domingo, 21 de junho de 2009

Resumo do fim se semana


A Ida
Coisa pra cacete!Quem olhasse nossas coisas do acampamento acharia que estávamos indo viver junto ao MST porque aquilo era uma mudança! A tarde já ia longe e o tempo esfriava. Eita, a noite vai ser fria.
Chegando lá, falaram que poderíamos entrar na trilha de carro para se aproximar mais do local de nosso acampamento.
Tinha um monte de gente, excepcionalmente. Tinha um encontro de escaladores e todos estavam acampados. Nossa clareira já tiha sido separada, eu mesma me certifiquei disso. Reservei espaço e guia para o outro dia.Tá bom, socamos tudo na saveiro, fomos três mulheres espremidas no banco da frente pela estrada a fora. Até que demos de cara com um jipe no sentido contrário. Ferrou de vez!! Não dá pra dar meia volta, não tem espaço!
Aí alguém diz ( eu já tinha reconhecido o jipe)..."eu acho que é o vizinho ótimo". " Onde? Não é possível o ótimo aqui! Puta merda!".
Caramba, era mesmo! Não acredito nisso! Não é possível! Eu tenho que sair do carro pra ajudar a orientar a ré pela trilha. Eu não vou jogar o cabelo de um lado para o outro. "Não, não viemos para o esquema dos escaladores, viemos acampar, fazer comida e tocar violão". Carro dando ré e saindo da estrada e eu lá, piscando tanto os olhinhos que já estava dando câimbra. " Virge Maria, ele é realmente muito ótimo". Alguém berra comigo e eu volto a realidade. Continuo guiando a ré, de costas pra ele, mas faço milhares de caretas e berro de forma muda:
É O VIZINHO ÓTIMO! É O VIZINHO ÓTIMO!
As duas dentro do carro, rachando o bico e não acreditando no que estava acontecendo e me perguntando se eu não tinha armado aquilo.
É óbvio que não!
É só o destino, o destino!

O Rango


Nunca me arrependi tanto por ter a idéia de jerico de fazer meu famoso cozido baiano no acampamento no alto da montanha, na fogueira. Eu sou uma besta, isso sim! Quase cozinhei as canelas no fogo, a fumaça ia em mim o tempo todo, eu mudava de lugar e a diaba vinha bem no meio dos meus olhos. Chorei como uma cabrita de tanta fumaça nos cornos! Deus que me livre, aquele caldeirão imenso, aquela demoooooooooora pra cozinhar, sim, eu sei, forno a lenha é bom, putaque pariu, eu to aqui me defumando, cara!
Os cachorros aparecendo e tentando roubar comida.
O chão do acampaemnto coberto de coisas de cozinha, leitinho, manteiga, queijo, faca, uma esculhambação. Um exagero, um excesso!
Eu não sabia se olhava fogo, panela ou se eu cantava e tocava violão. Toma conhaque. Toma vinho. Ai, acho que caiu uma folha da árvore dentro do caldeirão. Queimo o dedo várias vezes, aquela coisa não cozinhava nunca, to com fome, to com fome, CARALHO, eu também to com fome. O cozido só é cozido se cozinhar, então a coisa não é mais comigo, é com o fogo. Deixe o cozido ser o que é. Cozido.
Tá uma merda aquele cozido.
Nunca mais na minha vida faço isso. Vai todo mundo comer pão de forma com queijinho e cada um que traga de sua casa.
Aprendi.

A Dormida
Como todo acampamento, sempre tem uma mala. Pois o nosso também tinha. Não foi vestido apropriadamente, não tinha porra nenhuma, nem prato, bem barraca, nem cantil, ficou goró, deu trabalho e o escambau. Na hora de dividir as barracas, caiu comigo. Tá certo, justo. Fui eu que convidei, eu que aguente. Pra aprender a deixar se ser besta e bocuda.
Na entrada da barraca, eu digo:
" Ó, rapaz, você não venha de graça pro meu lado que eu vou dormir com a faca na cintura".
Nem precisava falar isso mas não quis perder a força dramática da cena.
Funcionou. Ele disse que facas deixavam ele nervoso. Eu disse que eu nunca faria nada contra ele, se ele não fizesse isso necessário. Ele gemeu.
Instantes antes de todo mundo entrar nas barracas, bem no meio de uma clareira, no alto da montanha, começa o diálogo:
-Tatiana, se eu ficar com medo, eu posso te encoxar? - ele realmente estava com medo.
-Rapaz, que viadagem da porra. Pode vai, mas cala a boca e dorme. E não peida! Tá proibido de peidar dentro da barraca!
Dois segundos depois:
-Tatiana?
-O que foi?
-Eu tenho um pouco de dificuldade de dormir fora de casa, sabe?
-É? Não sabia não, mas agora tenta dormir e cala a boca, tá?
-Tá.

