sábado, 20 de fevereiro de 2010

De repente, me invadiu.
Aquela sensação outra vez. Aquela ternura sonsa, uma nuvem morninha dentro de mim.
Olhei pra ela com carinho, alisei seus fofos, abracei e fiquei pensando.
Nossa, como eu já amei. Amei sem saber que amava, amei me atrapalhando toda, amei cheia de certezas, confundi tesão com amor, carência com amor, amei seca e amei molhada. É sempre bom amar, me sinto viva, me sinto toda coração e sexo, me sinto borbulhante, estrogênios, testosteronas, endorfinas, fico bêbada quando amo.
Já amei azul, aquela coisa meio mansa, meio visita à tia velha.
Já amei rosa choque com laranja, nada a ver.
Já amei preto e branco. Já amei listrinhas, bolinhas, gola rolê, saia rodada, tanque de casa, banco de carro, cheque prédatado, cartão estourado. Já amei, ai meu deus que vergonha, amei à mexicana, holandesa e muitas vezes amei à brasileira.
Amei. Ponto.
E sabe como foi que eu amei você?
Acho que foi uma coisa meio lilás. Eu gosto de lilás apesar de achar que não valoriza a minha pessoa. Lilás com listrinhas. Alguma coisa assim. Lilás com listrinhs e uns rasgo assim na lateral da saia, uma coisa meio selvagem, meio Juma Marruá, meios descabelada com pitadas de abestalhamento, entrega e riso.
Esse meu amor lilás era recheado de um tipo de ternura, aquela suavidade que me falta.
Eu amei em você aquilo que me faltava.
E como te achava bonito. Puta merda, como eu te achava bonito!
Você nunca entendeu muito bem isso, era um mistério, mas era a mais pura verdade.
Eu via tanta beleza e encanto em você. Eu fui encantada mesmo. Um encanto se abateu sobre mim e eu te vi brilhar. Acho até que eu te vi mesmo, de verdade, na sua luz essencial, na sua mais básica vibração. Vi você nu e te achei lindo, lindo demais.
A ironia é que eu vi o "dentro" porque esse sua natureza se revelava na nossa intimidade maior, naqueles momentos que éramos mais que uma dupla, quando você esquecia de fazer linha, de querer impressionar. Eu te amava quando você era só você.
Eu esqueci que também tem amor de alcova. O nosso era meio assim, mocozado, nas internas. Quando o mundo e o resto do povo batia à nossa porta eu perdia o encantado e você, o seu encanto. Você virava o que você tanto trabalhou pra ser. Você era um você diferente e eu não gostava muito dele. O seu " você" social era por demais supérfulo, por demais vaidoso, natural como ki suco. Como é que o povo não via isso? Você in natura era muito, muito mais belo e saboroso do que aquele ser estranho, aquele personagem que você criou.
Para entender esse processo criativo eu inventei uma história. Baseado nas coisas que me contou e, principalmente, nas coisas que nunca me disse, eu fui alinhavando a sua história. Fui explicando suas atitudes. Coitado, ele é assim porque passou muita necessidade. Tem uma natureza completamente elegante, um bom gosto natural e espontâneo. Deve ser terrível nascer assim e viver assado. Traumas. Arranjei muitos traumas pra você e para mim já está tudo explicado. Arranjei a explicação. Teu personagem social é um ser perturbado, fruto de uma sociedade de opressão, cheio de maluquices e necessitando, urgente, de ajuda terapêutica. Detalhe: eu não atendo mais esses casos. Aposentei, lembra?
O que eu sei é que amei a sua luz. Digo isso com orgulho porque eu consegui ver o que tem por debaixo da máscara: o cara que me fazia uma pessoa melhor, o cara que era só suavidade e leveza. Esse outro aí é outro cara e a gente não se curte muito. Divergências demais pra amor de menos, talvez.
De certa forma ainda te amo, para minha irritação, só que não te quero mais. E não quero porque o pacote vem completo, né? Vem você, todo lilás, e vem o outro, aquela coisa medonha, aquela pintura de chimpanzé. Se pudesse separar, ah se pudesse separar. Mas não pode.
Sinto saudade do encantado. Sinto saudade de mim com aquele amor lilás e percebo que os tempos são de outros nuances. Daqui a pouco o outono chega e seu lilás morre de vez. Meu amor morrerá de vez. Outonos podem ser fatais para amores monocromáticos com listras e, como disse antes, essa cor não me valoriza a silhueta, mesmo com as listras.
Triste um fim de amor.
Muito triste.
Mas não quero acabar esse texto nesse tom. Prefiro agradecer, de verdade, do fundo desse meu coração velho de guerra.
É triste e tal mas eu vivi. Vivi e mesmo que o amor morra bem mortinho, eu ainda vou lembrar dele.
Todo amor meu vira história!
Ou música, com um refrão massa que a gente berra bem alto.
Ou textos malucos, cheio de meias verdades e mentiras completas.
Todo amor que eu vivo se mistura em mim e eu fico mais colorida.
Tá bom ou não tá??

4 comentários:

claudia lyra disse...

Tatiana, mulher... esquece. Ando chata e emotiva que só, de tão apaixonada. Verdadeiro pau no cu. Ia fala de quanto me emocionei com o texto blábláblá... mas nem eu me aguento mais.

Tatiana disse...

ahhahahahahahahah
você é ótima, querida.

Kalinde disse...

Me lembrou Paulo Mendes Campos com um texto sobre aquarelas que vira e mexe pinta a minha vida. "O Amor Acaba" demora uma página e tá no Google. Não é mais legal que ler esse blog mas ás vezes cai bem! ; )

beijo!

Tatiana disse...

lindo texto mesmo