sábado, 16 de janeiro de 2010

os males causados pela sinuca

Fui tocar em Americana com um percussionista. Na ida perguntei se jogava sinuca e ele, pra me causar inveja, disse que tinha uma mesa na casa dele mas que já não jogava mais. Enjoou. Fazia muito tempo que não jogava, que tinha chegado a um nível técnico que não encontrava gente pra jogar com ele de forma divertida.
Expliquei a ele que estava querendo aprender e se ele topava jogar comigo porque eu estava precisando praticar. Tinha voltado da turnê me achando, fui jogar com meu filho e, de doze partidas, perdi dez. Ele riu gostoso de mim. Eu me mantive calma porque eu realmente levei uma surra do filhote. Fazer o quê?Eu realmente precisava melhorar.
Na volta para campinas, quase três da manhã, lá fomos nós pra uma casa de sinuca jogar uma partidinha.
Melhor de três.
Ele não era tão bom assim. Percebi logo no começo e fiquei mais calma. Era médio, mas tinha testosterona demais e dava cada cacetada que a bola batia na caçapa e saltava pra fora. Quando conseguia matar ele realmente impressionava porque fazia um barulhão do cacete, cheguei a ficar com medo de receber uma bolada na testa e morrer, traumatizada, mas percebi que essa era a forma dele de fazer pressão e mantive a mesma técnica usada com meu amigo R. Elogiava as jogadas realmente boas e fazia aquela minha cara de " é a coisa mais normal do mundo eu acertar essas bolas" quando nem eu acreditava que estava acertando.
Isso mexeu com ele.
Ganhei a primeira, ele a segunda e na terceira, bem disputada, eu ganhei também. A expressão dele foi uma coisa engraçada e triste a mesmo tempo. Não acreditava naquilo. Não se conformou com aquilo.
Pra mim estava bom, era tarde pra cacete, eu estava cansada, com sono mas ele exigiu alongarmos parta uma melhor de cinco.
Perdi a primeira mas ganhei a segunda. Ou seja, três a dois para mim.
Ganhei outra vez.
Ele já estava ficando fora de si. Perdia bolas óbvias, dava cacetadas assassinas. Tava doido e eu fiquei meio com medo dele. Me olhava já com raiva e me dizia com todas as palavras que ele não acreditava naquilo. Foi lá e pegou mais duas fichas. Quem não acreditou fui eu!
- Então, tá bom - disse eu, malévola - Mas é bom deixar claro aqui que na melhor de cinco EU ganhei e esse jogo aqui não vai mudar isso. Você já perdeu.
Eu acho que estava cansada e por isso fiquei abusada desse jeito.
O jogo começou realmente tenso.O cara ficou maluco. Perdeu o controle total. Começou a dar palpites no meu jogo, discutia comigo as bolas que eu deveria tentar, metia o bedelho toda hora, usava aquele tom de mestre e eu a discípula. falava " veja bem" e "veja bem" é uma coisa que me tira do sério. Isso me irritou, afinal ele estava tomando um pau do cacete. Foi o que eu tive que dizer a ele, cheia de ternura.
-Você está tomando um pau do cacete e devia prestar mais atenção no seu jogo e não no meu. Se você fosse menos grosso acertaria mais bolas.
Parecia que eu tinha metido o dedo no rabo dele. O queixo caiu e ele teve que se calar.
Pra que que eu falei isso?
Aí ferrou de vez. Aí eu fiquei mesmo com medo do cara. Ele é que estava de carro, eu era a carona e sabe se lá como reage um cara quando perde de sinuca quando não esperava.
Perdeu outra vez. Já tinhamos jogado NOVE partidas. NOVE!!!
Não é que ele foi lá e pegou mais uma ficha? A casa já estava fechando, os garçons putos da vida com nós dois ali atrasando a volta deles para casa.
Não teve jeito, tive que jogar. Ele me perguntou com quantas bolas eu queria ficar na mesa quando ele ganhasse. Olha só que falta de delicadeza...Eu disse que queria ficar só com a bola um no final e ganhar outra vez dele, pra não perder o costume. Ele falou alguma coisa de passar por debaixo da mesa e eu não entendi nada porque não vi razão alguma de alguém passar por debaixo da mesa.
Última jogada. Eu com a bola um colada na mesa e ele ainda com a bola oito na caçapa do meio, bem na boca. Eu só conseguiria mater a um se desse uma cagada daquelas. Se não matasse teria que defender, deixando a bola branca em algum lugar que dificultasse a próxima jogada dele. Complicado pra mim essa coisa toda de defesa.
Dei minha tacada, a bola um corre pela mesa, quica aqui, quica acolá, bate na bola dele,ela entra e eu ainda consigo meter a bola branca dentro da caçapa. Ou seja, eu perdi, mas ele não ganhou porque eu é que perdi. Entenderam?
Resultado da comédia: mais um homem em estado deplorável.
Confesso que neste caso não me senti mal em ganhar. Ao contrário, me deu uma satisfação muito da merecida porque ele era muito metido a besta. Foi pedagógico.
Confirmei que eles perdem mais pelo desequilíbrio psicológico do que por qualquer outra coisa. Impressionante.
Agora tenho que dar uma revanche e se eu perder ou ganhar nesse segundo jogo, eu não tô nem aí. O estrago já foi feito e eu ainda posso dizer que deixei ele ganhar pra que ele não ficasse mal como ficou ( e negava, claro).
Vou ter que praticar mais mesmo. Os caras estão ficando nervosos e eu devo levar um cacete daqui a pouco.
Pensando nisso já liguei pro Chiquinho do Pandeiro que é fera na sinuca e vou pedir que ele me dê umas aulas, uns toques porque eu to realmente me preparando. Sei que vou perder feio mas isso é aprendizado. E perde rpro Chiquinho chega a ser chique.
E vou confessar aqui que tem um amigo, um em específico, que eu estou a muito tempo esperando a oportunidade de jogar pra dar um cacete nele. Já paguei muita ficha e muita cerveja para ele porque nunca perdoou aquela máxima : quem perde, paga!
É por isso que eu to treinando.
Me aguarde, meu amigo. Me aguarde que meu espírito é outro.

2 comentários:

claudia lyra disse...

Putz, tá até me dando vontade de aprender a jogar sinuca!

Tatiana disse...

joga, mulher! é ótimo pros braços, alonga as costas, as pernas e é baratinho.