Dois segundos depois:
-Tatiana, você vem sempre acampar aqui?
-Não, é a primeira vez que eu venho aqui.
O cara ficou tenso do meu lado, dava pra sentir o medo tomando conta dele. O cara começou a pirar, entrando em uma viagem doida de bicho, monstro, assassinos loucos. Pirou.
Os bichos eu entendo, porque pode dar medo mesmo porque tem bicho mesmo ali. O monstro vinha da história que eu contei antes pra ver se assustava um menininho de nove anos e assim ver se ele, petrificado de pânico, calava a boca. A minha história justificava o nome do pico que estávamos por causa de cabras trangênicas mutantes com duas carreiras de dentes, como os tubarões, que soltavam uma baba cósmica que viviam antes por ali e foram embora para provar carne humana com outro gosto, e ,quando fora do tal Pico, essas cabras eram conhecidas como o famoso Chupa-Cabras. O chupa-cabras nada mais era do que as cabras mutantes com baba cósmica. Essa foi minha história. O menino não calou a boca e nem se impressionou, mas o moção de 28 anos se impressionou. Deixei o moço impressionado, errei na mão.
Caía uma folhazinha e ele pulava dentro da barraca e vinha se encostando. Um barulho de passo de cachorro e ele quase que tinha um treco. Eu podia ouvir seu coração batendo descompassado de verdade, aquilo não era somente uma frescura. Ele estava mesmo em pânico!
A noite assim. Ele me encoxando, se agarrando em mim e dando pulinho em um colchão inflável de acampamento. Ou seja, ele pulava e eu pulava junto!
Na barraca do lado uma das amigas roncava de um jeito que só assustava ainda mais o moçoilo. Parecia mesmo o chupa-cabras.
-Tatiana, o que é isso, peloamordedeus?
-Rapaz, tente se acalmar, isso aqui é só o ronco da barraca ao lado. Eu to aqui, eu te disse que a faca está aqui dentro, se alguma coisa acontecer eu resolvo. Se acalme! Calma, cara - e eu dava tapinhas nas costas dele. - Fica tranquilo que tem um monte de gente acampada aqui. O povo nao é maluco que estar acampado em um lugar perigo...não tem monstro nenhum...não, meu bem, o cara que cuida aqui do parque não vai vir com o machado matar a gente. Primeiro porque o machado está aqui, nem está na mão dele e ele não é dado a caçar, não está aberta a temporada de caça. Ele parece maluco, mas não é, é só o jeitão dele. Esqueceu que eu tô com a faca? Se alguém aparecer com o machado, eu mato, tá? Fica calmo, viu? Dorme, meu filho, cala a boca e vê se dorme.

No meio da madrugada, um sereno do caralho, quem me acorda porque quer fazer xixi?
-Tatiana, você tem a lanterna? Eu preciso fazer xixi.
Saio do saco de dormir, sento, procuro a lanterna no bolso de baixo, não está, acho no bolso da barraca, ele abre a barraca, me acerta uma cotovelada no nariz, ele pisa na beira do colchão, eu fecho a barraca, entra terra, ele sai pisando pesado. Eu suspiro, resignada.
Ouço lá de fora:
-Tatiana, eu não to conseguindo fazer xixi. Tô meio com medo.
-Eu não vou, nem fudendo, te levar pra fazer xixi, cacete! Você vai querer que eu sacuda também?Mas que viadagem é essa, rapaz! E mija aí, cala a boca e vem dormir.

