá no fundo do bar e é lá que rola os carteados dos mais velhos e tudo é muito respeitoso. Tanto que eu tenho frequentado muito o local.
No primeiro dia que apareci por lá, era dia de samba! Joguei minha sinuquinha ouvindo o som do grupo e curtindo o repertório. Não dava pra ficar de fora dessa brincadeira. Sambei com mulheres desconhecidas e virei amiga de infância de duas delas. Dei uma canja um tanta alteradinha pela euforia da vitória na sinuca e pelas cervejas e isso foi o suficiente pra eu começar a ser chamada pela alcunha de " a cantora".
Eu chego no bar e o dono me recebe: Olha só a cantora! Seja muito bem vinda!
É bom chegar assim em algum lugar. É bom a gente ter um boteco como uma extensão da sala de sua casa onde você pde levar amigos, se divertir e não precisa se preocupar se a mesa está manchando com a garrafa de cerveja, se tem papel no banheiro, não precisa arrumar a sala nem lavar os copos. Um bom boteco é assim: a sala encantada!
Tenho levado algumas pessoas lá e cada dia é um homem diferente porque eu preciso praticar com estilos diferentes. Sem dúvida quando a mulherada invade o fundão da sinuca, o bar acha o máximo porque é uma trupe de mulher de responsa. Acho até que , talvez, isso possa ser uma das razões de eu ser tão bem recebida ali. Levo um monte de mulherão comigo!
Mas agora eu fico aqui pensando se tá pegando mal esse negócio de eu ter esse mundaréu de amigo sinuqueiro. Cada dia com um.
Não, né? O que que tem? É jogo de sinuca! E jogo sério, não tem esse negócio de ficar falando da vida, dos sonhos, do coração. Deixa isso pra depois, para a hora que sentar pra dar aquela descansada, fumar um cigarro, beber uma cerveja. Durante o jogo, o assunto é o jogo. Ou seja, sou moça séria, moça focada no que importa, que é a sinuca. Nada de roupinha curta, decotão, bateção de cabelo. ODe jeito nenhum! Não, senhor. Respeito é bom e eu gosto. E dou.
Não, não acho que esteja pegando mal.
Está engraçado, isso sim.
Domingão eu estava lá. Levei um moço pela primeira vez, chegamos cedo pra dedéu, tudo fominha. Nunca tinha saído com o moço e começamos esse encontro focados no que fomos fazer que era jogar.
Entro no bar, o garçom reconhece, pergunto se tem mesa livre, ele me diz que não tem ninguém lá e que já leva a cerveja, aquelas coisas.
Daqui a pouqinho chega o dono do bar, um cavalheiro com pé de arruda atrás da orelha, a delicadeza em pessoa, fala aquelas coisas bonitas, levanta a minha bola, é só felicidade e gentileza e sai. Some porque sabe sair de cena como tem que saber todo bom dono de bar.
O moço lá, vendo essa coisa toda.
Eu pensando com meus botões: "Puxa vida, foda isso. O cara vai achar que eu sou a maior botequeira desse mundo. Olha só a impressão que estou dando pro moço, logo assim, de cara, na primeira saída. Tô ferrada mesmo. Agora aguenta".
Logo no começo, chega um senhor, bem velho mesmo. Fica encostado na outra mesa vendo a gente jogar durante um tempão. Dá até nervoso. Eu faço aquela cara de mulher aprendendo e ele se toma de amores por minha pessoa. Na primeira oportunidade, fez um comentário, elogia uma jogada. Noutra, me sugere mirar ali, acertar tal da " meia bola". E eu lá sabia o que era meia bola? Nem acerto a bola toda direito já vou querer acertar a meia bola. O senhorzinho se ri todo.
Para ele, de técnico, passar a torcedor foi uma passo. Coitado do moço que estava comigo. Ganhou, de lambuja, uma torcida contra muito da boa!
Quando o parceiro desse senhorzinho chegou para eles poderem jogar a partida deles, bateu o olho na mesa, olhou pra mim, me reconheceu e fez o comentário: " Vacila com ela não que a moça joga bem" , ou algo desse nipe.
Pensei eu : " Agora fudeu de vez! Além do técnico, da trocida, eu tenho um velhaco da sinuca jogando com a psicologia pra cima do moço e ainda assistindo tudo. Ou seja, pressão total no coitado do rapaz".
Resultado da coisa toda porque teve quase cinco horas de sinuca: perdi.
Não culparei a cerveja. O parceiro bebeu bem mais que eu. Não culparei nada nem ninguém além de mim e de saber que tem dia que você tá abençoada, tem dias que é mais um.
Posso garantir que me diverti muito, muito mesmo.
E amanhã irei no mesmo local, com horário marcado, pra jogar sinuca com um moço que nunca vi na vida. Nos conheceremos assim, jogando sinuca.
Tenho certeza que vou me divertir também mas ainda receio que minha fama esteja começando a pesar.
Nada a fazer. Quando eu me apaixono, pulo de cabeça.

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