sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

confissões de uma mulher desequilibrada

Campinas, 08 de janeiro de 2010


As reflexões de fim de ano não foram em vão. Refleti tanto que fui ao fundo de mim, ao fundo de algum lugar que eu nem sabia que tinha e lá eu me vi nua.
Me vi sem as armaduras, sem a espada, sem meu elmo, seu meu escudo. Me vi pelada e gritei : O rei está nu!!
Eu.
Como se estivesse me olhando no espelho depois de muito tempo. Desta vez não foquei nas rugas novas, nem nos cabelos brancos, nem nas carnes mais moles e frágeis.
Olhei as marcas, as cicatrizes. Tristes cicatrizes.
Tô toda lenhada, toda sentida, sou uma mapa velho que ainda registra antigas estradas abandonadas e, mesmo assim, sigo perdida.
Não fazia idéia que eu tinha tanta memória na carne e na alma. Mas tenho.
Essas marcas e essa memória submersa é que me fazem calar quando deverfia gritar. Que me fazem dizer meias verdades quando a verdade inteira pode ser a oportunidade para outra cicatriz que eu sei que vai doer até se transformar em traço fino em minha pele.
Descobri que não sou tão forte quanto eu queria acreditar. Perder minha fortaleza, mesma que ilusória, é um choque, é outra perda difícil de administrar.
Me vendo frágil nem eu sei como agir comigo. Como posso dizer como devem lidar comigo se nem eu sei direito do que preciso. Nunca fui fraca, nunca aceitei mimos além do mínimo necessário.
Tô perdida aqui diante de minha súbita fragilidade, absolutamente estupefata comigo mesma.
Mas eu preciso ter a coragem e a dignidade de olhar pra mim e dizer: não, você não pode segurar tudo. Verdade não posso. Não consigo e atualmente nem sei se quero segurar tudo.
De que me adianta carregar todas as minhas dores se elas se esparramam pelo chão e eu tenho que me agachar, me arrastar somente para buscar aquilo que é pesado demais, que eu nunca conseguiria levantar do chão. Me atrapalhei toda carregando fardos demais.
Agora não posso mais.
Largo tudo.
Vejo tudo caindo, rolando pelas ruas, o vento leva de um lado para outro e eu fico ali, parada, pensando que agora fudeu tudo.
Eu to perdida.
Assumo isso pra mim. PERDIDA.
Quem é essa mulher que eu vejo no espelho?
Reconheço ela mas a estranho. Familiar mas ainda assim muito diferente.
Mesmo no meio de minha loucura oarticular sei que tudo é passageiro. Até essa minha fragilidade histérica que me faz chorar vendo filmes ruins, que me faz soluçar como criança abandonada diante de uma música pungente.
Me sinto só. Uma solidão cruel e realista. A realidade me sacode os ombros e eu,soluçando e frágil, não sei pra onde ir.
Por que confesso isso?
Primeiro porque é necessário a coragem para dizer a verdade e assumir a temporária delicadeza e dor que me espeta o coração.
Assumo. Assumo como o alcóolatra tem que assumir que é doente. Assumo aqui, pra mim, pro mundo, que eu não sou a Mulher Maravilha, a Madre Teresa de Calcutá, não sou a Xena, a Xota Cósmica. Sou uma mulher comum que como tantas outras segura a sua vida da forma que consegue.
Hoje eu choro.
Ontem chorei.
Amanhã chorarei, certamente.
Mas agora, nessa instante, eu peço que não abuse de mim. Não me aperte demais. Não me arranhe as ferida. Tá doendo em todos os lugares.
E, pelamordedeus, naõ venha me dizer que vai passar. É óbvio que vai passar. Tudo passa,né? Sei disso. Mas agora o que eu sei eu está doendo. Muito.
Sou uma mulher perdida e totalmente dolorida.
Por isso...delicadeza é o que eu peço.
Eu acho que eu mereço.

7 comentários:

Vivien Morgato : disse...

Vc é uma figura muito intensa, Tati. Tudo é muito, tudo é vibrante.
Acho que é isso que te faz ser a artista incrivel que é...mas isso tb cobra seu preço.
Beijos, saudades.

nana oliveira disse...

Tati,

Era uma vez um belo jardim.Ali conviviam, na maior harmonia,margaridas,begônias,miosótis,petúnias,amores-perfeitos,além de arbustos e folhagens das mais variadas formas e matizes.
Foi no final do inverno,quando as plantas,acordadas de seu sono,prepararam-se para florir,que nasceu ali uma nova planta.Era uma roseira tão jovem que nem ela mesma sabia como seriam suas rosas.
viva as descobertas, e as possibilidades...
beijos,saudades.

figbatera disse...

Receba, então, o abraço e o carinho deste seu amigo!

Tatiana disse...

Obrigada, gente
Fungo docimente.

Luli disse...

Quero te ver, te dar um abraço.
Quando e onde?

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Assumir fraquezas requer tanta coragem que isso acaba te fortalecendo mais. Chorar ajuda. Escrever, também.

aluisio martinns disse...

nada mais bonito que gente de verdade e totalmente humana. admiro quem tem essa coragem de se assumir e de expor como é. tudo que vi aqui foi uma mulher intensa e bonita por isso. gente, gente real, acho isso o ideal. parabéns