Silêncio...Silêncio tenso. E se ele, por medo, não fizer xixi lá fora e fizer no meu colchão inflável, dentro da barraca?
-Ah, tá bom, eu te levo pra fazer xixi. Mas que inferno, viu? Homem frouxo da moléstia, seu bosta, seu merda, me dá logo essa porra dessa lanterna e vem comigo. Vergonha, que vergonha, cara!
Puta, mas muito puta da vida! Um frio imenso, uma garoa fria no cucuruto e eu lá, iluminando o matinho pro cara mijar. Eu ouvi um barulho atrás de nós, fui iluminar e ele quase que mija em mim, nervoso porque ficou escuro.
-Não faz isso não, não faz isso não!
Voltamos para a barraca com ele colado às minhas costas. Um encosto.
Entramos na barraca e ele se agarra tanto em mim que eu tenho certeza que nas minhas costas tem as marcas das costelas dele. Ele me espremeu de um jeito, fungava uma fungada de cagaço no meu pescoço, esse moço me encoxou mais do que qualquer homem nessa minha vida tenha imaginado encoxar. Só isso. Encoxava e se borrava todo. Uma noite interinha de encoxação e cagaço crônico histérico de um homão de 28 anos de braços roliços, torneados na academia.
Eu queria dar uma surra nele. Eu queria fazer ali um transplante de culhão, se eu pudesse eu jogava ele do alto dos oitenta metros da pedreira, eu empalava ele com o lenha acesa da fogueira . Mas eu não podia fazer isso. Ele poderia ficar ainda mais apavorado e berrar feito doido e fazer todos os escaladores virem correndo ver o que estva acontecendo, além do V.O. ( Vizinho Ótimo) e os responsáveis pela mata. Um mico generalizado que eu preferi evitar porque eu tenho uma fama a zelar. Eu me preocupo com um vexame desse. Porque eu mereço passar por isso porque eu sou a maior besta bocuda desse universo.
Tive que falar, tive mesmo que fechar a barraca dizendo duro pra ele:
-Cara, que saudade de Madame Satã, viu?
Aquilo sim que era viado macho. Era viado mas era viado macho. Faz uma diferença um negócio desses.
Não dormi porque o donzelo apavorado não deixou. Dei muitos tapinhas tranquilizadores, fiz muita visualização criativa e não dormi porra nenhuma.
Bem feito.


A Caminhada




Era pra ser uma coisa e foi outra. Acabamos nas cavernas. Rastejando para elas, deslizando sobre elas, nos agarrando em pedaços de cipó, ralando muito a bunda, sujando a mão de terra, passando em vãos tão justos que não dava pra carregar nem a mochila. Muitas aranhas. Aranha de perna fininha que não faz mal, aranha-marrom que é um tipo de demônio aracnídeo, até pegadas de jaguatirica vimos.Fomos até onde ninguém foi antes. Quer dizer, fora o guia. Houve momentos que eu pensei que alguém fosse amarelar, não eu, óbvio, que estava felicíssima naquela aventura rústica e cheia de terra. Éramos mesmo as " Cabritas Abiloladas". Tanto que exigi que essa trilha fosse batizado com o nosso nome de guerra. "Trilha das cabritas abiloladas". Um mimo pela nossa coragem e pelo desbravamento.
A pirambeira da volta era realmente puxada. Quase uma hora em subida, sem parar. Foda. Aí meu cajado de caminhada ajudou. Eu morreria seca, mas não seria eu que iria pedir água. Eu era a mais velha do grupo mas também a mais forte. Uma coisa compensava a outra. E além de mim, dois fumantes, inclusive o guia. Era isso que eu pensava pra seguir puxando o ritmo. Eu podia "sentir" o pensamento das outras falando a mesma coisa. EU É QUE NÃO VOU PEDIR PRA PARAR!
Então vamos! Continuamos. O guia, uma cara tranquilérrimo, vendo aquela bufação, a gente quase morta, mas indo rápido porque ninguém iria pedir que diminuísse o ritmo, sugeria que a respiração fosse feita só pelo nariz. Eu já tinha dito no começo da ladeira que nem falassem comigo porque na subida não dá pra ficar de papo. O cajado reduzia o esforço e isso sempre é um puta bônus em uma subida. Eu pensava se seria possível um helicóptero me pegar ali, caso eu tivesse um ataque cardíaco. Morro, mas morro subindo a merda desta ladeira dos infernos!
O guia resolveu o impasse quando sugeriu que parássemos. Pronto. Ninguém amarelou, o guia que pediu. Todas deram um beijo nele e agradecemos. Mas só no pensamento porque a gente não é de dá braço a torcer.
Conseguimos! Fizemos a rota mais fuderosa!
Conseguimos!!
Fomos embora cheia de histórias, mais experiêntes, mais confiantes.
Aprendi que não é à toa que quem acampa leva em consideração o peso das coisas.
Aprendi que mijar no mato, no frio, resfria a bunda e dá um medo do cacete de um bicho vir por trás e ...crau! Xixi faz vaporzinho no frio!
Aprendi que cada um um medo diferente.
Aprendi que alguns esquemas não são pra qualquer um.
Aprendi que uma faca na cintura tem várias utilidades.
Confirmei que essa mulherada é muito massa mesmo, valentes, desemidas, aventureiras, perfeitas.
Uma sensação muito boa no corpo e outra muito boa no espírito. Alguma coisa que pode ser interpretada assim:
- A gente pode!!

