sábado, 9 de maio de 2009

O canto

Me perguntaram por que eu canto e eu fiquei aqui a pensar nisso.
Canto porque é necessário.
Necessário pra mim que sou um poço em vias de transbordar e o canto é meu balde salvador, meu escape por onde escorro. Molho, rego, evaporo.
Cantar é ser poço e água ao mesmo tempo. É ser um tipo de nuvem.
Mas, além de mim, canto porque o mundo precisa muito, muito! dessa água toda que se escorre de mim, da minha voz, de meu coração alagado.
Canto porque tem horas que é tanto sofrimento nesse mundo, tanta dor e tragédia, tantos poços trancados de medo e vergolha que aí, nesse instante da mais pura desesperança é a voz, é aquela voz que é minha mas que é tua, é de qualquer um que chore e berre, é aí que a voz que canta é necessária como a água na terra seca e abandonada.
Cantar é ser um pedacinho da misericórdia de Deus, que de tão bom, sabendo talvez de toda tristeza que sempre se baterá sobre os seus, deu ao mundo aqueles que dão a vida a cantar, a escorrer, a rasgar o peito, a molhar os olhos daqueles que esqueceram como se faz ou, quem sabe, estejam tão apavorados diante do precipício de seu próprio peito, fecharam as comportas e simplesmente choram secos sem nem perceber que estão morrendo.
Eu canto pra esses.
Canto porque me dói em cada poro a dor do mundo e eu acabo misturando tudo em mim. Alegrias, sofrimentos, delícias e saudades, farturas e faltas.
Eu canto porque preciso. É preciso. Demais.

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