segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quando eu me dôo e choro.

Quando deixo a lágrima cair pra fora, até eu me surpreendo. Acostumei a ser cachoeira às avessas. Chego a sentir estalactites salgadas, grudadas no topo de minha cabeça, por dentro, do alto até o fundo do peito, de cada lágrima engolida que se transformou em calo.
Quando eu me dôo assim, parece que cada poro meu inflama. Dói até ferida antiga. Lateja a cicatriz. Aquele berro na minha orelha, aquela luz aguda na minha cara. Dói, porra!
Procuro um beco qualquer, um escuro remanso onde eu possa lacrimejar na paz da auto-comiseração, sem orgulho algum, caída no canto de mim mesma, envergonhada de minha própria humanidade e fraqueza.
Quando eu dôo assim, viro bicho. Arisco. Não sei receber afago quando estou doendo. Qualquer mão de carinho tem um peso por demais insuportável. Me recolho toda. Viro tatu bola. Viro formiga. Viro barata tonta a procura do vão da porta. Viro bicho papão.
Quando eu me dôo toda, tenho raiva. De mim. De você que me fez doer. Tenho raiva da vida. Tenho raiva de Deus. Minha raiva dura o tempo da explosão. Passa e vira poeira. Só me deixa o cansaço da ira.
Hoje eu me doí todinha.
Tava trincadinho e vazou minhas lágrimas todas. Enxurrada de tantas coisas, das saudades, das faltas, das idas, das voltas, dos fins, das mortes. Aproveitei e chorei logo tudo de uma vez. Já to na merda mesmo, vamos aproveitar e colocar o chororô em dia.
Chorei descaradamente.
Chorei blasfemando. Depois baixinho. Depois seco e finalmente voltei a chorar pra dentro.
Uma cachoeira às avessas outra vez.
Um rio que segue pro mar de dentro de mim.
Quando me vi outra vez aguando meu de dentro, dei de cara com você.
E aí, chorei mansinho mas agora foi de saudade e de amor guardado. Chorei te acarinhando os cabelos e sentindo o cheiro que sai deles. Chorei lembrando dos seus dedinhos como minhoquinhas e de seu jeito, espelho de mim mesma. Chorei como quem dá o peito pela primeira vez na vida. Chorei por ter me multiplicado. Chorei dobrado.
Aí cansei de chorar, cozinhei um miojo, tomei café e vim dizer aqui que te amo.
Só para que isso fique pra fora e você possa ver porque eu sei que ainda não sabe olhar além do óbvio.
Não sabe olhar dentro dos olhos das mães.
Ainda não.

Um comentário:

claudia lyra disse...

Ai, puxa... doeu em mim agora só de me imaginar na mesma situação...