Segunda a tarde as milhares de fotos desse evento estarão disponibilizadas em algum lugar. Mais provável no meu orkut.

Tudo valeu. Tudo mesmo!

Esse é meu estado pós enduro.

13 comentários:

N. Calimeris disse...

Nossa! Amiga, este vizinho está no seu destino! Agora, é a hora de agir!!! Amei essa do amigo com medo. Boa aventura essa. Espero mesmo que nosso encontro seja possível e que a Chapada seja uma puta aventura.

Fernando Siqueira disse...

Tati... cê tá escrevendo bem pra cacete!!! Dei muita, mas muuuita risada lendo tudo isso (já sabia por alto, mas "ver" a sua visão das coisas...). Pândego!

Tatiana disse...

Georgiana,
Por isso que eu nã me meto com o destino e fico quieta no meu canto. O destino sabe o que faz!

Tatiana disse...

Fernando,
Agora táengraçado mas na hora...

Marina F. disse...

Menina, que vontade de estar com vcs!
Adorei!
E o nosso projetinho? Vamos?
bjs.

N. Calimeris disse...

Eu te entendo. Às vezes, é melhor mesmo deixar quietinho pq o que é do homem o bicho não come, certo?

Ju Hilal disse...

Ahá!
Eu sabia que você queria pedir água naquela subida!!!!!
Sabia!
Hahahahahaha
As cabritas abiloladas arrasaram! Riram na cara das cobras, das aranhas, das pedras pontudas, dos espinhos espinhudos, das taturanas assassinas, das cabras transgênicas e das subidas infinitas.
Foi bom demais, né?
O bônus foi aquele por do sol....
Beijo

Tatiana disse...

Hilal,
Vai dizer que você estava tranquila naquela subida medonha?
Duvideodó!
Sim, arrasamos!

Ju Hilal disse...

Não, eu NÃO estava tranquila...
Na verdade eu pensava com os meus botões: "será possível que ninguém vai pedir para diminuir o passo?"
E tentava respirar fundo e apoiava no cajado e pensava que aquela subida medonha não ia acabar nunca.
Mas também, com a gripe que eu estava...
Tudo culpa da GRIPE.
rs
Beijos

Sabrina Zahara disse...

To tendo um treco de tanto rir ao ler a cena do cara medroso. Um misto de dó e zoação... Ohhh my! Nao consigo parar de rir, todos que me vêem rindo na frente do computador devem achar que sou louca.....

Tatiana disse...

Sabrina,
Hiej eu rio também, mas na noite...eu queria matar um!

claudia lyra disse...

Tatiana, morro de inveja dessa tua disposição e já estou até pensando em me embrenhar num treco desses. Aqui na minha terra tem umas trilhas dessas no Parque Nacional de Itatiaia e em outros cantos... quem sabe, né?

Tatiana disse...

Cláudia, Vá mesmo, você vai amar. Muda a nossa cara, o nosso astral, a gente conhece um tipo de gente diferente!